amor não tão fraternal

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Não somos, não, nós não somos amigos
Nem nunca fomos
Nós apenas tentamos manter esses segredos em uma mentira
Mas se eles descobrirem, tudo vai dar errado?
E os céus sabem, ninguém quer isso
(Friends — Ed Sheeran)

Dinastia Joseon
Inverno de 1548 d.C

O inverno estava mais rigoroso naquele ano. A neve que cobria o chão da floresta era densa e afundava sob os pés tornando muito difícil a caminhada. Apesar de ser uma rota muito utilizada, até mesmo a trilha estava coberta.

O homem parou diante do arco de madeira que indicava a entrada da cidade. Havia uma ponte firme que passava sobre um riacho e assim que passasse por ela, estaria no centro.

Estava frio e ele estava faminto. Havia o típico tumulto do outro lado da ponte, coisa comum do dia a dia, apesar de não ser tão movimentada como no verão.

Segurou as rédeas do cavalo e passou a mão no pelo do animal cansado da longa viagem.

— Calma, Garu — disse ele, pulando e cravando os pés no chão — Nós já chegamos.

Jiang não via aquele lugar há três anos, desde que sua família perdeu tudo e se obrigou a ir para o interior viver na fazenda da família de sua mãe.

A verdade era que o irmão mais velho dela, seu tio, fazia questão de tratá-los como servos que lhe deviam a vida.

Não era uma vida agradável, ainda mais quando Jiang cresceu com uma vida confortável antes de tudo desabar.

Seu corpo todo estava doendo e ele ainda tinha as marcas no corpo de quatro dias antes, quando Jiang acertou a cabeça do tio com um martelo por ele estar batendo em sua mãe. Seus irmãos ficaram apenas olhando, ele foi o único a defendê-la, e isso o fez ser espancado por seus primos e colocado para fora.

Sua mãe e seus irmãos não fizeram o menor esforço para ajudá-lo. Mas nem havia o que pudessem fazer, senão seriam os próximos a ficarem sem um teto sobre a cabeça na época mais fria do ano.

Jiang estava por conta própria. Ele tinha uma bagagem pequena com algumas roupas, um dinheiro que sua mãe e seus irmãos colocaram em um pequeno saco de couro e um cordão.

Aquele cordão que ele tinha recebido do príncipe foi o que o levou até ali.

Havia uma promessa antiga de que ele sempre teria um abrigo na capital e estava na hora de testar a sorte.

Ele atravessou a ponte, puxando o cavalo.

Suas roupas não eram mais as que ele costumava usar quando esteve ali da última vez, e conforme passava pelas pessoas, o olhavam como se fosse um forasteiro.

E de fato ele era.

Jiang usava uma capa longa que cobria parte de seu rosto e o mantinha parcialmente aquecido, apesar de o frio tão rigoroso já estar deixando seus dedos das mãos num tom de roxo horroroso.

Ele se sentia um tolo a cada passo.

Como podia ser presunçoso de achar que depois de três anos, um príncipe ainda se lembraria daquele comerciante de língua afiada que cruzou seu caminho por dois dias e foi embora?

Seria humilhante, provavelmente.

Mas ele precisava tentar.

Não tinha nada a perder por ser presunçoso.

Quando parou diante da entrada da casa, olhou para os dois guardas. Os homens eram enormes e Jiang, que já estava sem comer há dois dias, provavelmente cairia com um único tapa de um deles.

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