Capítulo dezesseis

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Soraya observou Simone se sentar ao lado oposto da mesa e franziu a testa.

Pelo visto, não era fácil seduzir a capitã. Quando escolheu o vestido, ela não esperava que a peça chegasse a cruzar a porta da frente, mas lá estavam elas, sentadas na sua sala de jantar, um ambiente com um charme, prontas para comer uma refeição preparada por Simone.

E ela também comprou uma garrafa de champanhe para Soraya.

Soraya já ganhara joias de outras pessoas, já fora levada para restaurantes finos - um ficante muito empolgado até lhe deu um Rolls-Royce no seu aniversário de 22 anos. Não era segredo para ninguém que ela gostava de coisas sofisticadas. Mas nenhum desses presentes a fez se sentir tão especial quanto aquela refeição caseira.

Mas ela não queria se sentir especial ao lado de Simone. Queria?

Desde que chegara a Westport, já havia tido mais conversas francas com Simone do que com qualquer outra pessoa na vida, tirando Maya. Ela queria saber mais sobre ela, queria contar mais sobre si, e isso a fazia sentir um medo gigantesco.

Afinal, isso ia dar em quê?

Ela só ficaria três meses em Westport, sendo que já havia passado quase duas semanas. No dia seguinte, a capitã partiria e só voltaria dali a quinze dias. Depois, estaria sempre indo e voltando do mar, e cada viagem levaria três dias. Essa situação tinha todos os ingredientes para uma relação sem compromisso e temporária. Mas a recusa dela em rotular o que havia entre as duas deixava a porta escancarada para um vaivém de possibilidades.

Na verdade, ela nem sabia ser mais do que uma ficante.

E a marca branca ao redor do dedo dela, impossível de ignorar, e o fato de que ela era a primeira pessoa com quem Simone saía após tirar a aliança? Era demais para alguém cujo relacionamento mais longo durou apenas três semanas e detonou sua autoconfiança. O que ela esperava que acontecesse entre as duas, o que quer fosse... ela não poderia atender a essa expectativa.
E talvez esse fosse, na verdade, o problema.

A capitã de barco fortona aguardou em silêncio que ela desse a primeira garfada, com os cotovelos na mesa, sem prática nenhuma de como se comportar em um encontro.

Quando um músculo se contraiu na bochecha dela, Soraya viu que Simone estava nervosa pensando se ela iria gostar da comida. Mas tudo que passava pela cabeça dela devia estar estampado em seu rosto, porque ela ergueu uma sobrancelha enquanto a encarava. Após movimentar os ombros para liberar a tensão, Soraya espetou o garfo no peixe branco e macio, também pegou uma batata e levou tudo em direção aos lábios.

Mastigou.

— Nossa! Caramba, está ótimo.

— Está?

— Com certeza. - Ela deu mais uma garfada, e finalmente Simone começou a comer. - Você costuma cozinhar?

— Costumo. - Ela comia do jeito que fazia todas as outras coisas. Sem frescuras. Era espetar o garfo e colocar a comida na boca. Sem parar. - Menos nas segundas à noite.

— Ah, o Boia Vermelha é um compromisso semanal. Eu devia ter imaginado. - Ela riu. — Eu fico te zoando por ter uma rotina para tudo, mas provavelmente é isso que faz de você uma boa capitã.

— Sai da minha rotina esta semana, não foi?

— Foi. - Ela estudou Simone por um instante. Inclusive, advertiu-se para não se aprofundar demais no motivo de ela ter feito essa mudança. Mas sua curiosidade acabou falando mais alto. — E qual foi o motivo? Quer dizer, o que te fez tomar a decisão de - tirar a aliança? — mudar o planejado?

Aconteceu naquele verão | Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora