Ensinamento

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 Ia até a faculdade, e desta vez vestia do mesmo vestido do qual Solene havia jogado em minha cama uns dias atrás. Mesmo com o tempo passado após Solene espirrar o perfume sobre meu vestido, a cada passo que dava sentia o cheiro que ele emanava em uma certa região à minha volta. Meu cabelo estava solto e após muito tempo vi ele limpo. Desta vez não percebo olhares sobre minha pessoa, me reconheço como uma pessoa normal andando pelo centro. Abro a porta da faculdade, e entro. Até mesmo a atendente me vê de forma diferente, curiosa.

—Bom dia, posso ajudar? - Pergunta gentilmente.

—Sim, mandaram-me aqui para pagar a primeira parcela da faculdade. - Respondo.

—Pagar faculdade? - Parecia sem entender, rindo um pouco. — Acho que a senhora veio no lugar errado.

—Não... Eu havia vindo aqui a poucos dias atrás para me inscrever, moça.

—Sim, para se inscrever é aqui mesmo. Mas para pagar é um pouco mais distante.

Escuto o carro estacionar atrás de mim, mas ainda sem olhar.

—Como assim? Não é aqui? - Pergunto. - Em qual andar é?

—Acho que não entendeu. - Começa. - Não é neste edifício. - Olha para o computador, digitando um pouco. - É neste. - Puxa o papel da impressora de forma rápida e o estende para mim.

Era um endereço, e ficava do outro lado da cidade.

—Por acaso você está a pé? - Pergunta.

—Infelizmente sim... Será umas boas horas de caminhada.

—De carro? - Escuto a voz se aproximar de mim.

Me viro, era Solene segurando as chaves do carro de minha mãe.

—Solene? - Ando até ele, agarrando seu braço o deixando de costas para a atendente. — O que você está fazendo aqui? - Cochicho

—Por que está a cochichar? - Franziu as sobrancelhas.

—Está são as chaves do carro da minha mãe? - Pergunto encarando.

—Ela não se importou quando disse que viria te buscar. - Começa. - Ela só não sabe que...

—Ela não sabe o que, Solene?! - Pergunto antes que ele terminasse de falar.

—Quem vai dirigir será você. - Abre espaço para que eu passe primeiro pela porta giratória.

—Desde quando eu sei dirigir?! - Arregalo os olhos. — Tá maluco? - Me recuso a passar pela porta.

—Você sabe. - Coloca as mãos sobre minhas costas, quase como me empurrando para a porta.

—Não! Eu não sei! - Ele gira a porta antes que eu tivesse a oportunidade de sair.

Entra na porta de vidro também, e em segundos sai por ela assim como eu. Estava de frente para o belo carro de minha mãe, estacionado logo a frente do edifício.

—Solene, eu entendo que quer fazer com que eu supere meus medos. - Ele destrava o carro. — Mas isto é loucura! - Falo em um tom mais alto.

—Sério? - Abre a porta do motorista.

Ando até ele.

—Sim! Eu não vou dirigir um carro! - Falo irritada.

—Não é um "carro". - Começa. — É uma caminhonete. - Coloca as mãos em meus ombros e com delicadeza, mas ainda sim de forma rápida me joga sobre o banco do motorista. Fecha a porta de maneira tão forte que faz um barulho alto, capaz de me dar dor de cabeça. O carro é trancado, e só descobri isso após tentar sair dele.

A Garota Do Outro Lado.Onde histórias criam vida. Descubra agora