Pela primeira vez a tempos, estava andando pelas ruas da minha cidade de São Paulo. Estava usando a mesma blusa que coloquei de manhã, uma calça moletom, um chinelo comum e uma regata preta. Meu cabelo estava preso com um lápis que achei em um lugar qualquer por minha casa enquanto saía apressada. Eu estou indo para a faculdade BioTech, onde até alguns meses atrás eu havia desistido de me inscrever. Percebi alguns maus olhares para mim enquanto andava, talvez estivesse fedendo. Não tomo banho a alguns dias. Estava uma chuva forte, então segurava firme meu guarda chuva enquanto no fim da rua eu via o enorme edifício da BioTech.
Eu entrei, passei pelas enormes portas de vidro do local e estava de frente para a atendente, que me olhava pacientemente.
—Bom dia, senhorita. Veio entregar currículo? - Ela pergunta parando de digitar no computador.
—Não, eu vim me inscrever para a faculdade. - Falo olhando o computador dela.
—Tudo bem, trouxe carteira de identidade?
Entrego minha carteira de identidade para ela. Escuto os barulhos de suas teclas que são digitadas de forma rápida. Ela devolve o cartão de identidade para mim, eu o agarro e coloco em minha bolsa.
—Vamos consultá-la no sistema, sobre o preço mandaremos via telefone. Tudo bem?
—Certo, obrigada. - Dou as costas, andando até a porta de saída.
"Espero não ter sido rude"
Penso comigo mesma, abrindo meu guarda chuva novamente e me preparando para chuva que havia aumentado. O vento estava forte, e quase tirava o guarda chuva de cima da minha cabeça. No meio da rua avisto alguém que parecia familiar, forço um pouco meus olhos para ver quem era.
—Alice, temos um acordo. - Escuto a voz atrás de mim, era o homem, ele estava sem guarda chuva mas ainda sim estava seco.
—O que? - Pergunto, olhando para frente.
Percebi quem era, era Carmen, a mulher que deveria salvar. Ela andava pela calçada. Corro em sua direção. Ela estava prestes a entrar em um carro, era um táxi. Estava quase chegando nela, gritando pelo seu nome.
—Dona Carmen! Espere! - Grito sem soltar meu guarda-chuva.
Estava quase chegando no táxi. Ele começa a andar, estava indo relativamente rápido. Solto o guarda chuva, correndo de forma mais rápida. As gotas de água que caíam sobre meu corpo era quase um alívio, um aviso de que estava viva. O frio que sentia, era torturante mas bom. Solto um pouco de sorriso embora a tensão de tentar chegar àquele táxi, ele vira em uma curva um pouco a frente. Entro em um corredor escuro que ficava entre os prédios para que conseguisse chegar mais rápido que o táxi. Eu não seria mais rápido do que um carro, isso era fato. Passo por todo o corredor entre os prédios. Vejo o táxi passar em minha frente, centímetros de distância. Ainda não sou mais rápido do que ele, mas continuo o perseguindo. Não parava de correr, uma mulher passava a minha frente, atravessando a faixa com um guarda chuva, agarro a mesma com a mão direita e a empurro para não tropeçar na mesma. Meus pés quase se embolaram enquanto corria, e nada me pararia. Vejo dois táxis agora, estava perdida.
—Merda! Qual desses dois é o da Carmen? - Pergunto a mim mesma.
Um deles para, e de dentro dele vejo sair Carmen. Com um pequeno guarda chuva e um sorriso gracioso para o taxista.
—Dona Carmen! - Grito correndo em direção a ela.
Um estrondo alto é capaz de se ouvir vindos do céu, continuo a correr em sua direção. Vejo uma luz descer dos céus, com um estrondo alto juntamente de meus olhos que arderam ao ver aquilo cair. Acertou diretamente Carmen, enquanto a multidão a volta gritou de surpresa seu corpo caia sobre uma poça d'água. Eu consigo ver a mesma aura sair, da mesma cor da qual saiu de meu gato. Uma aura rosada, estavam todos chocados olhando a pequena velha cair sobre o chão, quase como carbonizada. Corro em direção aquela pequena luz que saia do corpo de Carmen, pulo e a agarro com força, sentindo o calafrio. Caio no chão ralando um pouco meu braço e minha perna, e vejo as pessoas ficando em volta da idosa, vendo seus batimentos.
—Ela sobreviveu! A menina salvou ela! - gritam do meio da multidão.
"O que? Como sabem? Eles viram eu agarrando a luz talvez?"
A multidão ficava em volta de mim, alguns sorriam graciosamente, enquanto outros ajudavam a Carmen a sair da chuva. Eles me oferecem ajuda para levantar do chão e, no meio da multidão, vejo o homem.
Pouco tempo depois, estava em casa. Havia tomado banho depois de um tempo e me sentia feliz, o banho foi quente e me fez sentir melhor ainda. Saio do banho e vejo o homem deitado na cama lendo um dos meus livros desinteressantes.
—O que está fazendo com meus livros. - Ando até ele, o agarro de forma rápida e o coloco em minha mesa. — Saia da minha cama.
—Parabéns pelo o que tu fizestes no dia de hoje, Alice. - Ele se levanta de minha cama, logo após eu me sento, soltando um suspiro. — Em minhas condolências me apresento como Solene.
—Finalmente Solene, agora é bom saber o nome da alma que vai me observar todos os dias. - Pego uma pequena pomada que fica na escrivaninha ao lado da minha cama, ela serve para machucados ou cortes.
Passo sobre o ralado de meu cotovelo suavemente.
—Salvou Carmen e agora: Ela pode cuidar de seu filho que está no hospital com uma doença grave.
—Sério? Isso é bom. - Falo finalmente demonstrando um pouco de felicidade. — Talvez não seja tão estressante ajudar essas pessoas. Acho que sou muito boa ajudando as pessoas.
—Realmente, tu és uma pessoa muito mais habilidosa do que pensei. Sinceramente, meus pensamentos eram de que tu seria uma pessoa severamente ruim ajudando outras. - Ele diz de forma charmosa.
—Que?! Por que? - Pergunto indignada.
—Porque Quem não aprecia a luz da própria existência, como poderá iluminar o caminho dos outros?
Fico em silêncio por um momento, embora não aceitasse, aquilo tinha um belo sentido.
—Você é bom com as palavras, Solene. - Falo, olhando de forma sincera para o charmoso homem.
—De maneira alguma falaria estas belas palavras se não fossem serenamente verdadeiras, Alice.
—Agradeço.
—Muitas pessoas lhe agradecem severamente. Já deu uma olhada na televisão, Alice? - Ele pergunta, me deixando curiosa.
—Alice filha! Você está na televisão?! - Escuto minha mãe gritar, em êxtase no andar debaixo.
Corro até a porta de meu quarto, abro ela rapidamente. Antes de sair me viro para Solene.
—Isto é sério? - Pergunto indignada.
—Ajude-me com seu acordo, que irei retribuí-la. - Ele se desfaz quase como um pó em meu quarto bagunçado.
Solto um pequeno sorriso bobo e corro pelas escadas. Vejo-me a imagem, aquela pessoa era eu. De alguma forma eu agarrei a velha antes dela atingir o chão. Isso diminuiu seus ferimentos e as queimaduras do raio foram contadas como 60% segundo a TV. Isso nem sequer era possível, eu acho. Mas via minha mãe pular de alegria, e pela primeira vez em anos me via com um pequeno sentimento de felicidade.
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A Garota Do Outro Lado.
Paranormal"A morte é inevitável, a vida também." Uma garota recebe o dom de trazer de volta a vida, as pessoas que não deveriam ter morrido. Almas esquecidas. Mas há uma condição, ela não poderá trazer de volta, pessoas que deveriam ter morrido, ou p...