PARTE II - continuação 5

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Você é durona, mãe. – e então uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

- A senhora não tem ideia das coisas que fala e da força das suas palavras.

- De qual carta você está falando agora, Isadora? – perguntou impaciente. Desta aqui? – apontou.

- Pode ser, tanto faz. Estou falando dessa, estou falando de todas. "Enquanto você morar debaixo do meu teto..." – reproduzi uma de suas falas mais comuns.

- Ah, Isadora, pelo amor de Deus. – revirou os olhos. Essa frase já virou bordão. Todos os pais do mundo falam isso.

- E daí? Mãe, esse teto também é meu! Ele é mais seu porque a senhora paga por ele?

- Sim!

- Não! Eu só não pago por ele porque ainda sou criança, quer dizer, adolescente. Quando a senhora ficar bem velhinha e for morar na minha casa, como vai ser? – mamãe permaneceu calada. Eu não vou querer que a senhora se sinta visita na minha casa, vou querer que se sinta parte dela.

O silencia na boca e nos olhos da minha mãe mostrou o quanto tudo o que eu estava falando ganhava sentido para ela. Era como se uma lâmpada esclarecedora tivesse se acendido sobre sua cabeça.

- Só falo isso para que você entenda que precisa me obedecer. – falou um pouco desolada.

- Eu preciso te obedecer porque a senhora é minha mãe, não porque a casa é "sua". – isso parecia tão óbvio para mim, porque não parecia para ela? Essa é a nossa casa.

- Esse é nosso lar. – mamãe completou e foi ao meu encontro para um abraço.

- Como você chegou a todas estas conclusões?

- Pensando. O que a senhora acha que eu faço todas as vezes que você não me deixa sair? – soltamos uma risada.

Quando o riso passou, mamãe pegou em minhas mãos e olhou nos meus olhos, como raras vezes havia feito.

- Você está se tornando uma grande mulher.

Sua fala inundou meu coração de uma paz e felicidade que eu nunca tinha experimentado.

- Acho que podemos parar por aqui. – falei, querendo poupá-la de sentimentos de culpa.

- Parar com o que? Com a conversa sobre as cartas? – fiz que sim com a cabeça. De forma alguma! Eu quero continuar.

Mamãe recuperou o bolo de cartas e identificou a seguinte, mas desta vez eu não me lembrava de qual se tratava. Pelo menos não até ela abraçar o papel e começar a chorar.

- Mãe, me desculpe. Me desculpe!

- Você não precisa se desculpar, é natural, você era criança.

- Eu não tinha noção do quanto nossa presença era importante.

- Eu sei, eu sei, filha.

- Acho melhor pararmos com isso.

- Não, só vamos mudar de carta. Eu ainda me emociono muito quando penso na minha mãe.

De repente, pensei "Como eu ficaria caso minha mãe morresse?". A sensação foi tão ruim que, não importa o quanto nossa relação seja difícil, quero minha mãe viva. Comigo. Do meu lado. Em frações de segundo lembrei de uma colega da sala de aula cuja mãe já morreu. E, mais rápido ainda, pensei naqueles que não têm ninguém.

A morte da minha avó me fez repensar totalmente o valor e a importância da família. Sua morte me mostrou que preciso ser grata a tudo que tenho.

Mãe, esse livro é pra você!Onde histórias criam vida. Descubra agora