Capítulo 8 - Aurora

78 18 4
                                    

Olhar para o passado nos fortalece

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Olhar para o passado nos fortalece.

Eu sei que isso continua sendo uma verdade para mim, todavia, olhar para esse passado que está a minha frente traz um gosto amargo em minha boca e uma pontada de grande decepção e desgosto. Um sentimento ruim de tristeza se apodera de meu peito e me faz ver como eu fui tola e ingênua.

Tenho um passado que me deixou marcas, mas mesmo vendo-as cicatrizar, ainda sinto dor ao tocar, ao ver além do superficial.

Não sou tola em dizer que esqueci.

Acho que nunca vou esquecer.

Na época em que Miguel se foi, eu precisava de um amigo, de alguém para me ajudar, para me dar a mão, para me amparar, para me abraçar e dizer que tudo ficaria bem. Mas infelizmente eu não tinha mais ninguém. Eu era uma adolescente de quatorze anos, apaixonada por meu único amigo e com uma tia doente que passou a depender de mim vinte e quatro horas do dia durante os sete dias da semana.

Fiquei vários dias chorando, me lamentando e me perguntando o porquê. Confesso que por várias vezes eu achei que a culpa fosse minha, que por minha causa que dona Helena e tio Zé o levou para longe. Eu até cheguei a confrontar meu tio, ele só dizia que fez o melhor para o filho.

Com o passar dos meses e dos anos eu vi que não adiantava ficar me lamentando, perguntando o porquê, eu tinha que me soltar, sair do estado de paralisia e voltar a andar, voltar a viver, a ser a Aurora que sempre fui. Então eu fiz o que deveria ter feito desde o início: eu deixei ir. Deixei Miguel e tudo o que ele representou para mim ir. Sem medo, sem mágoa, sem raiva, sem tristeza, apenas deixei.

E ele foi.

– Olá Aurora, como vai? – Olho para frente e vejo um homem alto, forte, bem vestido. Seu perfume -com certeza importado- toma conta do ambiente.

– Eu estou bem e o senhor? – Ele franze o cenho e tomba um pouco a cabeça.

– Você não está me reconhecendo, Aurora? – Diz com um meio sorriso. – Eu sou... – O interrompo.

– Sim, eu sei quem o senhor é. – Estendo a mão. – É bom revê-lo senhor Miguel Danso. – Como está? – Ele toca minha mão com receio. Seus olhos não saem do meu rosto.

– Bem...eu...estou bem... Aurora. – Volto meu olhar para tio Danso.

– Acho que o senhor tem muito o que conversar com seu filho, senhor Danso. Volto em outro momento para terminarmos nossa conversa. Qualquer coisa, estou em minha sala. – Ergo-me e faço um pequena mesura e caminha até a porta.

– Você não me perguntou quem será meu sucessor. – A voz firme do mais velho soa no ambiente e me faz suspirar.

– Acho que isso não é algo que seja difícil imaginar não é mesmo? O senhor tem filhos que podem te substituir a qualquer momento, e um deles é um excelente gestor, trabalha aqui há anos e nunca vimos o senhor perder algum negócio tendo-o como um dos líderes. – Falo de forma calma e contida. Estou muito nervosa, mas preciso fazer um esforço hercúleo para não surtar. Eduardo algumas vezes é cruel comigo, mas não posso deixar de valorizá-lo como profissional.

A luz de AuroraOnde histórias criam vida. Descubra agora