Capítulo quinze

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Simone arrumou os talheres na mesa da sala de jantar, tentando se lembrar da última vez que teve motivo para usar mais de um conjunto. Se Fox ou alguém da tripulação fosse lá, eles comiam com as mãos ou com garfos de plástico.

Soraya estava acostumada com o melhor, porém isso não poderia ser providenciado. Em vez de ir com calma depois de sete anos sem se envolver com nenhuma mulher, ela tinha mergulhado de cabeça em uma que talvez fosse impossível de impressionar.

Claro, ela estava intimidada pelo nível de luxo com que Soraya estava acostumada, porém não podia deixar que a tentativa a assustasse.

Tentar era o melhor que Simone podia fazer, pois... Soraya Thronicke tinha mexido com ela.

Durante a semana, Simone tinha assistido a cada segundo do trabalho dela no Sem Nome — e tinha começado a achar aquele jeito dela de garota rica que gosta de luxo e tudo do bom e do melhor... bem, adorável. Ela a dominava. Não a usava como desculpa para odiar trabalho manual ou para amar sapatos caros e selfies. E, caramba, toda vez que ela se estremecia por causa da sujeira sob as unhas, Simone queria deitá-la num travesseiro de seda e fazer todo o trabalho por ela, para que Soraya não precisasse passar por isso. Ela queria mimá-la.
Muito.

Era óbvio que Soraya odiava obras, mas ainda assim aparecia todo dia com um sorriso corajoso e fazia o trabalho. Além disso, arranjava tempo para levar Maya para ver Opal, e ela viu com os próprios olhos o contentamento dela crescer, dia após dia, pelo fato de ter uma avó. Percebeu o modo como ela mencionava Opal nas conversas sem soar formal ou estranha. Ela estava vivendo coisas novas e se saindo bem nisso.

Se ela conseguia, Simone também conseguiria.

A capitã abriu o freezer e verificou o champanhe de novo, esperando que o preço alto significasse que fosse passável. Tinha provado a boca de Soraya na noite anterior, e seu orgulho demandava só o melhor na língua dela. Ela precisaria ir além da sua zona de conforto por aquela mulher. Soraya não se contentaria com cerveja, hambúrgueres e um jogo no Afunde o Navio. Não tinha como. Soraya iria fazê-la se esforçar para mantê-la feliz, e Simone queria esse desafio.

Não tinha sido assim da primeira e única vez que namorara uma mulher. Não houvera urgência, ou ansiedade, ou um desejo voraz que nunca era saciado. Tinha havido aceitação, compreensão. Tudo era calmo.

Mas as batidas do seu coração enquanto ela subia na caminhonete não seguiam num ritmo tranquilo.

O Sem Nome ficava a uma distância que era possível cobrir a pé, mas talvez Soraya estivesse usando algum sapato desconfortável, então ela iria buscá-la e levá-la de carro. Sair de casa naquela hora não fazia parte da sua rotina, e todo mundo que avistava a caminhonete erguia as sobrancelhas, acenando, hesitante. Sabiam que ela partiria na manhã seguinte para a temporada de caranguejo, e era provável que estivessem se perguntando por que ela não estava indo dormir cedo com duas semanas de mar traiçoeiro pela frente.

Havia uma mulher que ela precisava ver primeiro. Era por isso.

Simone estacionou no meio-fio do lado de fora do Sem Nome. Testou a entrada da frente e a encontrou destrancada, então entrou e subiu as escadas até o apartamento de Soraya. Não era a primeira vez que a via vestida para matar, então não deveria ter ficado surpresa quando ela atendeu à porta, com um sorriso sedutor e um cheiro exótico. Num vestido tão curto que ela veria tudo se recuasse dois degraus.

Ela quase passou mal.

— Olá, capitã.

— Soraya.

Simone respirou fundo, fazendo tudo o que podia para evitar que a excitação instantânea não se tornasse evidente. Jesus, o encontro nem tinha começado ainda, e ela já precisava se recompor.

Aconteceu naquele verão | Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora