**Capítulo 7: Olhos Abertos, Corações Conectados**
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Astrid acordou naquela manhã com uma sensação diferente. Seus olhos ainda pesavam da noite mal dormida, mas havia algo novo no ar. Um lampejo de luz invadiu sua visão, uma pequena e fraca luz que logo se espalhou, se transformando em um brilho claro e vívido. Ela piscou várias vezes, tentando se acostumar à luz repentina. Sua visão, que por tanto tempo fora apenas sombras e borrões, agora estava milagrosamente clara.
Ela piscou várias vezes, tentando se ajustar ao novo mundo de formas e cores que agora estava visível. A caverna em que estava abrigada parecia ainda mais grandiosa e intimidadora do que ela imaginava. As paredes, cobertas por veios de um material brilhante que parecia âmbar, refletiam a luz suave de uma abertura no teto da caverna, criando um espetáculo de sombras e brilhos. O chão era coberto por pedras lisas e planas, que se espalhavam até se fundirem com as paredes de rocha que se erguiam ao redor dela.
No entanto, sua atenção foi atraída para a criatura imensa que ocupava o centro da caverna. Sua visão finalmente se estabilizou, e ela conseguiu distinguir as formas definidas do dragão que estava à sua frente. Era um Canção da Morte.
Os detalhes de sua figura imponente a fizeram prender a respiração por um momento. Suas escamas eram de um preto tão profundo que quase parecia absorver a luz ao seu redor. Os contornos de suas asas estavam levemente relaxados ao lado de seu corpo, e a crista em suas costas subia imponente como lâminas afiadas. O dragão estava deitado, aparentemente em repouso, mas até mesmo nessa posição passiva, ele exalava uma aura de poder e perigo.
Astrid sentiu o coração acelerar, e o medo começou a crescer em seu peito. As memórias do último encontro com um Canção da Morte surgiram em sua mente como um pesadelo. Ela e seus amigos haviam quase perdido a vida naquela ocasião, e a única coisa que os salvou foi a pura sorte. Ela se lembrava dos gritos, das labaredas de fogo, e do desespero que sentiu enquanto lutavam para sobreviver.
Mas, então, uma nova realidade se impôs. Este não era o mesmo dragão. Este dragão não a atacou; ele a salvou, cuidou dela enquanto estava vulnerável. Mesmo com todo o medo e o instinto de fugir, ela sabia que devia isso a ele.
Respirando fundo para controlar o tremor em suas mãos, Astrid forçou-se a se acalmar. Ela lembrou de como ele havia tratado ela até agora, alimentando-a e mantendo-a segura. Isso era uma prova de que, de alguma forma, esse dragão era diferente, ou ao menos não via nela uma ameaça.
Com passos lentos e cautelosos, Astrid começou a se aproximar do dragão. Cada passo parecia ecoar pela caverna, e seu coração batia descompassado, mas ela não recuou. O temor de provocar uma reação negativa no dragão era real, mas a curiosidade e a gratidão a motivavam a continuar.
Quando chegou perto o suficiente para tocá-lo, ela estendeu a mão lentamente, quase hesitante, sentindo seu corpo inteiro tremer de ansiedade. Seu toque encontrou a escama fria e lisa do dragão, e uma sensação estranha percorreu seu braço. Havia uma conexão ali, um elo invisível que parecia unir suas existências naquele momento. Ela começou a acariciar a cabeça do dragão, seus dedos explorando a textura áspera e sólida das escamas.
Para sua surpresa, o dragão não se moveu de imediato. Seus olhos permaneciam fechados, mas logo Astrid ouviu um som que a fez sorrir com alívio. Era um ronronar baixo, quase imperceptível, mas cheio de um calor que a fez sentir-se reconfortada.
O medo que antes a dominava começou a se dissipar, substituído por um sentimento de paz e gratidão. Astrid continuou a acariciar a cabeça do dragão, sentindo a textura das escamas, o calor que emanava de seu corpo. Ela sussurrou palavras suaves, agradecendo-lhe por tudo o que havia feito por ela. Não sabia se ele entendia, mas queria que ele soubesse que ela estava profundamente grata.
Enquanto acariciava o dragão, Astrid se lembrou de como ela e seus amigos enfrentaram outro Canção da Morte. A diferença entre aquela experiência e a atual era monumental. Este dragão, que parecia um gigante adormecido, não era o monstro que ela temia. Ele era, em certo sentido, seu salvador.
Por um tempo, ela continuou a acariciar a cabeça do dragão, sentindo uma conexão se formando entre eles. Ela não sabia por que ele a havia salvo ou o que esperava dela, mas sentia que precisava retribuir de alguma forma. Ela sussurrou palavras suaves, agradecendo-lhe por tudo o que havia feito por ela. Não sabia se ele entendia, mas queria que ele soubesse que ela estava profundamente grata.
Então, o dragão começou a se mover. Seus olhos se abriram lentamente, revelando um brilho profundo e intenso. Astrid recuou um pouco, o instinto de sobrevivência ainda a alertando, mas ela permaneceu firme, seu olhar fixo nos olhos do dragão.
Ele a olhou com uma mistura de surpresa e curiosidade, como se também estivesse tentando entender o que estava acontecendo. Os dois ficaram assim por um momento, se estudando, se medindo.
Os olhos do dragão se arregalaram ao ver Astrid tão próxima e acordada. Ele recuou instintivamente, como se tivesse sido pego de surpresa por sua presença. Astrid podia sentir o medo e a confusão no olhar da criatura, e ela soube que aquele era um momento crucial. Se ela não fosse cuidadosa, poderia perder essa frágil confiança que parecia estar se formando.
Ela levantou a mão em um gesto calmo, tentando mostrar que não era uma ameaça. "Está tudo bem," disse ela suavemente, tentando transmitir confiança em sua voz. "Eu não quero te machucar."
O dragão hesitou, seu olhar fixo na mão de Astrid. O tempo parecia ter parado naquele instante, e Astrid sentiu seu coração bater descompassado, como se estivesse à beira de algo monumental. Ela podia sentir o conflito interno do dragão, a luta entre o instinto de proteção e a curiosidade sobre essa humana que estava tão perto.
Lentamente, ele começou a se aproximar novamente, seus movimentos cautelosos, mas decididos. Astrid permaneceu imóvel, sua mão ainda estendida, esperando que ele tomasse a iniciativa. Quando o dragão finalmente tocou sua mão com o focinho, ela sentiu uma onda de alívio e alegria.
Ela começou a acariciar a cabeça do dragão novamente, desta vez com mais confiança. Ele fechou os olhos e relaxou sob seu toque, como se estivesse aceitando sua presença. Astrid sorriu, sentindo uma conexão profunda e inexplicável com essa criatura majestosa.
"Você é realmente incrível," murmurou Astrid, enquanto continuava a acariciar o dragão. "Eu não sei como você fez isso, mas você me salvou. E eu estou muito agradecida."
O dragão ronronou novamente, um som baixo e reconfortante que fez Astrid sentir-se mais em paz do que nunca. Ela sabia que esse era apenas o começo de algo maior, algo que ela ainda não conseguia compreender completamente.
O dragão continuou a relaxar sob seu toque, seus olhos fechados, e Astrid se permitiu aproveitar o momento. Ela sabia que havia muito mais a ser descoberto, tanto sobre o dragão quanto sobre o que havia acontecido com ela. Mas, por agora, ela estava contente em simplesmente estar ali, compartilhando esse momento com ele.
Ela sabia que ainda havia muitos desafios pela frente, que precisava encontrar uma maneira de voltar para casa e descobrir o que havia acontecido com Tempestade. Mas, de alguma forma, ela sentia que este dragão estava destinado a fazer parte dessa jornada.
Astrid olhou para o dragão, que agora estava completamente relaxado, e sentiu uma profunda sensação de conexão. Ela sabia que, de alguma forma, eles haviam escolhido um ao outro. Ele a havia salvado, e agora ela queria fazer o mesmo por ele, protegê-lo e encontrar uma maneira de voltarem juntos para casa.
"Vamos encontrar um caminho," sussurrou Astrid, mais para si mesma do que para o dragão. "Juntos, vamos encontrar um caminho."
O dragão respondeu com um leve ronronar, e Astrid soube que, de alguma forma, eles estavam conectados de uma maneira que ela ainda não conseguia entender completamente. E isso, por si só, era uma vitória.