Capítulo vinte e um

338 36 20
                                    

Sons típicos de uma casa pela manhã estavam vindo de algum lugar. Gavetas eram abertas e fechadas com cuidado, pés descalços caminhando pelo chão, o ruído da cafeteira. Soraya abriu um olho, mas não se mexeu.

Não podia, para não perder nem a posição perfeita na roupa de cama aconchegante e fofa, nem o cheiro de Simone. Nunca dormira tão bem, sem dúvida. Ela acordou em algum momento com vontade de fazer xixi e se viu presa à estação de recarga, com a respiração leve de Simone colada em sua nuca. E decidiu segurar a vontade.

O que ela tinha falado na noite anterior?

Alguma coisa sobre empadões.

Também se lembrava de tentar seduzi-la, sem sucesso.

Que derrota.

Houve uma discussão no carro, voltando para casa.

Nada de sexo.

Ela só precisava ver como estava o humor dela para descobrir se
havia falado ou feito algo
irremediavelmente constrangedor.

Havia uma grande chance disso ter acontecido, porque senão ela ainda estaria na cama, não é? Tipo, por favor. Uma mulher cheia de tesão. Bem aqui.

A bexiga de Soraya estava quase estourando, e ela se sentou, grata pelo bom funcionamento do método Thronicke, e andou na ponta dos pés até o banheiro.

Ignorou a sensação quente e viscosa no estômago quando encontrou sua escova de dentes da manhã anterior posicionada ao lado da de Simone, no armário acima da pia. Onde mais ela deveria colocá-la?

Com a escova na boca, pegou um frasco de perfume fechado e cheirou. Mas aquilo não era da capitã, com certeza, e não conseguia imaginá-la usando aquela fragrância.

Fora isso, só havia um desodorante. O armário do banheiro dela em Los Angeles provavelmente daria um faniquito em Simone de tão lotado que era.

Ela terminou de escovar os dentes, jogou água no rosto, penteou o cabelo com os dedos, começou a descer as escadas... e... e tirou a sorte grande.

Simone estava em pé na cozinha, só de camiseta e calcinha preta.

Soraya se espremeu contra a parede para observá-la sem ser descoberta.

Ela estava encurvada sobre a bancada da cozinha, lendo um jornal, e, que maravilha, aqueles másculos, tudo o que ela queria de café da manhã. De onde saíram aquelas coxas? Ela as usava para ancorar o barco? Eram generosas, e...

— Quer café? - perguntou Simone, sem tirar os olhos do jornal.

— Aham? — Ela fez o som bem alto e terminou de descer as escadas, totalmente ciente de que Simone
estava de calcinha, enquanto ela estava igual, não usava nada além da camiseta dela e a calcinha. - Hum, sim? Café, claro. Claro.

Simone esboçou um sorriso.

— Certo.

Soraya franziu o nariz para ela.

— Que história é essa de ficar ainda mais arrogante, hein?

Simone lhe serviu café, preparado exatamente do jeito que ela gostava.

— Talvez você tenha me falado ontem à noite, no bar, que fui a melhor transa da sua vida, disparado, disparado.

Ela sentiu um calor nas bochechas.

— Eu falei "disparado" duas vezes, foi?

Após lhe entregar o café, ela se recostou na bancada e cruzou os tornozelos.

Aconteceu naquele verão | Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora