PARTE II - continuação 3

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De repente, simplesmente, estávamos falando da próxima carta, sobre o Lego, e o clima ficou muito mais leve.

- Ele foi a melhor coisa que me aconteceu. – sorri.

- Eu também gosto dele. – mamãe concordou. A questão é que - prosseguiu ela – não é fácil cuidar de um cachorro. E, naquele dia, depois de um dia inteiro de trabalho, eu só pensei que teria mais trabalho ainda com ele aqui em casa. Seu pai não se preocupou com isso. Como sempre, só pensa em te agradar a qualquer custo sem pensar que a sua felicidade trará mais transtornos para a minha vida.

- Como é? – intervi cautelosa.

- Seu pai não mede as consequências!

- Você disse que a minha felicidade traz transtornos para a sua vida.

Naquele momento, era como se o mundo tivesse parado de girar. Não existe uma história sobre "as mães querem a felicidade dos filhos sempre em primeiro lugar"? Esta também não era verdadeira?

- Eu não disse isso!

- Você disse! – me levantei da cama prestes a ir embora.

- Não tem nada a ver com você, Isadora! Tem a ver com o seu pai! – freei minha partida e escutei – Quando você se casa com uma pessoa, espera que seja para compartilhar, dividir. Espera que seja com a finalidade de um querer o bem do outro, mas, às vezes... Na maioria da vezes. Não pensa em mim. Não compartilha comigo. Eu só queria que ele tivesse compartilhado comigo a ideia te adotar um cachorro, que ele pedisse minha opinião. Ele simplesmente ouviu o seu pedido e agiu sem conversar comigo! Eu não queria um cachorro!

- Está vendo? Se ele tivesse ido falar com a senhora o Lego não estaria aqui agora, você não teria permitido!

- E se eu não tivesse permitido? Qual seria o problema? Todas as suas vontades precisam ser satisfeitas? E as minhas vontades, Isadora? Não importam? Eu também faço parte dessa família!

Ao ouvir isso, imediatamente lembrei da carta que escrevi a ela dizendo que eu também sou parte dessa família. E, de repente, em uma fração de segundos, eu entendi que ela poderia se sentir da mesma forma que eu. Refleti, então, sobre se eu não estava sendo egoísta demais, exigindo demais. A partir daí, a distância entre nós diminuiu, pois percebi que ela era como eu. Minha mãe não podia suprir todas as minhas necessidades e eu precisava amá-la mesmo quando ela não fosse capaz de suprir alguma.

Como em um telão, a linha temporal que a professora de História desenha no quadro para explicar alguma matéria se formou em minha mente e eu enxerguei minha mãe nesta linha. Mamãe estava na minha frente, mas não no fim, portanto ainda estava aprendendo e isso lhe dava o direito de errar.


Mãe, esse livro é pra você!Onde histórias criam vida. Descubra agora