Capítulo 8

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Vozes do passado

"A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo" Friedrich Nietzsche em Ecce homo

O poder que agora corria em minhas veias me dava a ilusão de invencibilidade. Eu havia me rendido completamente à escuridão que antes temia, mas algo inesperado aconteceu: as vozes mudaram. Não eram mais apenas sussurros tentadores do abismo, mas agora incluíam ecos de um tempo que eu pensava ter deixado para trás.

Essas novas vozes eram familiares, carregadas de emoções que eu havia tentado enterrar. Eram as vozes de pessoas que um dia fizeram parte da minha vida, que agora retornavam como fantasmas para me assombrar. Eu ouvia o riso de amigos perdidos, os conselhos de mentores que eu desprezei, e até as súplicas silenciosas daqueles que eu prejudiquei com minha sede de poder. Essas vozes traziam à tona memórias que eu preferia esquecer, mas que se recusavam a ser silenciadas.

À medida que os dias passavam, as vozes se tornavam mais insistentes, como se quisessem me lembrar de algo que eu havia esquecido ou ignorado. Elas me falavam de quem eu era antes de tudo isso começar, das escolhas que me levaram a esse caminho sombrio. Eu sentia uma estranha mistura de nostalgia e arrependimento, mas também raiva. Raiva por essas vozes tentarem me enfraquecer, por tentarem me puxar de volta a um estado que eu havia superado.

Mas quanto mais eu lutava contra elas, mais forte elas se tornavam. Comecei a perceber que essas vozes não eram apenas ecos de um passado distante, mas manifestações da minha própria consciência, um lembrete doloroso de que, por mais que eu quisesse me distanciar, ainda havia algo humano dentro de mim. Esse conflito interno começou a me consumir, levando-me a questionar se todo o poder que eu havia adquirido valia o preço de perder minha própria identidade.

Em um momento de fraqueza, decidi revisitar lugares do meu passado, na tentativa de silenciar as vozes. Voltei à minha antiga casa, caminhei pelas ruas que um dia foram familiares, tentando encontrar paz ou respostas. Mas em vez de alívio, encontrei apenas um vazio, uma desconexão profunda entre quem eu era e quem eu havia me tornado. As vozes me seguiram, ecoando cada erro, cada decisão que me trouxe até aqui.

Esse confronto com o passado foi mais doloroso do que eu poderia imaginar. Eu percebi que, por mais que eu quisesse negar, o passado ainda tinha poder sobre mim. E essa realização me deixou à beira de um novo precipício, onde as escolhas que eu faria poderiam finalmente selar meu destino, ou me oferecer uma última chance de redenção. Mas com as vozes do passado clamando por atenção, eu sabia que a jornada estava longe de terminar.

A rota do desesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora