Acordo, havia alguém colocando mais um soro sobre meu braço. Era um enfermeiro, e ele parecia muito focado em não me acordar. Mas acordou.
Coço meus olhos utilizando o dorso da mão, com os olhos lutando para se manter abertos novamente.
—Olá...? - Pergunto-lhe olhando.
—Ah, sinto muito. - Retira a visão do saco repleto de um líquido amarelado. — Não era minha intenção acordá-la.
—Tudo bem.
—Isso é um remédio para evitar que sinta dor. - Dá pequenos petelecos em um cabo que liga do líquido até meu braço esquerdo.
—Ótimo, muito obrigada. - Sorrio.
—Disponha, daqui 15 minutos iram trazer seu almoço. - Dá as costas, andando para a porta.
Encaro o teto por um tempo, reparando nos detalhes dos quais já reparei ontem. Olho para Cecília, esperando ver seu sorriso. Ela estava deitada de costas para mim, dormindo. Mas a garota de ontem estava acordada, ao seu lado. Parecia ansiosa, estralava os dedos enquanto tentava conter suas pernas tremida.
—Ela tem câncer? - Pergunto, tentando ser mais delicada.
A garota olha para mim, respira fundo.
—Não precisamos de dinheiro. - Volta a olhar para Cecília
"Dinheiro?" Penso.
Quem aqui falou em dinheiro? Ela parece se preocupar com a Cecília, mas não parece ser a mãe dela.
—Eu não disse nada de dinheiro. - Falo.
Ela olha para mim novamente.
—Pessoas como você muitas vezes buscam alguém para ajudar, para conseguir essa fama que você tem. - Revira os olhos. — Só gostaria de ajudar minha irmã por interesse, por dinheiro.
As frases dela parecem atravessar meu peito, quase como uma agulha, que me machuca de uma forma irritante. Quase como uma queimação. "Queimação.." Penso, me lembrando de todo aquele fogo. Aquilo me arrepia, e sinto a dor novamente, um julgamento.
—Claro que não! - Franzo as sobrancelhas.
—Somente fique longe de mim e da minha irmã. - Vejo a garota se espreguiçar, bocejando. Acordando lentamente. — Se mantemos sozinhas por 3 anos, eu não preciso de alguém como você.
Apenas a olho. Por mais que sua fala me chocasse um pouco, ou até me machucassem. Eu talvez a entendesse, de alguma forma. Talvez ela esteja em uma situação parecida com a minha – "Se mantemos sozinhas por 3 anos." – será que foram abandonadas?
Eu preciso me levantar, usar o banheiro. Urgentemente. O enfermeiro se aproxima lentamente de mim, segurando uma marmita de isopor.
—Seu almoço, senhorita. - Ele sorri e logo abre a marmita.
A comida não cheirava bem, nem um pouco na verdade. De aparência também não era muito chamativa, principalmente para meu estômago que parece se revirar desde ontem.
Pego a marmita, meus braços ardendo. Repleto de faixas e ataduras.
—Qualquer coisa pode nos chamar.
Peguei a primeira colherada, e a coloco sobre minha boca.
—Está comendo um chocolate? - Pergunta a garota.
—Sim, ela me deu. - Aponta para mim.
A garota olha para mim novamente, parecia pensativa. Mas somente bufa novamente e volta a focar na garota.

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A Garota Do Outro Lado.
Paranormal"A morte é inevitável, a vida também." Uma garota recebe o dom de trazer de volta a vida, as pessoas que não deveriam ter morrido. Almas esquecidas. Mas há uma condição, ela não poderá trazer de volta, pessoas que deveriam ter morrido, ou p...