PARTE II - continuação 1

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- Ok, Isadora. Vamos para a próxima.

- Nada sobre o BV?

- Você já está com o garoto há dois anos!

- Ok...

- 13 de fevereiro de 2013. –falou.

- Eu me lembro muito bem deste dia.

- Tudo porque eu não deixei você sair?

- Tudo porque a senhora nunca me deixa sair!

- Não seja exagerada. Parece que você tem a mesma idade da época em que escreveu esta carta.

- Não estou sendo exagerada.

- Isadora, você sabe como é o carnaval do Rio de Janeiro?

- Não! Justamente porque eu nunca pude conhecê-lo!

- É uma época perigosa, com muita gente bêbada e mal intencionada na rua. Você não tinha nem 13 anos! – mamãe aumentou o tom de voz.

- Agora eu já tenho quase 15 e mesmo assim não sei como é! – aumentei o tom mais ainda.

Ficamos em silêncio.

- Eu não quero que você conheça.

- Então não tinha nada a ver com a fato de termos acabado de chegar de viagem e de eu precisar desfazer as malas?

- Tinha... Mas o principal sempre foi a preocupação de ver você na rua, principalmente no carnaval.

- Mãe, - respirei fundo – eu preciso viver.

- Sem drama! – virou para o outro lado impaciente.

- Você é egoísta. – afirmei de forma seca, com o olhar paralisado.

- Não fale assim comigo! – ela ergueu o dedo indicador.

- Você simplesmente não se importa com o que é importante para mim. O que eu quero não significa nada para a senhora.

- Isso não é verdade. Eu faço tudo pensando no seu melhor!

- Mas a senhora está errando. Tento te mostrar, mas você se nega a ver. Prefere insistir nesse "método" manipulador sem me ouvir ou tentar mudar.

- Ah, que lindo. Ouvindo conselhos de uma garota de 15 anos, que não sabe nada sobre ser mãe...

- Mas eu sei sobre ser filha! – interrompi imediatamente. Mãe, a senhora já foi filha? Se lembra de como era?

Mamãe apoiou o cotovelo na escrivaninha e a testa entre o indicador e o polegar. Murmurou impaciente e, estranhamente, corajosamente, segui em frente.

- Eu sei que a próxima carta é sobre o Gui. Quem foi o seu primeiro namorado? – perguntei tentando suavizar o clima. Ela soltou uma risada em um misto de lembrança feliz e irritação.

- Um garoto da escola. Mas já estávamos no último ano, não no primeiro do ensino médio.

- A senhora gostava dele?

- É óbvio que eu...

- Então ele não era só um namoradinho, certo? – interrompi sua fala e ela estreitou os olhos para me responder, continuando do ponto em que parou.

- É óbvio que eu achava que gostava. Filha, – tentou ser paciente –nessa idade a gente pensa que vai ser pra sempre, mas, depois... vem outro namorado, e outro. Até percebermos que o primeiro era só um namoradinho mesmo.

- Eu levo meu namoro a sério. Estamos juntos há muito tempo. – falei convicta.

- Eu também levo seu namoro a sério, Isadora. Não quis desqualificar sua relação, mas talvez você ainda tenha outros namoros sérios.

Ficamos caladas por um tempo, eu, absorvendo suas palavras, ela, nitidamente impaciente enquanto mexia nas folhas soltas em suas mãos.

- Quero falar desta aqui! – ergueu uma das cartas e esticou até mim, quase colando-a em meu nariz.

Era uma das cartas sobre o meu peso. Respirei fundo.    


Mãe, esse livro é pra você!Onde histórias criam vida. Descubra agora