Cura

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 —Eu não quero mais você perto dela! - Os gritos ecoavam no andar debaixo.

Eu estava em meu quarto, com as mãos firmes em meus ouvidos enquanto soluçava quase pedindo ajuda.

Pare, pare, pare, pare.

—Ela é minha filha! - Algo quebra no andar debaixo.

Me arrasto um pouco mais para perto da cama, agarrando meu próprio cabelo como forma de acolhimento.

—Para com isso Otávio!

—Não grita comigo! - Mais algo quebrou.

—Por que está fazendo isso? - Minha mãe chorava. — Por que?!

Fechava meus olhos firmemente, esperando algum barulho mais forte... silêncio.

—Você não vai me afastar dela... - Passos.

—Não! Não chegue perto dela! - Mais passos.

Eles se aproximavam da porta do meu quarto.

—Por favor... - Ela implorava. — desconte em mim! Eu imploro! Mas não encoste nela.

—Cala essa boca, por favor! - Estavam nas escadas.

Estava ficando ofegante. Embora tentasse pensar em algo, fugir, pular a janela, eu não conseguia. O que uma criança faria nesta situação? Responda-me.

—Para com isso! Ela não! - A maçaneta gira.

A porta não se abre. Eu a tranquei.

—Abre essa merda! - Batidas na porta, a voz grossa de meu pai. — Abre logo Alice!

Choro somente mais.

—Deixe ela... - O choro de minha mãe aumenta conforme o meu.

—Abre! - Gritou no ápice.

Um barulho alto é capaz de se escutar, estilhaços de madeira por todos os lados. Ele entrou, ele quebrou a porta.

Eu finalmente abro os olhos, meu pai com fúria nos olhos. Estava sem camisa, e retirando a cinta de sua calça. Andava quase embolando os pés, sua voz estava arrastada e seus olhos esbugalhados.

—Eu vou matar você! - Começo a levantar do chão, me apoiando nas paredes enquanto ele termina de retirar sua cinta.

—Para com isso! - Minha mãe gruda em seu ombro.

—Não! - Eu gritei, finalmente me movo.

Embora agora estivesse coberta pela adrenalina e coragem, correndo em direção a eles, estava pronta para empurrar meu padrasto escada abaixo. Mas era tarde demais.

—Me solta! - Ele teve esta ideia primeiro.

Vejo minha mãe despencar na escada, com um grito que não durou muito tempo.

Há uma coisa que não contei sobre meu pai, ele bebia. Não como qualquer um, ele bebia muito. Estes eram um dos motivos pelos quais eu o odiava.

—Você matou ela! Alice você matou ela! - Segurava minha mãe nos braços. Estava desacordada.

Eu não matei ninguém! Eu nunca machuquei ninguém!

Acordo. Paredes brancas, leito branco de hospital.

—Está tudo bem? - Minha mãe perguntou. — Parecia estar tendo um pesadelo.

—Não... - Me sento na cama. — Era o mesmo de sempre... - Passo a mão sobre meu rosto.

—Eu nem acredito que você andou filha! - Estava em êxtase. — Vamos para casa mais cedo do que imaginava! - Esticava as mãos para o alto.

—Nem me fale mamãe. - Olho em volta.

A Garota Do Outro Lado.Onde histórias criam vida. Descubra agora