Capítulo dezoito

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Soraya acordou com o toque do celular.

Ela olhou confusa para o aparelho, depois para o ambiente onde estava. Paredes brancas, colcha azul-marinho, cadeira bege encostada em um canto, perto da luminária.

Nenhum barulho de tempestade.
Tinha acabado?

O mundo ao seu redor estava assustadoramente silencioso, exceto pelo toque estridente do celular. Ela ignorou o embrulho no estômago. A luminosidade no horizonte lhe dizia que era de manhã, bem cedo. Agora com certeza estava tudo bem, certo?

Após cheirar uma última vez o travesseiro de Simone, atendeu a ligação da irmã.

— Oi, Ma. Você está bem?

— Estou, está tudo bem comigo. Acabei de voltar para o prédio. Onde você está?

Soraya sentiu as bochechas ficarem quentes.

— Na casa da Simone - respondeu, com vergonha.

— Ah. - Houve uma longa pausa. - Soraya...

De súbito, ela ficou alerta e se sentou, enquanto afastava os fios de cabelo caídos no rosto.

— O que foi?

— Não sei de nenhum detalhe, tá? Mas cruzei com a esposa de um dos tripulantes no caminho de volta.
Talvez do Sanders? E ela só falou que... aconteceu um acidente.

O ar congelou em seus pulmões.

— O quê? - Soraya pressionou a mão entre os seios, em uma tentativa de controlar as batidas cada vez mais aceleradas do coração. - Que tipo de acidente?

— Ela não falou. Mas estava preocupada, indo para o hospital.

— Qual... o quê? - Soraya pulou para fora da cama, nua, já que a toalha havia se soltado durante a noite. — Ela falou alguma coisa sobre a Simone?

— Só que ela estava no hospital.

— O quê?

— Tenho certeza de que ela está bem, Soraya. Tipo... a mulher é feita de aço.

— É, mas ela enfrentou uma massa de água, cacete, e um ciclone. Um ciclone! - Ela estava aos berros, fora da cama, dando voltas, tentando decidir o que fazer. Por onde começar. - Certo, certo, não somos namoradas. Não posso simplesmente chegar no hospital, posso?

— Sory, quero ver quem vai conseguir te segurar.

Ela já estava consentindo. Como de costume, a irmã caçula estava certa. Se ficasse ali, à espera de notícias, iria surtar completamente.

— Ela falou qual era o hospital?

— O Grays Harbor Community. Já procurei no mapa, fica a meia hora daqui. Primeiro, eles foram levados para um hospital no Alasca, depois pegaram um voo para cá.

Soraya escancarou a gaveta do meio da cômoda e catou a primeira camisa que encontrou, depois correu para o banheiro.

— De helicóptero? Ai, meu Deus, isso é grave. — Deparou-se com os próprios olhos ensandecidos, refletidos no espelho da pia. - Tenho que ir. Já te ligo.

— Peraí! Como é que você vai para lá?

— Vou pegar a caminhonete da Simone. Deve ter uma chave reserva em algum lugar por aqui. Ela é do tipo que faz cópia de chave.
— A mão que segurava o celular estava tremendo. — Eu te ligo depois. Tchau.

Em cinco minutos, vestiu a camisa de Simone e as calças de ioga da véspera, que haviam secado. Achou uma escova de dentes nova debaixo da pia e a usou em tempo recorde, depois desceu correndo as escadas, enquanto ia penteando o cabelo com os dedos. Após enfiar os pés no par de tênis, que ainda estava encharcado, começou a procurar a chave reserva da caminhonete. Não a encontrou nas gavetas, nem em nenhum dos ganchos para pendurar objetos. Onde Simone a guardaria?

Aconteceu naquele verão | Simone e SorayaOnde histórias criam vida. Descubra agora