Prólogo

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Sydney

— Ei.

Sinto uma leve pressão em meu braço, e então um sussurro grave penetra meus ouvidos despertando-me do meu sono. Ou fuga. Eu não sabia qual dos dois. Apenas que desde que eu fui colocada nessa cama de hospital, após passar por uma perda avassaladora, a única coisa que eu fiz foi tentar dormir e me forçar a esquecer tudo que tinha acontecido. Eu implorei por pílulas. Implorei por sedação. Mas nenhuma enfermeira esteve a favor. Ninguém parecia se importar com minha dor. Eu só queria me desligar um pouco. Só queria dormir pra não ter que sentir meu peito se rasgando. Mas aqui estava eu de novo, olhos abertos e encharcados. Revivendo todo sofrimento que passei naquela sala fria e estéril há duas horas.

— O que você está fazendo aqui? - eu pergunto erguendo minha cabeça do travesseiro. Evan muda o peso do seu corpo de uma perna para outra, e a mão que estava no meu antebraço ele usa para esfregar seu rosto.

Já era difícil o suficiente passar por isso. Com ele aqui só iria piorar tudo. Eu ainda podia ouvir as enfermeiras gritando uma para a outra enquanto me atendiam na sala de emergência. "Ela está perdendo muito sangue", "Precisamos checar os sinais vitais do bebê". Em um momento eu estava apenas fazendo uma caminhada, noutro eu já estava encolhida sentindo uma pontada atravessar meu abdómen e seguir para parte inferior das minhas costas. Tudo aconteceu tão rápido e tão desesperador que parecia que eu estava em um filme, ou então em um sonho muito - muito - ruim.

Meu bebê era saudável, nós estávamos nos aproximando da oitava semana, e tudo estava indo bem com nós dois. Mas alguma coisa no meio do caminho mudou nosso destino, e eu só queria que os médicos estivessem mentindo. Que meu bebê ainda estivesse protegido e seguro. Que meu corpo fosse capaz de manter meu filho. Como seria daqui para frente? Como seria minha vida depois de todos os planos que fiz? Ir para casa não seria uma opção. Eu não conseguiria suportar ver todas aquelas roupinhas... E também tinha os vizinhos... eu teria que ficar repetindo tudo, revivendo toda perda. Como agora, encarando os círculos escuros sob os olhos castanhos de Evan. Só fazia eu me sentir ainda mais magoada.

— Eu nunca te deixaria sozinha.

— Mas eu quero. - meus olhos fogem para tela dos monitores, e depois de um longo minuto voltam para ele. — Eu quero ficar sozinha, Evan.

Evan e eu nos conhecemos desde que éramos mais jovens. Na escola elementar para ser mais exata. Ele era o aluno estrela da escola, enquanto eu era a mais tímida, e... esquisita. Nossa conexão foi instantânea. E aos poucos nossa amizade foi se tornando algo muito mais forte. Nós saíamos quase todos finais de semanas, eu dormia na casa dele, enquanto ele se esgueirava para minha. No começo era tudo meio platônico, e desajeitado. Foi só quando nos formamos no ensino médio que demos aquele passo. E um ano depois nós estávamos grávidos. O que nenhum de nós havia planejado. Mas desde ficamos sabendo que teríamos um bebê juntos, esquecemo-nos de todo resto e só queríamos viver essa nova fase da nossa vida... mas ela foi interrompida.

— Não precisa ser assim, Syd.

— Por favor, só... vai. - minha voz sai como se eu tivesse sendo estrangulada. A sensação era essa. — Eu não posso mais fazer isso.

— Não fale assim. Nós vamos superar isso juntos, eu prometo.

Balanço minha cabeça freneticamente, enquanto lágrimas caiam pelo meu rosto em abundância.
Céus.
Algum dia eu iria conseguir manter meus olhos secos?

— Não tem como você saber isso. Está doendo muito.

— Eu sei... - Evan pega minhas mãos, seus olhos castanhos fixos nos meus, fazendo meu coração bater mais alto. — Dói em mim também.

— Meu coração está partido - eu murmuro, sentindo muito das minhas emoções em conflitos. — Sinto que estou quebrada.

— Você não está.

— Nosso bebê. - eu choro mais uma vez. — Meu doce bebê. Eu o perdi. Evan. Eu nunca vou me perdoar por isso.

— Não, Sydney. Não se pune assim.

— Eu preciso ficar sozinha. - eu tento limpar meu rosto, mas às lágrimas insistem em cair. — Eu quero ficar sozinha, Evan.

— Certo. - ele dá um passo para trás, parecendo perdido. Então esfrega as mãos na calça jeans. — Eu vou ficar sentado ali fora caso você mude de ideia.

— Você não entendeu...

Ele se aproxima novamente da cama, seus olhos castanhos observando-me com ternura e atenção.
— Diga-me de novo o que você precisa que eu entenda?

Céus.
Porque ele tinha que ser tão compreensivo?
Já estava sendo difícil passar pela perder do nosso filho, precisava ser mais difícil ainda dizer para ele sair?

— Eu não posso mais, Evan... - inspiro, e expiro, e faço isso repetidamente. — Isso. Nós dois. Não dá mais. Eu preciso de um tempo sozinha, preciso sair desse hospital, preciso ir embora de Castle Rock.

— Você vai me deixar como forma de puni-la por ter perdido nosso filho?

— Eu... só quero um tempo sozinha, Ok? Preciso entender o que está acontecendo aqui dentro. - eu aponto para meu peito. E depois para minha cabeça. — E aqui.

Uma única lágrima escorre pelo rosto dele, e parte do que tinha sobrado do meu coração se parte em dois.
Deus.
Porque isso tinha que acontecer com nós?
O que fizemos de errado?

— Não existe nada que eu possa fazer? - a voz dele sai tão fraca que mal alcançou meus ouvidos.

— Seja feliz Evan. Isso é o que você pode fazer por mim.

— Como eu vou ser feliz quando perdi meu filho e agora estou perdendo a mãe dele?

Enxugo o canto dos meus olhos, e suspiro quando volto a olhar para ele. Para seu rosto bonito. Para os olhos cor de mel mais charmosos que eu já vi.
Eu queria tentar.
Queria fazer isso funcionar para nós.
Mas era como se minhas forças estivessem sido sugada, como se meu corpo e alma estivesse em outro lugar agora.
Eu precisava me reencontrar.

— Sinto muito. - é o que eu consigo dizer antes de mais e mais lágrimas deslizarem até meu queixo.

Evan se inclina sobre a cama, e coloca suas duas mãos em meu rosto. Então seus olhos me encaram com uma paixão profunda.
— Por favor, Syd. Deixe-me ficar e cuidar de você.

— Você precisa me deixar ir.

— Não, eu não posso fazer isso. - ele resmunga, seus lábios muito perto de tocar os meus. Alguns dias atrás eu estaria ansiando por um beijo dele, pelo toque dele, pelo abraço dele.
Agora.
Eu só conseguia desejar que ele saísse, e não me fizesse lembrar do que eu perdi.

Coloco uma mão no peito dele, empurrando-o gentilmente para trás.
— Por favor, Evan.

— Promete que você vai voltar? Promete que você nunca vai deixar de me amar?

— Eu te amo, Evan. E sempre vou amar.

— Deus... - ele pousa a testa na minha, sua respiração ofegante soprando a ponta do meu nariz. — Eu te amo tanto.

Levanto minhas mãos e pouso elas em cima das mãos dele, uma em cada lado do meu rosto.
— Eu também faço.

Ele deixa um beijo demorado em minha testa antes de dar alguns passos para trás.
— Eu vou fazer o que você pediu. Só promete uma coisa para mim.

— Sim?

— Não se culpe pelo que aconteceu com nosso filho.

Desvio meus olhos para o teto branco quando sinto a umidade nublar minha vista.
— Eu não irei, eu prometo.

— Quando você se sentir melhor, promete que vai me ligar?

— Isso já são duas promessas. - eu sorrio em meio às lágrimas caindo.

Ele não sorri quando meus olhos encontram os dele. Eu suspiro e lentamente aceno. O quarto se enche de silêncio depois disso.
Então Evan sai do quarto, e da minha vida.

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