Meu nome é Alice Emerson. No dia 25 de janeiro de 2024, tentei tirar minha própria vida. Agora, deitada nesta cama de hospital, me sinto como se estivesse em um limbo entre a vida e a morte. Embora meu coração ainda bata, a sensação de estar verdadeiramente viva me escapa. A luz intensa da sala incomoda meus olhos, trazendo-me um desconforto constante. Nunca soube o que realmente significa sentir-se viva; talvez seja sofrimento. Ou seria o sofrimento um sinal de morte? Não tenho certeza.
Um dos médicos aproxima-se da minha cama. Ele não percebe que estou acordada enquanto anota algo em seu caderno com um semblante tenso. Ele levanta os olhos do caderno e olha diretamente para mim por alguns segundos, antes de voltar a escrever e se retirar da sala. Fico apenas olhando para o teto, perdida em pensamentos. Como vim parar aqui? Já te expliquei.
Enquanto ouço os batimentos do monitor cardíaco, sinto-me em uma estranha tranquilidade. Minha mãe está com câncer e meu pai nos abandonou. Não sei ao certo por que tentei abandonar minha mãe, talvez tenha sido um ato de egoísmo.
Os barulhos cessam abruptamente, seguidos pelo som agudo e contínuo da máquina de batimentos cardíacos. Mas eu não estava morta, eu estava aqui. Os médicos chegam, muitos deles.
— Olá? — digo, tentando chamar a atenção de um deles.
Me levanto da cama hospitalar, e ando até um deles. De forma inexplicável, atravesso seu corpo, ficando assustada ao perceber minha nova realidade. Através dele, vejo um homem brilhante, mais luminoso que a própria luz do hospital. Meus olhos doem ao tentar focá-lo, como se estivesse olhando diretamente para o sol.
— Você é Deus? — pergunto, protegendo os olhos.
Ele ri suavemente, sua voz é grave, como a de um homem comum.
— Está brincando comigo? — pergunto, incrédula.
— Alice Emerson, tu estás morta. — diz ele, sem rodeios.
— Não, eu não estou morta. Estou aqui, você está me vendo, não está? Quem é você?
— Algumas pessoas morrem antes da hora. No seu caso, ninguém esperava que você deixasse sua mãe para trás.
— Acha que me sinto bem por isso?! Quem é você? Vai me julgar agora?
— Ao contrário, Alice. Tenho o poder de devolver-te à vida, mas há uma condição a ser cumprida.
— Eu tirei minha própria vida, por que voltaria?
— Porque tu és quem decides se tirará tua própria vida. Mas não és quem decides se retiraria a vida de outrem.
— Como assim "a de outrem"?
— Considere, por exemplo, tua mãe. Tua vida se extinguirá logo após receber a notícia da tua partida, minha querida filha.
— Certo, qual é a condição para eu voltar à vida?
— Deixe-me explicar uma coisa antes: a morte é inevitável, mas a vida, com toda a sua fugaz beleza, também é inescapável.
— A vida? Por que?
— Você irá entender no futuro, Alice. Mas há mortes que não são esperadas, como a tua. Neste caso, os espíritos vagam pelo mundo, como cachorros sem dono.
— Está me chamando de cachorro sem dono?! — pergunto, irritada.
— Deveria? — ele responde, calmo.
— Não! Por que justamente eu tenho a chance de voltar à vida?
— Porque ainda há uma condição. Tu deverás trazer de volta à vida as pessoas que não deveriam ter morrido. Após uma hora da morte, a pessoa não poderá mais ser salva.
— Certo, eu farei isso.
— E uma outra condição: nunca poderá usar esse poder para benefício próprio. Não traga de volta à vida alguém que não deveria retornar.
— Por quê?
— Apenas não faça, e não questione, Alice — ele fala, ainda calmo. — Temos um acordo? — Ele estende a mão para mim.
Olho para sua mão por um momento. Tudo isso parecia uma loucura, mas seria impossível ser uma brincadeira. Humanos não atravessam uns aos outros, não enquanto estão vivos. Aperto sua mão e, por um instante, sou jogada de volta à minha cama. O barulho da máquina cessa. Eu ainda me lembrava do meu acordo.
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A Garota Do Outro Lado.
Fantastique"A morte é inevitável, a vida também." Uma garota recebe o dom de trazer de volta a vida, as pessoas que não deveriam ter morrido. Almas esquecidas. Mas há uma condição, ela não poderá trazer de volta, pessoas que deveriam ter morrido, ou p...