Capítulo vinte

321 36 30
                                    

Simone se encostou na parede do Afunde o Navio e ficou de braços cruzados, com um sorriso tranquilo no rosto, enquanto observava Soraya lançar sua mágica em todos que a cercavam.

Ela estava podre de bêbada... e adorável.

Todo mundo que falava com Soraya recebia a atenção total dela e saía como se tivesse ouvido os segredos do universo. Ela criava conexões quase instantâneas com as pessoas, caramba, e o pessoal a adorava.

Soraya percebia que estava fazendo isso?

Alguém gritou para o barman tocar Beyoncé, e as mesas foram empurradas ainda mais para o canto, o que fez o espaço se transformar de uma passarela exclusiva para Soraya em pista de dança, então só lhe restava ficar ali parada, observando-a, enquanto a pulsação se avolumava, com a maneira como ela balançava o quadril; os braços jogados para cima, livres e displicentes, e os olhos, sonhadores. Ela estava chamando a atenção de muita gente no bar e, sinceramente, Simone não gostava disso, mas Soraya era a garota por quem estava caidinha. Fazia parte do jogo ficar com ciúme.

Soraya parou na pista de dança e mudou de expressão ao franzir a testa. Em seguida, como se enfim tivesse sentido a presença de Simone, virou e olhou diretamente para ela. E, quando o rosto dela assumiu uma expressão de pura alegria e ela acenou com entusiasmo, Simone soube que a amava.

Deus era testemunha, tudo havia acontecido muito rápido, mas ela não foi capaz de pisar no freio. Não quando ela era o destino. Sua boca ficou seca, mas conseguiu acenar de volta.

Ela nunca havia sentido aquela emoção. Não era como o simples companheirismo do seu casamento. Nem como a relação de amor e ódio que tinha com o mar. O que sentia por Soraya a tornava uma jovem vivendo a agonia da primeira paixão, ao mesmo tempo que evocava suas raízes mais profundas e maduras. Em outras palavras, para ficar com essa mulher, Simone tomaria uma atitude e faria o que fosse necessário, com a merda do seu coração o tempo inteiro acelerado.

Mesmo que ela dedicasse cada gota de esforço para ficar com Soraya, talvez ela ainda fosse embora. Ela podia dançar até o pôr do sol e a qualquer momento voltar para aquela vida extravagante, deixando-a para trás, atordoada. Era o que mais a assustava.

Mas, com determinação, Simone deixou de lado esses pensamentos sombrios. Porque Soraya estava caminhando em sua direção naquele exato momento, toda corada por ter bebido e dançado, e ela simplesmente abriu os braços, confiante de que ela seguiria direto para um abraço. Seus olhos se fecharam automaticamente quando Soraya o fez, a boca distribuiu beijos pelo topo da cabeça dela.

Nossa, ela cabia em seu corpo de um jeito que lhe despertava um instinto protetor, pronta para lhe servir de escudo, ao mesmo tempo que a deixava excitada, faminta.

— Você veio - murmurou ela, alegre, ao ficar na ponta dos pés para cheirar o pescoço dela.

— Claro que vim, meu bem.

— Sanders está bem? A tripulação conseguiu voltar?

— Sanders está em casa - falou, com a voz áspera, bem perto do ouvido dela, derretida pela preocupação demonstrada com os homens de sua equipe. - O resto do pessoal também. Chegaram ao porto faz pouco tempo.

— Que ótimo. — Ela virou a cabeça e lançou um olhar acusatório para trás. — Essas mulheres sem escrúpulos daqui me embebedaram.

— Estou vendo. - Seus lábios se contorceram, enquanto as mãos acariciavam as costas dela. — Quer dançar mais um pouco, ou posso te levar para casa?

— Que casa seria essa?

— A minha.

— Hummm - Ela a fitou com um olho só. - Não estou em posse das minhas faculdades mentais, Simone. Você não pode usar nada que eu disser hoje à noite contra mim. É só uma saideira.

Aconteceu naquele verão | Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora