Prólogo

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Eu estava arrumando minhas coisas dentro do avião, coloquei minha mala na parte de cima e minha mochila na parte de baixo da poltrona, me sentei, minha poltrona estava para a janela e eu olhei o aeroporto, o lugar que havia sido meu lar pelos últimos anos. Quando o avião decolou eu vi a imensidão verde da floresta e como ela parecia não ter fim, era um oceano verde e do alto dos céus a cidade de Manaus parecia apenas uma mancha no meio da floresta amazônica, abaixo era possível ver o encontro do Rio Negro e do Rio Solimões formando o rio Amazonas, o maior rio da América do Sul e um dos maiores do mundo.

Depois do avião atingir a altitude de cruzeiro eu liguei meu celular e comecei a usar a wifi grátis do avião. Eu comecei a ver um filme no celular para passar o tempo, seriam muitas horas de viagem até chegar ao Rio de Janeiro e eu precisava me distrair, enquanto eu via o filme eu ficava pensando em tudo o que eu teria que fazer no Rio de Janeiro antes de voltar.

"Já são quase o que? 10 ou 12 anos? Não lembro direito" pensei.

Eu não queria voltar ao Rio, eu honestamente não via mais nenhum futuro para mim lá. Eu encontrei meu chamado e minha missão de vida na Amazônia, mesmo com todas as dificuldades eu não queria abandonar esse lugar maravilhoso que me acolheu e se tornou meu segundo lar.

"Não...não segundo. É meu lar, meu verdadeiro lar." eu pensei.

Mesmo eu não querendo voltar ao Rio eu sabia que um dia eu seria obrigado a retornar uma hora ou outra mas eu não imaginava que seria seria assim.

Para um velório...

Quando o piloto da aeronave anunciou a aproximação do aeroporto do Galeão eu senti meu coração apertar, eu sabia que aquela seria a despedida com a pessoa que eu mais amava e que me apoio em tudo desde o começo, a maior impulsionadora do meu sonho, a mulher que mesmo não sabendo ler me obrigava a estudar e a me esforçar para ser melhor, para avançar na vida. Ela me ensinou a ser inconformado com a pobreza ao nosso redor, com o descaso e a falta de oportunidades e me fez focar essa revolta não no mundo do crime mas no mundo acadêmico.

Minha maior heróina....minha avó.

-Atenção passageiros, estamos iniciando a manobra para o pouso. - o piloto anunciou no telefone.

-Vovó...nós vamos nos ver de novo. - eu sussurrei.

Quando o avião pousou eu fui rapidamente pegar minha mala e minhas coisas, eu estava cansado do voo longo e entediante, minha mãe estava em pânico porque um avião tinha caído recentemente e ela ficou apavorada. Perdeu a mãe e agora tinha medo de perder o filho no caminho para o Rio, eu acalmei ela e tentei explicar calmamente que o período mais seguro para se viajar de avião comercial é após um acidente já que todos os procedimentos de segurança estarão muito mais fortes devido a falha que causou o acidente recente.

Eu peguei minhas malas que tinham sido despachadas e me dirigi ao saguão de desembarque, quando eu passei pelo portão eu vi meu pai e minha irmã me aguardando, mesmo com tudo que tinha ocorrido eles tentaram sorrir ao me ver e eu retribui o sorriso.

-Eae, Deivinho! - minha irmã disse.

Minha irmã Denise era bem mais nova do que eu, ela era uma adolescente quando eu fui embora, eu tinha acabado de passar na prova do programa "Mais Médicos" e fui selecionado para ir para o Amazonas atender as comunidades ribeirinhas na região de Manaus. Ela estava agora com seus 20 e tantos anos e eu estava com 33 anos, a diferença era grande mas ela ainda parecia agir como uma adolescente retardada.

-Tá queimadinho hein, Deivinho?! - ela disse.

-Se você trabalhasse o calor amazônico ia ficar bronzeada também .- eu disse rindo e a abracei.

O Amor é Como a MaréOnde histórias criam vida. Descubra agora