Forty-eight

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☆゜・。。・゜゜・。。・゜★

Recusei-me a olhar para meu braço esquerdo enquanto passava a escova pelo chão frio e úmido do corredor. 

Recusei-me a encarar a mancha de tinta que corroía minha pele, a marca sinistra, o olho espiando no centro da minha palma. 

Não pude evitar imaginar se Rhysand me observava por meio dela. 

Se ele estivesse vendo, que entendesse a mensagem que eu deixava, rabiscando com raiva o piso imundo.

Mas no fim cedi. 

Olhei para a tinta sob a luz bruxuleante e percebi que não era simplesmente preto. 

Era um azul tão profundo que se confundia com a escuridão, absorvendo o pouco brilho que restava naquele lugar de desespero.

Afundei a escova na água espessa, que mais parecia lama do que qualquer outra coisa. 

A cada tentativa de limpar o chão, a sujeira parecia se multiplicar, como se quisesse me engolir junto com ela.

Os guardas que me arrastaram até aqui disseram apenas: "Limpe isso até o jantar ou iremos jogá-la nas chamas". 

Suas ameaças soavam ocas, repetidas tantas vezes que perderam o impacto, mas ainda assim, aqui estava eu, presa no mesmo pesadelo.

Uma mulher me visitou durante minha estadia. Seu cabelo era de um tom castanho tão escuro que quase parecia sangue velho. 

A água que eu usava para me lavar havia se transformado em uma lama fétida com o passar do tempo, mas a mulher, em um raro ato de compaixão, a purificou.

Ela revelou ser a mãe de Lucien e disse que só estava me ajudando porque eu havia salvado seu filho de Rhysand. 

No entanto, logo em seguida, ameaçou tirar minha vida. 

Uma alma tão perturbada quanto a minha, mergulhada em sua própria escuridão. 

Me questionei se nossas vidas voltariam a se cruzar ou se a escuridão nos engoliria de vez.

. . .

Os guardas voltaram no dia seguinte com sorrisos pérfidos estampados em seus rostos, mostrando seus dentes apodrecidos. 

Sem dizer uma palavra, me arrancaram da cela e me arrastaram até um quarto vasto e sombrio. 

Um deles apontou para a lareira enegrecida de fuligem. 

“O criado derramou lentilhas nas cinzas”, murmurou, enquanto o outro me empurrava um balde de madeira nas mãos. “Limpe antes que o ocupante retorne, ou ele vai arrancar sua pele em tiras.”

“Que original”, respondi com sarcasmo. 

Eles poderiam ao menos inventar algo diferente. 

Quem tem tempo hoje em dia para um trabalho tão meticuloso? Eles sequer imaginam o esforço necessário? Demora horas.

Depois disso, me deixaram só. 

Ridículo. Ninguém derrama lentilhas nas cinzas por acidente. 

Se o habitante deste quarto era tão letal quanto afirmavam, por que diabos alguém traria lentilhas para cá?

Examinei o cômodo. Nenhuma janela, nenhuma saída, exceto pela porta por onde entrei. 

A cama, grande e luxuosa, estava impecavelmente arrumada com lençóis de seda negra. 

O restante da sala estava quase vazio, apenas alguns móveis espalhados. Nada que revelasse a identidade do ocupante. Nada.

Ajoelhei-me diante da lareira, encarando as lentilhas misturadas às cinzas. 

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑺𝒕𝒂𝒓𝒔 𝒂𝒏𝒅 𝑭𝒍𝒂𝒎𝒆Onde histórias criam vida. Descubra agora