Capítulo 18 pt 2

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A Técnica do Desastre (parte 2)

Nobara

Um porto seguro, refúgio que posso voltar sempre que estiver em perigo, um lugar onde não serei julgada pelas minhas decisões ou condenada pelos meus erros. O abraço de Mahito, para mim, funcionava como meu porto seguro. Era acolhedor, gentil e reconfortante. Perto dele, eu não precisava manter a fachada destemida que criei na infância. Eu simplesmente podia ser eu mesma. Desajeitada, descontraída... Sonhadora.

Quando o vi ali, tão perto de mim depois de um mês de ausência, meu coração se agitou dentro do peito. E com uma saudade avassaladora, me agarrei a ele como uma criança, despejando todas as emoções que acumulei durante dias sem contar a ninguém.

Mahito me acolheu com surpresa, sua voz suave e calma refletindo perplexidade diante do meu estado lastimável. A dor se espalhava pelo meu corpo como brasas. Tentei falar, explicar tudo que aconteceu nos mínimos detalhes, porém tudo que saiu foi um lamento arrastado e desconexo de sentido. O único nome que saiu de forma clara foi 'Mahito', uma expressão sincera do meu alívio por tê-lo ali, mesmo que ele parecesse incapaz de compreender isso.

Eu me sentia fraca como nunca.

— Não precisa dizer mais nada. Eu já entendi — Ele murmurou, envolvendo-me com firmeza em seus braços.

Mahito era alto e magro, sempre muito perfumado. Hoje não era exceção. Enquanto eu me agarrava a ele, pude sentir seu aroma amadeirado a qual já estava acostumada. Suas mãos acariciavam minha cabeça como um irmão mais velho faria com sua querida irmã. Ele sabia como me confortar, como me orientar a respirar calmamente e, o mais importante, sabia quando não fazer perguntas que aprofundariam ainda mais minha angústia.

Depois de um tempo chorando todas as minhas dores e desilusões, Mahito permaneceu ali, deslizando os dedos entre meus cabelos, pronunciando palavras gentis como "Vai ficar tudo bem, gatinha... Calma... Pode chorar à vontade... Estou aqui... Hum, que cheirinho gostoso. Qual o xampu que você usou hoje?" A certa altura, ao vê-lo cheirando meu cabelo como um cachorro, arqueei uma sobrancelha, perguntando:

— O que você está fazendo?

— Tentando descobrir quais dos cinco xampus você misturou pra criar esse novo perfume — ele respondeu, abrindo os olhos heterocromáticos que iluminavam minhas noites monótonas. — Deixe-me adivinhar, ervas e... frutas cítricas?

— É de floral! Nós compramos juntos. Lembra?

Mahito abriu a boca em descrença.

— Eu tinha esquecido completamente! Desculpe, Nobie.

Na tentativa de parecer melhor, limpei o rosto, sentindo algo desagradável descer pelo meu nariz. Em contrapartida, Mahito mergulhou a mão no bolso, tirando um lenço que me ofereceu em seguida.

— Quem ainda carrega lenços por aí? — comentei, assoando o nariz com ele.

— Não é um lenço, é a toalha que limpa meus óculos.

Parei e olhei pro tecido com desgosto.

Agora já era.

— Eu vou lavar e te devolver depois.

— Credo! Pode ficar. Aceite como um presente.

Novamente examinei o tecido macio e... nojento. Voltei para ele, mostrando um semblante mais ingênuo.

— Se importa de eu jogar no lixo?

— Me deixe sair da sala antes, pelo menos — disse, aconchegando-se em um banco a minha frente.

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