3. Prazer, sou Yoko

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[POV Yoko]

Abro os olhos com dificuldade, tentando conciliar quem sou, quantos anos tenho e até lembrar dos detalhes parece que vai demorar. Sinto uma forte dor na costela, me pergunto mentalmente onde machuquei... Não fiz exercício algum, não bati em nada, não que eu me lembre pelo menos, acho que o voo me deixou tão cansada que sinto que tenho 200kg a mais. Ao lembrar do voo meu corpo se levanta como se estivesse sendo abduzido.

- Meu deus! Eu esqueci que estou no Brasil!

Levanto as pressas, meu pé engata no cobertor e caio no chão feito cocô de passarinho. Reclamo da dor que estou sentindo na costela e agora no meu joelho, mas continuo a procura do meu celular. Depois de minutos procurando, encontro-o dentro da minha bolsa de mão e vejo a enxurrada de mensagens que a tela marca, além de três ligações perdidas da minha mãe. Coço os olhos com a parte de trás da mão, e faço um pequeno bocejo preguiçoso, dormi umas 10 horas e meu corpo parece mais cansado que antes.

Ligo para minha mãe, que atende aliviada na primeira chamada, mesmo que tenha sido informada da minha chegada, a mulher precisava ouvir minha voz, depois de alguns sermões, explico da minha fadiga e fazemos um vídeo chamada. Mostro o meu quarto, desço para ela conhecer melhor o lugar que estou, e a Dona Márcia aparece no fundo, a mulher sorri lindamente e cumprimenta minha mãe sem entender muito, faz dois acenos com a mão direita, e logo volta a lavar sua louça. Explico a mamãe quem é aquela senhora, que nada mais é que a minha anfitriã, uma querida, ela e mais três intercambistas que vão viver comigo. Abro a porta da frente e mostro toda a rua lá fora do condomínio fechado, algumas pessoas caminham, há gritos de crianças que brincam no parquinho e umas senhoras que me observam, acenam em cumprimento.

Depois da ligação, olho o relógio que marca 19:15, e quase que por costume, vem a mente se Marissa está em casa, mas é bem provável que sim, afinal agora estamos no mesmo fuso horário, e a menina dificilmente sai de casa nessas horas. Abro nossa conversa e ligo pra ela, que atende na segunda chamada.

- Ooi Yoo, eu estava esperando você me ligar. Eai??? Tudo certo contigo?

- Está sim! - sorrio pra a menina e viro novamente minha câmera para a mesma observar o espaço - aqui é onde vou morar! Achei muito lindo aqui.

A menina se aproxima melhor da tela como se não enxergasse, para que segundos depois esbraveja assustada com o lugar.

- Nossa! Você está morando num condomínio fechado! Que legal! Nem tinha percebido que era isso. Já desarrumou as malas?

- Não - digo desanimada, honestamente nem tive tempo de pensar nisso, agora que foi mencionado, meu corpo fica pesado só de pensar em organizar tudo - Eu estou tão cansada! E pensar que a amanhã já tenho que ir para a escola... Aliás quando vamos conseguir nos ver? Depois da escola podemos? Será que dá tempo?! Mal espero pra poder te abraçar!

Minha amiga sorri pra tela tão ansiosa quanto eu, depois de tantos anos conversando a distância, era estranho pensar que falaríamos pessoalmente. Marissa chorou várias vezes em ligação ou já desabafou sobre coisas que eu queria muito poder ter a consolado, e muitas vezes também precisava disso, não me sinto confortável na companhia de estranhos, demoro muito pra criar intimidade, e até isso acontecer as pessoas se cansam de mim e seguem em frente. Por isso, Marissa é a única pessoa com quem converso, que sinto confortável em dizer o que estou sentindo a respeito de tudo.

- Eu também mal espero pra te ver! Vamos fazer o seguinte, me manda a localização de novo da sua escola, vou ver se tem um café por perto que a gente se encontrar, que acha?

Confirmo com ela e marcamos o lugar, desligo a ligação e decido não remediar! Vou organizar minhas coisas para não causar nenhuma má impressão para minha anfitriã. Depois de arrumar tudo, Dona Márcia me oferece o jantar, comemos só nós duas e ela decide me fazer as perguntas tradicionais, tenho dificuldade de entender algumas palavras e rimos muito tentando fazer a comunicação acontecer, mas ela faz eu me sentir acolhida, inclusive aprendi umas palavras novas. Ela disse para me sentir em casa, já que essa seria a minha durante 1 ano.

Negligência - FayeyokoOnde histórias criam vida. Descubra agora