Era de manhã novamente, mas por incrível que pareça, não estava deitada sobre um monte de roupas sujas, ou em uma cama cujo lençol não havia sido trocado a tempos. Ontem assim que cheguei em casa limpei por inteiro meu quarto, e agora, o único cheiro que sinto é de um suave cheiro de morango. Que vinha do aromatizador que ganhei de presente da minha mãe. Nunca tinha aberto, mas agora me arrependo disso, pois o cheiro é maravilhoso.
A sensação de liberdade... de poder me mover tranquilamente pela cama, sabendo que nada das coisas que estão nela irão cair, pois não há mais nada nela. A minha escrivaninha que antes era repleta de coisas e papeis aleatórios, agora somente se encontra com algumas plantas e cadernos que estão de forma organizada encostados na parede. E falando nisso, logo na minha parede esquerda, ao lado da janela, se encontra um grande quadro para que eu usei para colar post-its sobre assuntos dos quais devo estudar na faculdade. Meu guarda roupa agora só possui roupas da qual irei utilizar, roupas antigas ou que deixaram de servir em mim deixei com minha mãe. Ela disse ter doado para um abrigo de crianças carentes.
O sol batia em meu rosto, um sol leve da manhã. Que ao entrar em contato com minha pele, daria uma sensação de bom dia. Logo começarei a faculdade, e fico feliz por ter organizado minha vida para isso. Me levanto da cama, vendo Luna no local onde quase sempre a encontro, na janela do meu quarto. Apreciava cada detalhe da vista dali. Seus olhos estavam brilhantes por culpa do sol. O cheiro de café quente invadia o quarto, tomando o lugar do cheiro de morango. Entro em meu banheiro, escovo meus dentes e me retiro de meu quarto.
—Bom dia mãe! - Falo um pouco alto, ainda descendo as escadas.
Me deparo com um homem, do qual soava familiar. Minha mãe parecia angustiada, e servia café para ele, que estava de costas para mim sentado na mesa. Sei que já cheguei a vê-lo em algum lugar, mas onde?
—Bom dia, filha. - Ela fala, olhando para mim. Quase como um olhar de piedade.
—Nossa filha, não sabia que acordava cedo assim. - Ele se vira para mim.
Agora tinha certeza que o conhecia, o homem que destruiu minha vida, o homem que me passou para trás, o homem que mesmo em meu último suspiro, não esteve ou nunca esteve lá.
—Mãe?! O que ele está fazendo aqui!? - Pergunto evitando olhar para o seu rosto.
—Eu chamei ele no dia em que estava no hospital, filha... Fiquei desesperada, me perdoe.
—E ele só chegou hoje? - Pergunto ainda sem olhar para ele.
—Eu não podia vir no dia, mas assim que te vi na televisão... pensei "Uau! Minha bebê está famosa." - Gesticula com as mãos, animado. — Imagino o quanto de dinheiro deve estar ganhando com toda essa fama.
—Imagina? Não ganho nada por isso, assim como nunca ganhei nada de você. - Agora olho para ele.
—Você sabe como é minha filha... Papai é ocupado. - Se levanta da cadeira, deixando sua xícara na mesa e andando até mim. Com os braços abertos, para me abraçar.
—Não me chame de filha. - Coloco minha mão na frente. Negando o abraço. — Você é ocupado Otávio!? Ocupado por 18 anos!? - Empurro ele. — Por 18 anos! - Grito.
—Filha, se acalme! Ele apenas se importa com você. - Minha mãe tenta acalmar a situação.
—Se importar comigo!? Deixou a própria filha apodrecendo, sozinha! Deixou a minha mãe sozinha! - Não consigo evitar as lágrimas escorrerem do meu rosto. — Você nos deixou sozinhas! - Empurro ele mais uma vez.
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A Garota Do Outro Lado.
Fantastique"A morte é inevitável, a vida também." Uma garota recebe o dom de trazer de volta a vida, as pessoas que não deveriam ter morrido. Almas esquecidas. Mas há uma condição, ela não poderá trazer de volta, pessoas que deveriam ter morrido, ou p...