Mãe,
"namoradinho"? Não acredito que a senhora falou isso! Bom, pelo menos dessa vez não foi na frente de ninguém...
Sabe, acho que preciso te explicar um coisa: o Guilherme não é meu namoradinho, ele é meu NAMORADO. Vou traduzir: não é um caso de amor platônico, não é um romance bobo de quarta-série, escondido, é pra valer. Eu estou apaixonada pelo Guilherme e gostaria que ele pudesse frequentar a nossa casa. Até hoje, mesmo com a senhora sabendo de nós dois – porque eu sei que a tia Sandra já tinha te contado que estávamos ficando – você nunca falou que podíamos ficar juntos aqui em casa, nunca convidou ele para subir, a gente tá sempre lá embaixo, no play. Eu queria que a senhora levasse meu namoro a sério, porque ele é pra valer. O Gui não é mais o filho dos vizinhos, ele é meu namorado.
Preferi escrever essa carta porque, pelo menos assim, consigo falar sem ser interrompida com um "NÃO!". Sinceramente, não sei como você encara meu namoro, nem se aprova ele, porque a única coisa que você disse foi "Júlio, está sabendo que agora a Isadora tem um namoradinho?" com um risinho no final, e nós também nunca conversamos sobre esse assunto. Aliás, teria sido bom se, antes de contar para o papai a senhora tivesse tido a consideração de conversar comigo. Sorte minha que o papai é bem mais tranquilo que você.
Mas, então, caso a senhora esteja numa boa com essa notícia, eu queria dizer que, se o Gui é meu namorado, eu gostaria de sair com ele. Sabe, para o shopping, para tomar um açaí aqui embaixo ou comer uma pizza... Para assistir um filme na casa dele... É isso que qualquer casal de namorados faz. Aposto que você e o papai faziam a mesma coisa, né?
Pensa nisso! Pode me responder com outra carta se não quiser conversar, tudo bem!
Beijos da sua filhota!
