Capítulo 6

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As vozes do abismo

"O homem é o ser  cuja a essência é colocar em questão seu próprio poder." Jean-Paul Sartre em O ser e o nada

O silêncio ao meu redor se tornou ensurdecedor. Eu já não conseguia encontrar paz, nem mesmo no sono. As vozes começaram como sussurros, palavras indistintas que surgiam nos momentos mais inoportunos, como sombras deslizando pela minha mente. No início, pensei que era apenas a minha consciência, torturada pelos atos que eu havia cometido. Mas as vozes foram se tornando mais claras, mais insistentes, até que se tornaram impossíveis de ignorar.

Elas me chamavam pelo nome, diziam coisas que eu não queria ouvir. Não eram só acusações, mas também promessas. Promessas de mais poder, liberdade das correntes que eu havia criado para mim mesmo. Elas me falaram dos segredos do universo, do potencial que eu ainda não havia explorado. E no meio dessas tentadoras promessas, havia advertências sombrias, ameaças veladas de um futuro que eu não poderia evitar se continuasse nesse caminho.

Eu estava sendo puxado para o abismo, e as vozes eram minhas guias. Em meus momentos mais fracos, eu cedia a elas, mergulhando mais fundo nos meus poderes, tentando escapar da realidade que eu mesmo havia distorcido. Eu sentia que o mundo ao meu redor estava se desintegrando, e eu era o epicentro desse caos. As vozes me incentivavam a continuar, a não olhar para trás, a abandonar o que restava da minha humanidade.

No entanto, em meio à tentação e ao desespero, algo dentro de mim ainda resistia. Talvez fosse um eco da pessoa que eu costumava ser, ou talvez fosse o medo do que eu estava me tornando. Mas essa resistência era fraca, quase apagada pela escuridão crescente. E as vozes percebiam isso. Elas começaram a me atormentar com memórias, lembranças de quando eu era apenas um homem comum, antes de tudo isso começar. Elas zombavam de minha fraqueza, me acusavam de covardia, como se estivessem testando o quanto eu poderia suportar antes de ceder completamente.

No fundo, eu sabia que estava perdendo a batalha. O abismo me chamava, e cada dia que passava eu me sentia mais impotente para resistir. Mas havia algo mais nas vozes, algo que eu não conseguia entender completamente. Era como se elas tivessem um propósito além de me levar à ruína. Eu podia sentir que havia um desígnio, uma razão pela qual eu havia sido escolhido para carregar esse fardo. E a única maneira de descobrir seria continuar seguindo o caminho que as vozes me mostravam, mesmo sabendo que esse caminho poderia me levar à destruição total.

A rota do desesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora