Levantei da cama rapidinho e espiei as cartas que faltavam. Elas não eram muito legais, peguei pesado com minha mãe. E, agora, ela tinha sido tão legal comigo ao conversar sobre minha possível primeira vez que eu não tinha coragem de seguir adiante, não para magoá-la. Precisava sumir com as cartas restantes e fazer morrer toda essa discussão. Enquanto pensava e controlava sua aproximação pelo barulho dos seus passos meu coração se acelerou e eu podia senti-lo forte se expandindo e retraindo dentro do meu peito, numa sensação de adrenalina intensa e real.
- Isadora? – mamãe adentrou o quarto no mesmo instante em que fechei a gaveta. Temos mais o que conversar.
- Não temos não. – respondi ao virar para ela.
- Não precisa esconder as últimas cartas, eu sei bem do que elas falam.
- Estou cansada, não quero mais conversar. – mamãe torceu os lábios e franziu a testa mostrando não acreditar.
Caminhou até mim e me puxou pelas mãos. Nos sentamos de mãos dadas uma de frente para a outra.
- Eu te amo. – foi o bastante para meu coração se inundar e através de lágrimas extravasar. Tenho dificuldade de expressar isso a você, de ser afetuosa e sensível. Me desculpe...
- Mãe...
- Filha, me escute. Todas as vezes que te proíbo de algo, que imponho limites e que reclamo de você é pensando no seu melhor, é acreditando que por meio dessas críticas você irá se tornar uma grande mulher. Quando falo para você emagrecer é pensando em te poupar de piadinhas...
- Eu não preciso emagrecer para evitar isso, eu preciso aprender a me defender quando escutar qualquer coisa.
- Tudo bem, é uma opção. Mas, seja como for, a minha estratégia também visa o seu melhor. E, não fosse por essas cartas, eu jamais saberia de todo seu incômodo.
- Porque a senhora não repara em mim, se reparasse eu não precisaria escrever.
- Não tenho como estar atenta a tudo o tempo todo. Você também não percebe quando não estou bem, Isadora.
- Precisamos conversar mais.
- Precisamos. Você está certa. – então ela apertou forte minhas mãos e olhou nos meus olhos molhados. Me desculpe por ter feito dessas cartas seu último recurso. Por ter sido tão descuidada com a nossa relação. A verdade é que dar ordens é muito menos trabalhoso do que chegar a um consenso. O meu lugar de mãe, em dias difíceis de trabalho por exemplo, me permite chegar em casa e dizer não sem pensar e sem justificar. Isso não é bom para você, mas me poupa um trabalhão. Entende?
- Sim...
- De qualquer modo, isso não é justo com você e tentarei mudar.
- Obrigada.
- É difícil aceitar que você cresceu e que agora eu não sou mais a dona da verdade. Era a mim que você recorria, minha palavra sempre foi lei. Me deparar com uma situação nova como esta, minha filha questionando minha forma de educar, me tira de um lugar confortável ao qual me acostumei. É como jogar um balde de água fria numa banheira onde tudo corre muito bem, calmamente, sob controle. – forjei um olhar de compreensão me agarrando à certeza de que um dia, quando eu for mãe, realmente compreenderei sua fala, por ora, minha expressão não passava de consolo.
- Eu também queria dizer que você está certa sobre mim. Sobre minha amargura, sobre minha infelicidade. Não sei como deixei as coisas chegarem neste ponto, mas meu nível de estresse não me deixa extrair prazer de momentos que eu sei que deveriam ser felizes. Muitas vezes, é mais forte do que eu. A necessidade de ser mãe, dona de casa, esposa e profissional me colocam num modo de execução automático para que tudo possa sair a contento e, mesmo assim... você e seu pai não estão satisfeitos. – reprimiu com os dedos as lágrimas que ameaçavam cair.
- Vou tentar compreender mais o seu lado. E também vou começar a reconhecer suas qualidades, pois não posso exigir sem dar. Reclamações não levam a nada.
- Críticas sim.
- E elogios também. – sorri. Adoro quando a senhora faz macarrão com salsicha de improviso.
- Gosto quando você faz um rabo de cabelo e não escode seu rosto atrás dessa franja.
- Gosto de quando a senhora recebe bem o Guilherme.
- Gosto de quando você arruma o seu quarto.
- Pena que não é sempre que isso acontece. – soltei uma risada.
- Vamos enaltecer os pontos positivos ao invés de reclamar dos negativos, ok?
- Gostei das flores que a senhora escolheu para a festa de amanhã.
- Gosto de ver a grande mulher que você se tornou. Amanhã será um grande dia e eu espero... Isadora...
- Isadora?
- Isadora? Filha, acorda! Quer perder seu dia de debutante? Seu pai já está se arrumando.
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