Capítulo treze

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Simone observava através dos binóculos conforme
Westport tomava forma, reconfortante e familiar, no horizonte. Seu amor pelo oceano sempre tornava difícil o retorno para casa. Não havia outro lugar em que ela ficasse mais à vontade do que com as mãos ao leme, sentindo o motor zumbindo sob os pés e com um rádio ao alcance para que ela pudesse dar ordens. Com a certeza de que esses comandos sempre seriam obedecidos, sem
perguntas. O Della Ray era uma segunda pele, e ela a usava sempre que possível, ansiosa pela oscilação das águas, pelos golpes das ondas no casco, o cheiro do sal, do peixe e pelas possibilidades.

Mas aquela volta para casa não tinha a mesma sensação de sempre. Ela não estava contando as horas até que pudesse voltar para a água. Ou tentando ignorar as emoções que se agarravam no interior de sua garganta quando levava a tripulação em segurança para casa. Havia somente nervosismo daquela vez. Um nervosismo agitado, ansioso e banhado em suor. Sua mente não estivera focada nos últimos três dias.

Ah, eles tinham enchido a barriga do navio com peixes, feito a droga do trabalho, como sempre. Porém, uma garota de Los Angeles ocupou espaço demais na sua mente para seu gosto.

Só Deus sabia que aquela também não era a noite de explorar aquele espaço na sua mente.

Assim que eles ancorassem o barco e descarregassem a pesca para levar até o mercado, ela deveria comparecer ao jantar anual em homenagem a Desiree.

Todo ano, faça chuva ou faça sol, Mick organizava a reunião no Afunde o Navio, e Simone nunca falhava ao coordenar a escala de pesca de acordo com o evento.

Porém, daquela vez... ela se perguntava como passaria a noite sabendo que pensara em Soraya sem parar por três dias.

Não importava quantas vezes lamentasse a presença glamorosa dela na internet. Não importava quantas vezes lembrasse a si mesma de que elas eram de mundos diferentes e que Soraya não pretendia fazer parte do dela por muito tempo. Ainda assim, pensava nela.

Preocupava-se com o seu bem-estar enquanto ela estava no mar. Receava que ela não estivesse comendo os itens corretos dos cardápios que tinha deixado. Torcia para que a loja de ferragens tivesse visto seu bilhete e que ela não estivesse mais batendo a cabeça no beliche.

Pensava no corpo dela.

Pensava a ponto de sua mente perder o rumo.

Imaginava como ela seria macia debaixo dela, como provavelmente precisaria de atenção na cama e em como ela lhe daria isso. Muitas e muitas vezes, até que ela arranhasse suas costas.

Muitos dos pescadores a bordo começavam a verificar se tinham sinal no celular assim que avistavam o porto, e Simone, em geral, revirava os olhos para eles, sem a menor paciência. E agora ela estava com o celular na mão e ficava deslizando e colocando a senha, querendo dar uma olhada na droga do Instagram de Soraya.

Alguns dias atrás, ela mal tinha ouvido falar daquela porcaria de aplicativo e agora estava com o dedão sobre o ícone, pronta para se esbaldar com as fotos de Soraya. Ela nunca tinha estado tão excitada a ponto de precisar se masturbar no barco, porém tinha sido necessário na primeira noite. E na segunda.

Três barras surgiram no canto superior esquerdo da tela, e ela clicou, prendendo a respiração. A primeira coisa que viu foi o contorno branco de uma cabeça.
Clicou nela.

Soraya estava seguindo ela também? Ela grunhiu e olhou por cima do ombro antes de sorrir.

Havia uma foto nova no feed, e ela a aumentou, sentindo seu maldito coração acelerar dentro do peito.
A loira tinha seguido a sugestão dela e ido até a vinícola, e, caramba, Soraya estava linda.

Aconteceu naquele verão | Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora