📅 — 17/07/2024.
🕚 — 18:29.
📍 — Vila Olímpica, Paris, França....
— Porra, que viagem cansativa, velho. — Tamires, minha colega de quarto e melhor amiga, fala se jogando na cama.
— Realmente. E é mó loucura, né? A gente saiu de São Paulo tava amanhecendo e aqui já tá de noite. — Digo tirando minhas roupas da mala e colocando todas em cima da cama pra poder organizar todas como eu gosto.
— São cinco horas de diferença, né? — Afirmo com a cabeça. — Meu Deus, e a minha mulher? Ela vai ficar morrendo de saudades de mim.
— Para de fogo, na Olimpíada de Tóquio foi pior e tu não morreu. E outra, esqueceu que ela vai vir pra cá dia 24, foi?
— Ah, é mesmo. É que eu tô com saudades dela, tô há muito tempo longe.
— Tamires, a Gabi te levou no aeroporto, mulher. Que grude é esse, hein? Daqui a pouco tu vira uma dependente dela. — Brinco.
De canto dos olhos eu consigo ver a loira fazendo uma feição de ofendida, colocando a mão no tronco e abrindo levemente a boca.
— Não entendi esse afronta. Eu não sou dependente dela, só que eu preciso dela pra viveeeerr. — Ela se deita novamente na cama dramaticamente.
— Ou seja: dependência emocional. Já falei pra tratar isso na tua psicóloga, negócio de gente maluca. — Reviro os olhos.
— Ai, S/n, vai se fuder e tchau, vou ligar pra minha mulher pra avisar que eu cheguei bem porque eu tenho uma esposa que se importa comigo.
A Zagueira se levanta da cama, pega o celular que estava perdido no meio de tantos lençóis, coloca a Havaiana que recebemos quando chegamos na Vila e vai pra varanda que tem no nosso quarto.
Solto uma risada baixa pela nossa implicância uma com a outra e volto a minha atenção para as roupas que eu estava guardando, começando a separar cada roupa pelo critério de: roupa de sair, treinar e ficar em "casa". Aos poucos a montanha de roupas que eu trouxe vai diminuindo, indo cada uma pro seu lugar no "guarda-roupas" improvisado que tinha ali no quarto e eu me permito pensar um pouco em tudo o que aconteceu.
Chegamos na Vila Olímpica pra disputar por uma medalha e, acima de tudo, nos redimir após a humilhação que sofremos na copa, no fatídico dia que fomos eliminadas ainda na fase de grupos. Lutamos muito pra conseguir essa vaga nessa Olímpiada, derramamos muito sangue - literalmente, infelizmente - e por fim, aqui estamos.
Todas nós viemos com uma sede absurda de ganhar aquela medalha, precisamos sentir a sensação de "dever cumprido", por isso estamos extremamente focada nisso. Deixamos tudo pra trás, todos os problemas, todas as questões mal resolvidas e até mesmo a nossa família pra nos entregarmos inteiramente ao que iremos viver aqui.
Já era por volta de 22:30 em Paris. Tamires tinha saído pra ir no quarto da Ludmila e da Yaya para "ver com elas estavam", de acordo com a própria. Eu continuava deitada na cama, que é onde eu estou há cerca de uma hora e meia, mais ou menos. A viagem tinha acabado com qualquer bateria social ou disposição que eu tinha.
Termino de responder algumas pessoas que me mandaram mensagem no WhatsApp e entro no Instagram pra responder alguns fãs que tinham respondido o stories que eu postei com uma foto minha e da Tamires mostrando o crachá que tínhamos recebido do Time Brasil com os nossos nomes. Converso com alguns, dando prioridade às páginas de Fã Clube que sempre estavam presente em cada passo da minha carreira me apoiando. Tenho um amor enorme por esses seres que estão por trás dessas contas.
Passeando pelo meu feed, vejo uma publicação da Priscila Daroit, uma amiga minha que eu tinha conhecido há alguns anos atrás em um jogo de vôlei do Minas que eu tinha ido assistir quando estava no Brasil. A postagem em si era uma foto dela com a Gabi Guimarães e Rosa Maria com a legenda: "Let's go to Paris!📍".
Curti a foto e comentei: "Vem logo, já tô esperando!😘", mas estranhei o fato da Ana Carolina, que é a melhor amiga da Priscila, não estar ali, logo pensei que a não tinha sido convocada... Dei um Google, óbvio, e lá estava que ela tinha sido sim convocada. Eu sou muito fã da Carol e tenho um apreço muito grande por ela, por mais que ainda não tivesse tido a chance de conhecê-la. Sua trajetória no mundo esportivo é encantadora.
— S/a... — Escuto uma voz calma me chamando, me tirando do meu hiperfoco em saber se a Carol tinha sido chamada ou não, e vejo Gabi Nunes na porta do quarto.
— Ixi, que voz é essa? — Sorrio.
— A única que eu tenho, ué. — Entra na quarto e fecha a porta. — Mas vem cá, cê não quer ir lá embaixo pra gente conversar não? As meninas tão tudo lá praticamente.
Sabia. Gabi nunca fala mansa assim se não tiver outros interesses no meio.
— Tu é muito cara de pau, né? Chega toda mansinha aí e depois ó, dá o bote.
— Coi, coi de coitada, fia. Vai ou não? Se for, agiliza o processo que a fofoca tá rolando solta e eu não quero perder não.
— Vai, vamo' logo antes que eu desista.
— Isso, muito bem, boa garota, viu.
Descemos pro Halls do prédio do Brasil e eu consigo avistar Marta, Tamires, Gabi Portilho, Ludmila e Kerolin sentadas nas poltronas, fazendo uma espécie de roda. Tamires estava focada no celular, provavelmente falando com a namorada, Marta estava na mesma que ela. Ludmila, Gabi P. e Kerolin eram as únicas que estavam conversando.
— Bonne nuit, chicas! — Papo, usei todo o meu francês agora, tá? E ainda misturei com um espanhol, mereço um prêmio.
— Cê louco, mal chegou e já tá fluente, a bicha é braba, doido. — Ludmila, com o jeito brincalhão dela, fala me fazendo rir.
— Sabe como que é, né? Tem que saber o básico pra não passar vergonha na frente das gatas. — Sento na mesma poltrona que ela.
— Tu não pega nem gripe, quem dirá pegar mulher. — Gabi Portilho brinca.
— Então tu não existe, né? Já que eu não pego ninguém.
— Deixa baixo, esse dia aí foi um surto de loucura que nunca mais vai acontecer.
— Tu disse isso da penúltima vez e da última vez também. — Ela revira os olhos.
— Tu é muito mulherenga, viu? Se ajeita logo que se não o karma vem. — Foi a vez de Kerolin falar.
— Errada. Eu não sou mulherenga, eu só gosto de viver novas coisas, é bem diferente.
— Por isso que a minha mulher não gosta de tu, má influência do cacete, nam. — Marta, que antes estava no celular, brinca. Todo mundo solta uma risada.
— Oi?! A Carrie me ama, ela é doida por mim, me chama até de filha. — Finjo estar ofendida.
— Na tua frente, né? Porque quando tu sai... — Ela levanta os dois braços como se quisesse dizer: "pois é".
E assim continuou a nossa noite até dar 01:00 da manhã e todo mundo resolver que estava tarde e subir pro seu quarto. Esses momentos de descontração são os mais importantes pra nós, por isso sempre prezamos e tentamos reservar uma parte do nosso dia pra distrair de toda pressão e responsabilidade que está nos nossos ombros. Em meio a implicâncias, xingamentos e muita humilhação, seguimos firme e forte na luta de aguentarmos uma as outras.
[...]
Primeiro capítulo... Espero que tenham gostado, primeiro fanfic que eu realmente posto, apesar de ter várias nos rascunhos aqui do Wattpad.
Viram o vídeo da Carol indo ver a Anne de bicicletinha? Tão piticas! Minhas mães.
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Speranza. - Carol x You.
RomanceEM ANDAMENTO! S/N, a habilidosa meio-campista do Juventus, e Ana Carolina, a poderosa atacante do Savino Del Bene, se encontram na vibrante Vila Olímpica durante os Jogos de Paris 2024. Entre os treinos intensos e a pressão das competições, um senti...