seu amor o menteve vivo

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Vejo que algo está errado, mas não sei dizer o que é, uma sensação ruim tomando conta, vou pedir aos seguranças que fiquem de olho fora.
Alice Fanisck, a fugitiva.

Ananda Silva

Alice me disse que vai à delegacia hoje, com o resto do pessoal, pedi pra ficar em casa, não quero sair.
Vou ficar bem e sei disso. Todos querem voltar para suas famílias, mas João e eu não vamos conseguir voltar, eu sei disso porque no dia que fomos levados para o COSP, vi o chefe atirar na nossa mãe, e nosso pai já estava morto. Vamos morar com Alice por um bom tempo.

- Vem almoçar pequena, tá na mesa! - Léo me chamava para comer.

Gosto muito dele, é o cara certo para meu maninho, tenho certeza que serão muito felizes.
Me levanto do sofá, indo em direção à cozinha.

Os novos pais de Alice têm o costume de orar antes de comer, mas não sei nenhuma oração, lembro de minha mãe rezar comigo e meu irmão, mas a oração em si não lembro.

Jão lembra de cor as orações, somos católicos, acho que eu deveria ter aprendido junto com ele, mas sempre dormimos em quartos separados e eu não o via tanto quanto gostaria.

Nos colocamos ao redor da mesa e demos as mãos, Samantha e Emanuel, pais da Alice, começaram a oração, como eu não sabia fiquei em silêncio, de olhos fechados, apenas ouvindo.

Me lembrando de como era bom estar nos braços de minha mãe e como ela me faz falta.

João ainda estava sem camisa, Léo praticamente babando nele, comendo ele com os olhos.
Quando meu irmão virou de costas, percebi as marcas e cicatrizes. Eu limpei esses cortes, eu cuidei dessas feridas em suas costas.

Uma única lágrima escorreu do meu rosto, e senti braços fortes me levantarem, Léo.

- Porque está chorando pequena?

- Não tô chorando Léo, só... lembrei de umas coisas

- são as marcas né? - respondi que sim com a cabeça - eu posso te mostrar uma coisa?

- Pode...

Léo vira de costas para mim e levanta a camisa, ele tinha as mesmas marcas, e ao olhar para Eduardo, ele também tinha. Mas eram maiores e mais fortes, acho que era porque ele ficou na COSP mais tempo. Meus olhos ardiam, era como se eu também pudesse sentir as dores que eles tiveram no passado e quanto tudo aquilo incomodava eles. Se virando para mim novamente, abaixando a blusa.

- Seu irmão foi muito corajoso garotinha, ele te protegeu de ter isso, pense que o seu amor manteve ele vivo, e tudo não vai passar de uma lembrança idiota pela manhã! - ele disse passando o polegar pelo meu rosto, limpando o choro - Vamos todos cuidar uns dos outros agora, e você terá uma vida normal docinho, eu prometo!

Comemos tudo que Samantha e Emanuel cozinharam, ambos muito bons no que faziam, a comida era simplesmente divina! Nunca tive um almoço tão bom na vida! Quero aprender a fazer isso um dia, será que eles aceitariam mais uma filha?

Fui para o meu quarto, ao contrário dos outros eu tinha um quarto só para mim, uma cama enorme e confortável. Era maravilhoso.

Andei até a sacada, a visão de fora era linda, mas achei uma coisa estranha, tinha um carro parado ao lado da casa enorme.
Um carro suspeito, azul escuro, um Peugeot eu acho. Não sei muito de carros. Só sei que era estranho. Um pressentimento sei lá.

Quando eram mais ou menos duas da tarde, eles saíram para a delegacia e só eu fiquei em casa.
Meu irmão foi apenas para fazer companhia ao Léo, já que ele queria achar sua família. Já Alana foi para estar com Edu, ele também desejava voltar para casa.

Os pais de Alice ficaram, iriam assar um bolo para o café da manhã.
Fui até a cozinha, eu queria fazer parte.

- Dona Samantha, você pode me ensinar como faz isso?

- Claro meu anjo, venha aqui

Tudo que ela pedia para que eu fizesse, eu fazia, exatamente como me era ensinado.

- Isso, agora é só assar e está pronto, quer comer o que restou da calda de chocolate?

- Posso mãe? - eu travei, a chamei de mãe, mas ela não é minha mãe, estou um pouco confusa.

- Como? Me chamou do que estou pensando?

Pensei que ela ficaria chateada, então só olhei para o chão, envergonhada.

- Olhe para mim, querida

Os olhos da mulher cheios de lágrimas, não entendi muito bem. Mas ela me abraçou, tão forte quanto Léo me abraçou mais cedo.
Não gosto muito de contato físico, mas aceitei de bom grado esse carinho dela.

- Posso ser sua mãe se é assim que deseja, anjo

- Eu quero! Quero muito! Faz anos que sinto a falta de ter uma mãe, a minha morreu e só quero ter uma vida de novo...

- Você tem uma vida, aqui, seu irmão nem quer ir embora, vamos cuidar bem de vocês dois

Dividi o resto da calda com ela e guardei um pote para meu cunhado e irmão.
Acho que vão gostar.
Foi chegando a noite, os meninos voltaram, jantamos e nos despedimos.
Só os veria pela manhã.

No meio da madrugada levantei, estava com sede e desci até a cozinha. Peguei um copo de água, tomando tudo. Ouvi um barulho estranho vindo do lado de fora, na varanda do lado da sala. As cortinas ocultaram a enorme porta de vidro.

Eu não deveria ter descido. Dei meia volta, fui até a pia e deixei o copo lá, senti um vento em minhas costas, o que era estranho. Estava tudo fechado, só as janelas dos quartos estavam abertas e duvido muito que os ventos cheguem aqui em baixo.

Me viro e sou agarrada, um pano em minha boca grito o mais alto que posso, e ouço barulho nas escadas, passos pesados, algo gelado é apontado para minha cabeça, uma arma.

Olho para o sujeito, reconheço esse imbecil tão fácil que me dá medo. Matias. O mesmo cafajeste que estuprou a Alana, espero que morra junto com o dono daquele inferno em forma de prédio.

Me faça esquecer as rosas Onde histórias criam vida. Descubra agora