Um

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O impensável estava se concretizando.

O relacionamento mais duradouro da vida dela... terminado num piscar de olhos.

Três semanas jogadas no lixo.

Soraya Thronicke olhou para o vestido de gala Valentino cor vermelho-sangue, de um ombro só, em busca de qualquer defeito, mas não conseguiu achar nenhum. As pernas bronzeadas estavam tão lisinhas que pareciam uma seda. Na parte de cima também, tudo parecia no lugar certo. A fita para levantar os peitos tinha sido surrupiada dos bastidores de um desfile em Milão, durante a semana de moda - estamos falando da fita mais sensacional de todas para segurar os peitos -, e aquelas belezuras estavam no ponto. Com o volume certo para atrair qualquer olhar e, ao mesmo tempo, transmitir uma vibe atlética a cada quatro posts no Instagram. A versatilidade mantinha as pessoas interessadas.

Feliz em ver que não havia nada de muito errado com sua aparência, Soraya mudou o foco para Carlos.

Primeiro para a calça pregueada do terno clássico Tom Ford, cujo tecido era impecável, sedoso; depois, para o luxo das lapelas imponentes e dos botões com monograma, e não conseguiu conter o suspiro. O namorado, impaciente, conferia as horas no relógio Chopard e espreitava a multidão por cima do ombro dela, o que só contribuía para a imagem de "playboy entediado".

Aliás, não foi o jeito frio, de alguém inalcançável, que a atraiu nele?

Caramba, parece que aquela noite do primeiro encontro foi há uns cem anos. Ela deve ter feito pelo menos duas limpezas de pele depois disso, não? Ainda existe isso de noção de tempo? Soraya se lembrava, como se fosse ontem, de como eles se conheceram. Carlos impediu que ela pisasse no vômito de alguém na festa de Rumer Willis.
Nos braços dele, vendo aquele maxilar bem definido, ela foi transportada para a Hollywood de antigamente. Uma época cheia de ricaços vestindo roupão de veludo e mulheres perambulando em longos robes de penas. Assim começou sua clássica história de amor.

E agora os créditos estavam passando na tela.

— Não acredito que você vai jogar tudo fora desse jeito - sussurrou Soraya, pressionando a taça de champanhe contra os peitos. Será que atrair a atenção de Carlos para eles o faria mudar de ideia? - A gente passou por tanta coisa.

— É, coisa à beça, né?

Carlos acenou para alguém do outro lado do terraço, e a expressão facial dele comunicava que dali a pouco iria lá falar com a pessoa.

Eles foram juntos a um eventinho para arrecadar fundos para o projeto de um filme independente intitulado O estilo de vida dos oprimidos e famosos. O roteirista e diretor era amigo de Carlos, então quase todos ali naquele encontro da elite de Los Angeles eram conhecidos dele. Nenhuma amiga dela estava presente para consolá-la ou facilitar uma saída digna.

Carlos reparou na relutância dela.

— Peraí, o que você estava dizendo mesmo?

O sorriso de Soraya estava quase sumindo, então ela injetou uma dose de ânimo, por precaução, porque era fundamental não parecer doida, ainda que por um triz.

Não desanime, mulher. Aquele não era o primeiro término dela, não é mesmo? Ela própria já tinha dado um pé na bunda um monte de vezes; várias delas, de forma inesperada. Afinal, aquela era a cidade dos caprichos.

Ela não havia percebido direito como as coisas mudaram rápido. Não até pouco tempo atrás.

Soraya não era velha, tinha 28 anos. Mas era, sim, uma das mulheres mais velhas da festa.

Aliás, de todas as festas em que estivera nos últimos tempos. Debruçada no guarda-corpo de vidro com vista para Melrose, estava uma estrela pop em ascensão que, com toda certeza, não tinha mais de dezenove anos. Ali estava alguém que não precisava da fita de Milão para empinar os peitos. Eram leves e firmes, e os mamilos lembravam a Soraya uma casquinha de sorvete.

Aconteceu naquele verão | Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora