Fogo.

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Atenção! Este capítulo contém cenas fortes e que podem causar gatilhos em alguns!

               Senti alguém me puxar com força para trás, desesperadamente. Meus olhos focados no puro fogo, no calor. O suor que escorria pelo meu rosto me deixava agoniada. Mas não me importava com isso, eu ainda olhava onde meu pai estava – a segundos atrás. – Esperando poder vê-lo no mesmo local novamente, como se aquilo realmente fosse uma ilusão, um sonho ou algo assim. O homem que tentava me tirar dali agora somente correu, sem nem sequer olhar para trás. Tentando viver:

—Não foi culpa sua, Alice. - A voz de Solene ecoa em meus ouvidos, clara, grave e calma.

Ainda não respondia.

—Preciso da sua ajuda. - Ele dizia.

—Eu estarei queimando nos próximos segundos, Solene. - Olho para ele. — Acha que me importo com isso? - Me levanto do chão.

—Claro que sim. - Não cortava o olhar de nenhuma maneira.

—Não! - Começo. — Eu não me importo!

—Mas eu me importo, Alice! - Escuto ele gritar, pela primeira vez.

—Não! Não se importa! - Me aproximo mais dele. Escuto uma explosão forte, mas nem sequer se aproxima de mim. — Só se importa que eu faça o seu trabalho.

—Se fosse somente isso, eu não teria feito tudo o que fiz. Por você, não pelo meu trabalho.

—Vai jogar tudo isso na minha cara!? - Grito.

Estava estressada, estava angustiada, ou qualquer sentimento negativo do qual não sei explicar. Eu não odiava meu pai de verdade, eu acho. Talvez eu somente não compreendia, o por que de tudo isso que ele fez, tudo que...:

—Tem pessoas morrendo aqui, Alice. - Volta para seu tom comum. — Não há ninguém que saiba como é morrer aqui, além de você.

Mais uma explosão é capaz de se escutar. O fogo havia se espalhado mais do que imaginava:

—Não precisa fazer o seu trabalho se quiser. - Solene anda para escada.

—Nunca foi pelo meu trabalho, Solene. - Olho para o fogo. — Foi por pessoas, por humanos.

—Ótimo. - Mostra-me a foto de 4 crianças. Sorridentes. — Luís, Antony, Marcos, Yara. Estão aqui, nesse apartamento.

Agarro a imagem, não permitirei deixá-las morrer. Não posso, não aguentaria mais perdas:

—Se eu não posso me amar, ao menos permita-me amar aos outros. - Ando apressada para a porta da escadaria, estava repleta de fumaça.

—É quase como um suicídio entrar aí. - Ele fala.

—Isso não é um problema, não para mim. - Puxo a blusa para que proteja meu nariz e tento descer as escadas.

Antes não sentia, mas agora, os cortes em minha perna parecem doer muito. Mais que o que já doía. Antes que pudesse descer o primeiro lance de escada, vejo algo brilhante em volta de mim, amarelado, se parecia com as auras da quais saiam das pessoas das quais salvava. Aquilo impedia toda a fumaça de chegar perto de mim, minha feridas não doíam, e o calor parecia não me incomodar mais. Sabia quem havia feito isso, Solene.

Continuo descendo as escadas, agora em um ritmo um pouco mais rápido. Escuto as sirenes dos bombeiros, e mais uma explosão. Desta vez parecia mais forte, as escadas tremeram e ecoou por todo o apartamento. Vejo alguns pequenos pedaços da parede se soltarem e caírem sobre a escada, se tornando poeira:

A Garota Do Outro Lado.Onde histórias criam vida. Descubra agora