**Capítulo 6: Redescoberta e Conexão**
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O tempo passou lentamente na caverna, cada dia uma luta constante entre esperança e desespero. Para Astrid, cada minuto parecia durar uma eternidade, mas ela sabia que estava se recuperando. Era uma recuperação lenta e dolorosa, mas era uma recuperação.
Já havia se passado uma semana desde que acordou na caverna, e nos últimos dias, algo incrível havia começado a acontecer. Pequenos flashes de luz começaram a penetrar na escuridão que a envolvia. Eram apenas vislumbres—manchas de luz e sombra sem forma definida—mas para Astrid, eram como fagulhas de esperança. Sua visão estava voltando, mesmo que aos poucos.
Astrid ainda não conseguia ver claramente, mas os borrões de luz lhe davam uma noção de espaço. Ela conseguia distinguir formas vagas ao seu redor, sombras e contornos que indicavam a presença de objetos, rochas e a grande figura do dragão que a havia salvado. Era um alívio saber que não estava mais totalmente cega, mas ainda assim, a incerteza da situação a incomodava.
Ela sabia agora que estava na companhia de um dragão, e isso trouxe uma mistura de emoções. Por um lado, era grata ao dragão por tê-la salvado e cuidado dela. Por outro, estava apreensiva, sem saber que tipo de dragão era, ou como ele reagiria se ela tentasse interagir mais diretamente.
O dragão a alimentava regularmente, trazendo carne fresca que deixava ao seu lado. Astrid sentia o calor do corpo enorme do dragão quando ele se aproximava, mas ele nunca se mostrava abertamente, nunca permitia que ela o visse diretamente. Isso apenas aumentava sua curiosidade. Que tipo de dragão seria? E por que estava cuidando dela?
Astrid passava a maior parte dos seus dias tentando se manter calma, lutando contra a ansiedade de não saber o que estava acontecendo fora daquela caverna. Ela sabia que precisava voltar para Berk, que Soluço e os outros estariam preocupados com seu desaparecimento. Mas como poderia fazer isso se mal conseguia enxergar e não sabia onde estava?
Enquanto pensava nisso, a ideia de domesticar o dragão que a havia salvado começou a tomar forma em sua mente. Talvez, se conseguisse ganhar a confiança do dragão, pudesse convencê-lo a deixá-la montá-lo e levá-la de volta para casa. A ideia parecia louca, mas era a melhor chance que tinha no momento.
Com esse objetivo em mente, Astrid começou a tentar se aproximar do dragão. Nas poucas vezes em que conseguia ouvir seus passos pesados, ou sentir sua presença, ela falava com ele em voz baixa, tentando transmitir tranquilidade. Sabia que dragões eram criaturas inteligentes, capazes de sentir as emoções das pessoas ao seu redor. Ela esperava que sua voz calma e amigável fosse suficiente para convencer o dragão de que não representava uma ameaça.
“Agradeço por cuidar de mim,” ela disse em uma ocasião, tentando não soar desesperada. “Você salvou minha vida... Eu... espero que possamos ser amigos.”
A resposta foi o silêncio, mas Astrid sabia que o dragão estava ali, ouvindo. Continuou tentando estabelecer essa conexão todos os dias, até que, finalmente, algo mudou.
Na manhã de um dia que parecia igual a todos os outros, Astrid sentiu a presença do dragão mais próxima do que nunca. Ela podia sentir o calor que emanava dele, o cheiro de sua pele, uma mistura de cinzas e sal. Seu coração acelerou, mas ela manteve a calma.
“Eu sei que você está aí,” ela sussurrou, estendendo a mão na direção da sombra que acreditava ser o dragão. Ela não podia ver claramente, mas seus sentidos lhe diziam que ele estava a poucos metros dela, observando.
Ela não sabia o que esperar, mas de repente sentiu algo quente e áspero tocar sua mão. Seu coração disparou, e ela se esforçou para não recuar. Era o focinho do dragão, pressionando suavemente contra sua palma.
“Você é incrível,” ela disse, a voz embargada pela emoção. “Eu não sei como agradecer por tudo o que você fez por mim.”
O dragão não recuou. Astrid sentiu a respiração quente dele contra sua pele, um sinal de que ele estava relaxado. Era um pequeno avanço, mas para ela, era imenso. Sabia que havia ganhado um pouco da confiança dele.
Nos dias seguintes, Astrid continuou a tentar interagir mais com o dragão. Sua visão estava melhorando, mas ainda era limitada a formas indistintas e sombras. Mesmo assim, ela começou a perceber que o dragão era enorme, maior do que qualquer outro que havia visto. Suas escamas pareciam emitir uma luz suave, e ela notou o brilho âmbar que ocasionalmente pingava de sua boca, endurecendo ao tocar o chão.
Certa noite, Astrid ouviu a canção novamente, aquela melodia que ela vinha ouvindo desde que acordara na caverna. Desta vez, ela estava mais perto, mais intensa. Astrid sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao perceber que a canção vinha do dragão. Era uma música ao mesmo tempo hipnotizante e sombria, que parecia contar uma história antiga e poderosa.
Ela se aproximou lentamente, até estar quase ao lado do dragão. “Essa canção... é linda,” ela disse, com a voz baixa e cheia de respeito. “Você a canta para mim?”
O dragão virou sua cabeça na direção dela, e Astrid sentiu como se ele estivesse a estudando. Era uma sensação estranha, mas reconfortante. Ela se sentou ao lado dele, ignorando a dor em suas pernas e a cegueira parcial.
“Eu gostaria de vê-lo... realmente vê-lo,” ela disse, sua voz tremendo um pouco. “Mas, mesmo sem isso, posso sentir que você é especial. Talvez... talvez possamos nos ajudar.”
A melodia continuou, suave e envolvente. Astrid fechou os olhos, deixando-se levar pelo som, esquecendo-se por um momento de sua situação desesperadora. Ela sabia que precisava ser paciente, precisava conquistar a confiança do dragão completamente antes de tentar qualquer coisa mais ousada.
O tempo era seu maior inimigo, mas também seu aliado. A cada dia, sua visão melhorava um pouco mais, e a relação com o dragão se tornava mais sólida. Ela estava determinada a encontrar uma maneira de voltar para casa, mas sabia que a chave para isso estava na conexão que estava construindo com o dragão.
Enquanto isso, ela continuava a falar com ele, a ouvi-lo e, eventualmente, a confiar que, juntos, eles poderiam encontrar um caminho de volta para o mundo que ela conhecia.
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