Capítulo 14

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Megumi

A noite passou calmamente, como se a conversa séria entre Yuji e eu não tivesse deixado sua marca.

Enquanto ele se ocupava em resolver seus afazeres, recebendo ligações aqui e ali sobre o trabalho, além de limpar a bagunça que eu fiz quando recebi visita, não tive escolha a não ser me isolar na varanda, onde podia ver o céu estrelado e pensar sobre tudo, sabendo que nenhuma resposta viria a mim tão cedo.

Diante da minha hesitação em responder à sua pergunta, Yuji captou a mensagem e, com um suspiro resignado, tomou uma decisão madura, erguendo-se da cadeira e me deixando ali mesmo, imerso em uma tempestade de sentimentos.

Não houve discussões dessa vez, tampouco expressões de ódio e desagrado. Diferente da explosão de raiva anterior, desencadeada pelo meu beijo com Nobara, Yuji escolheu lidar com o ciúme de uma forma mais silenciosa, que me torturava sem que precisasse fazer nada.

Sua mudança de comportamento não passou despercebida dos olhares perspicazes de Nescau e Cereal, resultando em brincadeiras unilaterais. Enquanto Cereal trazia a bolinha, Yuji limitava-se a acariciar sua cabeça antes de se afastar. Nescau percebeu a mudança com inteligência e tomou a decisão sábia, preferindo permanecer ao meu lado em vez de competir por atenção.

Infelizmente, eu me via impotente diante dessa dinâmica estranha e amarga.

Era evidente que Cereal preferia Yuji a mim. Afinal, Yuji é como um sol que ilumina nossa casa. E quando esse sol se põe, resta a escuridão.

A minha escuridão.

Meu namorado desaparecido voltou para casa, fez o que tinha pra fazer e dormiu em um quarto separado. De longe, pude ouvir Cereal arranhar sua porta com as patas e chorar um pouco, desejando seu afeto, mas não obteve a atenção que queria.

Yuji não abriu a porta.

Pela primeira vez em 7 meses juntos nesse apartamento, escolhemos ficar distantes um do outro por vontade própria.

Fiquei isolado no banco acolchoado da varanda até por volta das 2h da madrugada, sentindo a brisa fria da noite tocar meu corpo, aliviando um pouco o peso da minha alma.

Nescau dormia tranquilo ao meu lado, com a cabeça apoiada em meu colo. Minha mão deslizava por seu pelo escuro e macio, enquanto a outra segurava meu celular.

Eu encarava o papel de parede com cálculos, questionando-me se devia enviar alguma mensagem a Nobara, que decerto, nesta altura, devia estar ansiosa esperando uma resposta sobre o paradeiro de Yuji.

Mas como contar que ele voltou pra casa nesse estado? Ou pior, como contar que ele não a quer no nosso relacionamento, assim como eu quero?

Bloqueio o celular, desistindo de qualquer desculpa que me venha à mente.

De uma coisa eu sei, é melhor que eu não faça nada por agora.

Mais um passo em falso e eu perco os dois completamente.

Yuji não quer ver Nobara tão cedo. Não depois do que fizemos. Apesar de ela insistir muito em conversar com ele, eu não devo arriscar uma segunda explosão, como aquela que ocorreu no beco em Kabukicho.

Por hora, o melhor caminho seria evitar o contato entre eles dois pessoalmente.

Suspirei, cansado.

Nescau abriu os olhos e virou seu rosto alongado para mim. Em seu olhar escuro e amável, eu sentia como se ele compreendesse cada emoção que me abatia nos últimos dias, sem julgamentos. E estivesse ali para me dar o suporte do qual preciso.

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