A Garota Do Outro Lado.

Nova-vida

          O despertador tocava de forma alta, com apitos que machucavam um pouco meus ouvidos e faziam com que eu abrisse meus olhos de forma sonolenta.

Eu estava mais um dia em meu quarto bagunçado, estava severamente escuro e bagunçado, mas isto já não é novidade para mim. Passo a mão sobre meu rosto, e deixo umas risadas escaparem ao lembrar do dia de ontem. Me levanto da cama, suspirando alto e andando quase como cambaleando até meu banheiro. Tenho a mesma visão que sempre tive, ligo a torneira que solta um forte barulho da corrente d'água. Encho minhas duas mãos de água e jogo sobre meu rosto. Saio do banheiro, hoje eu havia acordado com o dia claro, o sol estava bonito apesar da tempestade de ontem. Fico por um tempo encarando a paisagem da janela, e escuto meu celular vibrar debaixo de meu travesseiro. Retiro ele do local, e ligo a tela por um momento.

"Boa tarde Alice Emerson! Recebemos sua inscrição para faculdade, podemos fazer uma ligação para fechar o valor?"

Desligo a tela do meu celular e o coloco sobre minha mesa, sinto Luna se esfregar em meu tornozelo. Me agacho e a pego suavemente, a colocando sobre meu peito enquanto acariciava a mesma.

Escuto a campainha, solto Luna e fico em silêncio para ver se isso não seria somente algum barulho da minha cabeça.

—Tu deverias atender a porta. - Escuto a voz suave de Solene.

—Eu não aguento mais você sendo minha sombra. - Falo suspirando, abro a porta do quarto e começo a descer as escadas.

Conforme descia a voz de minha mãe e de um homem que eu desconheço aumentavam. Ele estava bem vestido e estava com a presença de um outro homem que estava atrás dele, segurando uma câmera grande.

—Claro! Ela deve estar dormindo agora. Irei chamá-la, enquanto isso: sentem-se e se acomodem! Podem ficar a vontade. - Escuto minha mãe falar com os homens e se vira para escada, tomando um breve susto e dando um suspiro.

Ela anda até mim, quase dando pulos de alegria. Estava confusa e meus olhos estavam um pouco fechados por culpa do cansaço.

—É a televisão meu amor! Você é famosa. Vai se arrumar no seu quarto e eu ficarei aqui com eles tudo bem? - Ela fala cochichando e quase me empurrando de volta para o quarto.

Ainda confusa, dou as costas e subo para meu quarto, Solene estava acariciando Luna quando entrei no cômodo.

—Eu acho que vou ser entrevistada. - Falo entrando no banheiro e vendo o quão bagunçado meu cabelo estava.

Molho um pouco minha mão e começo a umedecê-lo, agarro uma escova de cabelo e escuto uma ligação vinda do meu celular.

—Tua faculdade está fazendo uma ligação - Solene diz.

—Querem que eu pague. - Falo desembaraçando meu cabelo, sem sair do banheiro.

—Tu não gostarias de fazer esta faculdade? - Ele pergunta.

—Eu gostaria, mas não é questão de gostar. - Saio do banheiro e ando até meu guarda-roupa.

—Então qual é o problema? - Pergunta curioso, pegando meu celular.

—Solte o meu celular, por favor? - Falo procurando alguma roupa.

—O quanto gostaria de fazer a faculdade?

—Não muito, você acha que teria ânimo para ir a uma faculdade todos os dias? - Pego uma calça e uma camisa qualquer, jogando em minha cama.

—Às vezes, a força para seguir adiante está no simples ato de começar.

Fico em silêncio por um momento, é incrível como Solene consegue me calar sempre.

—Mesmo que quisesse, não teria dinheiro para isto. - Entro no banheiro, escuto Solene finalmente rir um pouco.