Coragem

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 Era a noite do mesmo dia, minha mãe ainda não tinha vindo me visitar. Ficar naquele quarto sem ela é angustiante, entediante. Meus olhos agora parecem atravessar o teto branco.

A noite me trazia lembranças, parecia-se que a qualquer momento meu celular tocava, vibraria logo abaixo do meu travesseiro.

Onde será que meu pai está? Onde será que Solene está? Onde minha mãe está?

Meu pai está morto...

Sei disso.

Embora saiba, ainda gostaria de saber: Para onde ele foi?

Agora algo preenche a minha cabeça, uma dúvida.

"Para onde teria ido se naquele dia, não tivesse encontrado Solene?" O silêncio, esta é a minha resposta.

Escuto vozes abafadas no corredor, parecia ser de uma mulher e um médico. A mulher parecia exausta, mas feliz. Ela entra na minha sala, e meus olhos se encantam.

—Mamãe! - Me animo.

Ela não me responde, mas me abraça, comigo deitada mesmo. Estava com um forte sorriso no rosto.

—Como você está? – Se afasta do abraço, me olhando nos olhos. — Está com dor?

—Minhas pernas queimam um pouco... - Olho para meus pés. — Mas nada muito insuportável.

—Ótimo. - Parecia animada. — Logo logo voltaremos para casa. - Olha para seus próprios pés. — Eu lhe prometo.

—Fiquei sabendo que você voltou para o tratamento. - Olho para ela. — Como está indo?

—Vou ter que passar por muitos exames, mas tudo ficará bem. - Sorri.

Percebo a presença de olhos atentos, diretamente para mim. Era Cecília, parecia encantada. Olho para seus olhos, mas logo o olhar é cortado por ela que desvia a cabeça rapidamente.

Sorrio de leve e continuo a olhando. Ela devagar olha para mim por canto de olho.

—Está tudo bem? - Pergunto.

—Sim. - Olha para mim rapidamente, e depois olha para minha mãe. — Ela é sua mãe? - Pergunta.

A minha mãe olha para a garota.

—Sim. - Ela mesmo responde.

—Não. - Minha mãe me olha, surpresa. — É minha heroína. - Completo.

—É... Talvez... - Vejo de canto de olho minha mãe sorrir para mim, com olhos encantados e felizes.

Passei o resto da noite sem me permitir fazer nada de interessante até o horário que fosse dormir. Por incrível que pareça, as minhas dores pelo corpo diminuíram muito. Mas ainda sim queimam com movimentos bruscos.

Amanheceu. O sol penetrava a janela e batia próximo a minha cama, escuto conversas em cochichos ao meu lado. Abro os olhos lentamente, olho para o meu lado. Minha mãe conversava com uma enfermeira que parecia segurar meu café da manhã.

—Exatamente - Concordou a enfermeira. — O doutor acredita que ela está pronta.

—Estou pronta para o que? - Falo com a voz rouca, coçando meus olhos com o dorso da mão.

—Bom dia meu amor... - Acaricia minha testa.

—Como está sentindo seu corpo? - A enfermeira coloca a bandeja ao lado de minha perna. — Consegue se mover?

—Sim, eu acho. - Tento mover um pouco minha perna, sinto queimaduras.

Dou um gemido baixo e seguro minha perna com a minha mão.

A Garota Do Outro Lado.Onde histórias criam vida. Descubra agora