Negligência - Fayeyoko

16. Toma lá da cá

[POV Faye]

- Você quer me matar do coração? Porra Lux! - falo para a mulher na minha frente, a mesma segura o queixo como se fosse cair, mas é nítido a marca vermelha que na manhã seguinte estará roxa.

- Desculpa... Eu acho que atrapalhei sua noite - a mulher solta uma risadinha sem vergonha, e eu rio também, mas com uma raiva enorme da mulher só de lembrar.

Comentei com ela que queria passar a tarde com Yoko. O meu objetivo era conhecer mais a menina,  um momento só nosso, para isso nada melhor que cozinhar não é mesmo? Gosto de cozinhar para pessoas do meu ciclo social, não sou uma pessoa de falar o que sinto, mas deixo muito claro nas minhas atitudes, espero que Yoko tenha percebido isso. 

Caminho até a recepção e finalizo toda a papelada, a pessoa que estava presente na briga encara Lux com ódio, o homem está bem pior que a minha amiga, e isso claro que me causa um orgulho enorme.

Quando nossas vidas se ajeitaram no Brasil, tanto eu quanto ela nos inscrevemos para defesa pessoal, a mulher decidiu continuar com Muay Thai e eu só fui de acompanhante. Ambas sabemos nos defender, mas entre mim e Lux, com certeza a mulher sabe bem como ganhar uma briga, conhecendo bem a minha amiga, posso jurar que o soco no seu maxilar foi o primeiro golpe, porque o restante foi no rosto do homem, que além de estar roxo e vermelho, um dos olhos já esta inchado, o que quase me faz rir porque a cara dele brabo, com o rosto do jeito que está é hilário. 

Sempre soube que algum momento ou outro a mulher iria se complicar com suas investidas, e claro que hoje não foi diferente, dar em cima de mulher comprometida não deveria garantir um soco na cara, mas foi o caso de hoje, e como se não bastasse, pela primeira vez virou caso de polícia. Já aconteceram outros momentos em que Lux se envolveu com algo do tipo, mas normalmente fica no bate boca, o que não é o caso de hoje.

Agradeço ao moço que me atendeu e volto a atenção a moça briguenta do meu lado. Lux levanta da cadeira de plástico de forma marrenta, cutuca o nariz e me encara assustada pela atenção que lhe é ofertada. 

- O que foi? - pergunta erguendo os olhos

- Você tem que parar com essas coisas!

- M-Mas... eu literalmente só comecei a conversar com ela, e olha que recebi uma resposta bem positiva quando tentei outras coisas.

Suspiro pesadamente, parece que estou conversando com o meu adolescente do ensino médio. 

- Não interessa! Se você não tivesse histórico ainda, mas não custa ser um pouco mais cautelosa?

- Pior que dessa vez eu só cheguei porque ela tava me olhando, te juro de pé junto! Achei que ela não era comprometida, a mão dela estava escondida no casaco, daí o cara voltou e cara, você tinha que ter visto! O cara simplesmente me socou! Sem mais nem menos! Quem faz um negócio assim sem conversar?

- Ué! Vai que ele fala com as mãos?

- Ha-ha! Hilária você, hilária! Com certeza esqueceram de colocar essa na lingua de sinais.

Descemos o pequeno degrau da delegacia, e meus olhos se cruzam com uma figura pequena e toda arrumada. A mulher me encara e desencosta da parede, e muda o olhar para a minha amiga.

- Oi - fala num tom desanimado.

- Oi - Responde Lux. Um silêncio desconfortável se estabelece, e quando a gente decidi continuar nosso caminho, a mulher segura a mão da minha amiga,que se assusta com o contato e olho para a entrada do local, para me certificar que o homem ainda não saiu, mas nada dele.

- Quero te pedir desculpas pelo que aconteceu hoje!

- Ei... Está tudo certo. Isso aqui é como uma massagem pra mim. - solto um barulho com a minha boca, debochando da situação e Lux me encara braba, como se dissesse "Qual é, colabora comigo aqui", claramente ouço ela dizendo isso mentalmente.