Maria Paula Schnaider
Não sei há quantos anos esperei por uma chance de encontrá-lo, meu "meio" irmão, que eu tanto procurava.
Ele desapareceu quando éramos crianças, eu tinha uns sete anos, eu acho.
Iria procurá -lo de cima abaixo nesse prédio escuro, até achá-lo.
Vamos voltar pra casa, maninho, vai ver seu pai de novo, e nossa mãe. Sinto dizer os dois não ficaram juntos, hoje ele é casado com uma tal de Samantha, nunca a vi, e não preciso ver.
Só me importo com quando vou achar você aqui dentro.
Os corredores escuros, sempre tive medo de escuro, você sabia disso, mesmo pequeno, deixava uma lanterna sob o travesseiro, apenas para me ajudar quando não tínhamos um abajour no quarto.
Voltando à realidade, procurando pelo quarto da chamada, primeira geração, vi um garoto saindo de um quarto, todo arrebentado, mancando.
Ele me viu, passou por mim, fiquei curiosa, ele era muito bonito, na pouca luz que havia no corredor onde o encontrei, pude enxergar seus cabelos ruivos e ombros largos, acompanhados de grandes cicatrizes e cortes nas costas.
Sim, ele estava sem camisa.
- Qual o seu nome, novata?
- Novata? Perdão, só vim até aqui procurar meu irmão mais novo, ele sumiu há muitos anos.
- Ah certo, a fugitiva te ajudou a entrar? Eu soube que ela ajudou diversos a sair
- Eu não faço ideia de quem seja essa mulher, mas é muito corajosa.
- Muito mesmo, mas a COSP acabou com os amigos que ajudavam ela
- Primeiro, o que é COSP? Segundo, que amigos.
- EMAs convertidos, mataram todos os libertadores. Agora os novos Entregadores de Mortes Alheias são homens adultos, treinados e pagos para matar. Já o nome COSP é meio doentio, mas é como todo mundo chama esse lugar.
- Meu nome é Marina
- Prazer Marina, me chamo Eduardo...
- EDUARDO??? - gritei assustada, eu tinha uma missão e o cara tinha o mesmo nome e feições do rapaz que eu precisava resolver questões.
- Não grite, vai acordar os outros! - Ele me repreendeu, parecendo confuso com minha reação ao seu nome. - o que você tem?
- Desculpe, mas você é o meu irmão, eu tenho um motivo pra gritar! - em minha defesa, sim eu sei como meu irmão era quando sumiu e sim, eu usei isso de desculpa.
- Foi mal garota, mas eu entrei aqui com quinze anos, não entrei como uma criança pequena, fora que se seu irmão é mais novo que você, já não seria eu, você tem o que? Dezessete?
- Dezenove
- Eu tenho vinte
- Está preso aqui porque então? Não te deixam sair depois dos dezoito?
- Sair? Não me faça rir Marina, ninguém que entra aqui é liberado de graça.
- Sabe se um Eduardo conseguiu fugir?
- Só tinha eu de Eduardo aqui, mas teve o Yan, ele e uns amigos fugiram daqui com a ajuda da fugitiva, dizem que não era o nome verdadeiro dele.
- Yan era o nome de um personagem de desenho que meu irmão gostava...
- Só pode ser ele, boa sorte na sua busca
- Ei, Eduardo
- Sim, Marina?
- Tá afim de sair daqui?
- Eu tenho que me limpar primeiro, minhas costas estão arruinadas.
- Posso te ajudar com isso, se quiser é claro
- Pode ser, faz tempo que alguém cuidou de mim, vou estar aceitando essa proposta
Ele me guiou até uma porta branca, girando a maçaneta entramos juntos.
Alcançou uma bacia no canto do quarto, com água dentro e um pano ao lado.
- Pode usar isso, seja carinhosa por tudo que é mais sagrado, tá doendo ora caralho!
- Vou ser gentil, carinhosa eu não prometo
- Tá certo então Morena
- Já te falei meu nome
- Eu sei, é que morena combina mais com o seu cabelo, sei lá, achei bonito - ele dizia olhando diretamente para as ondas do meu cabelo.
Senti minhas bochechas aderem um pouco, no estado em que ele está, querer flertar não era uma ideia muito inteligente.
Umedeci o pano e comecei a dar leves toques pelos cortes, ouvia seus granidos de dor baixos, mas ainda assim, eu ouvia.
Fui gentil, como disse que seria, e no final ele estava quase dormindo nos meus braços.
O acordei para podermos sair daquele lugar que me causava arrepios, ele sofreu tanto, não quero nem pensar no que meu irmãozinho passou aqui dentro, credo.
Saímos do quarto pé por pé, indo em direção à porta de ferro enorme.
Destranquei com a chave que eu tinha roubado de um dos funcionários e saímos.
Eu não tinha um endereço exato, mas iria tentar.
Passamos o resto da madrugada andando, procurando sinal de celular pra procura o endereço da delegacia mais próxima.
Quando chegamos até uma, já eram seis e meia da manhã.
Tive boas conversas com o rapaz ruivo, ele era todo traumatizado, mas quem não seria em uma situação dessas.
Entramos e registramos o nome do procurado, Eduardo Silveira, ele já tinha passado por ali e nos entregaram o atual endereço dele, que por sinal era onde o pai dele morava antes mesmo se conhecer a Samantha, ele tinha encontrado o pai dele? Então porque não encontrou a gente também? O pai dele que não procurou a gente depois ou o Edu não quis?
São tantas perguntas, mas estas serão feitas mais tarde, preciso encontrá-lo primeiro.
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Me faça esquecer as rosas
De TodoExiste um lugar que pode ser chamado de inferno, crianças e adolescentes tendo seus corpos usados, por estranhos todos os dias, tirados de seus lares amorosos para uma vida triste de prisioneiro. Dentre todos estes existe uma fugitiva que dará a mui...