PARTE II - continuação 6

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- Bom, essa aqui também é sobre emagrecer - mamãe interrompeu meus pensamentos. Acho que já consegui deixar claro o motivo da minha preocupação.


- Deixa eu ver. - peguei a carta para relembrar - Mãe, esta não é só sobre emagrecer, a parte mais importante é que a senhora, naquele dia, usou emagrecer como condição para eu sair com os meus amigos.


- Você queria ir a um rodízio de pizza.


- E não vejo nenhum problema nisso, já que eu não estava de regime.


- Filha, você saber que precisa cuidar sua alimentação, você tem facilidade para engordar.


- Mãe, eu não me importo de engordar, eu me importo de não poder ir a uma pizzaria.


Nos encaramos por um tempo.


- Não consigo me acostumar com isso. - mamãe bufou apoiando a cabeça em uma das mãos.


- Ok, esquece a pizza. Mas, quantas vezes a senhora já me proibiu de sair sem motivo?


- O fato de você desconhecer meus motivos não significa que eles não existam. Nem sempre eu vou poder te falar e nem sempre você vai entender.


- Por que???


- Porque preocupação de mãe é algo que nem sempre dá para explicar!


- Eu não admito ficar sem explicações!


- O Rio de Janeiro estar violento já não é o bastante para você?


- Eu não sei de onde a senhora tira tanta violência!


- Não sabe porque eu te protejo dela! Se te deixasse ir e vir sozinha toda hora como você quer, com certeza saberia do que estou falando, se não sabe é porque o meu modo de lidar com a situação está funcionando.


- Mãe, algum dia eu vou precisar ir e vir sozinha. E eu preciso me acostumar com isso!


- Eu tenho certeza que se acostumar com isso aos 20 será menos mal do que aos 14, 15... Eu sei que é inevitável, que você passará por situações difíceis na rua, mas enquanto eu puder evitar, eu vou evitar. E você precisa agradecer por ter alguém que zele por você.


Me calei e refleti. De certa forma, agradeci.


- Mas este não foi o caso da pizzaria.


- Não, não foi, Isadora! - aumentou o tom de voz perdendo a paciência - Eu não queria que você se empanturrasse de pizza mesmo!


- É sério? - pergunte com os olhos arregalados.


- É claro que é sério. Eu não falei "enquanto você não emagrecer não vai a lugar nenhum" por acaso. Eu estava falando sério.


- A senhora não tem o direito de controlar o que eu como!


- Tenho sim porque sou sua mãe e sei o que é melhor para você! Estou cansada dessa contestação toda!


Meus olhos se encheram de lágrimas e tudo o que pensei que havia construído durante a conversa estava indo por água abaixo. Estava bom demais para ser verdade. Aliás, nem fazia muito sentido. Essa sim era minha mãe, explosiva, autoritária. O resto, estava mais para sonho do que para realidade.


Por um milagre, ela percebeu meu choro e, com algum esforço, muito, na verdade, começou a caminhar pelo quarto respirando fundo.


- Para, para de chorar. - "que bela forma de tentar evitar um choro" - pesei. Isadora, para com isso. Nossa conversa estava indo tão bem...


A intensidade das minhas lágrimas me davam a sensação irritante de que eu poderia, inesperadamente, sair de mim, literalmente.


- Filha, se acalma. Eu quero muito chegar na próxima carta, sei que é importante para você.


Me dei conta de que a carta da qual ela falava era sobre a minha relação com o Gui, sobre o que as pessoas chamam de "dar mais um passo no relacionamento", e eu precisava muito falar sobre isso.

Mãe, esse livro é pra você!Onde histórias criam vida. Descubra agora