Capítulo 6: Kworo Kango pt.2

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~Dê play na música e comece a leitura ❤️~


~ 9 Meses depois~


Naquela noite que eu dormi no posto de saúde da comunidade Ribeirinha eu botei fones de ouvido e coloquei uma música no máximo, eu sequer me levantei pra ir ao banheiro de tanto medo de ouvir aquela coisa que havia pedido para entrar. No dia seguinte nós fomos embora e eu não vi aquele indígena que me disse aquelas coisas, naquele mês eu não consegui parar de pensar nele e em como ele sabia o que eu tinha passado e como ele sabia que eu era capaz de ver coisas que ninguém mais via.

Eu voltei para Manaus e o João e eu continuamos com contato e passamos a sair regularmente e nós tornamos grandes amigos, nós voltamos a Nhamundá e outros municípios menores ao longo dos meses mas eu não vi aquele menino e eu agradecia a Deus, ele era assustador mas ao mesmo tempo eu sentia algo dentro de mim, eu precisava encontrar aquele menino e ter as respostas que eu precisava saber. Eu estava em casa conversando com o João em uma chamada enquanto a gente jogava um jogo na Steam.

-Atira nele , João! - eu disse.

-Tô atirando! - ele respondeu.

-Eu vou por cima! - eu disse.

Eu fui encurralado por dois outros jogadores e acabei abatido.

-AH VAI SE FUDER! JOGO LIXO DO CARALHO! - eu disse.

Eu peguei o cigarro do cinzeiro e fumei e soltei a fumaça puto da vida.

-Tem que melhorar, David! - João disse.

-Essas porra tão de hack! Só pode! - eu disse.

-Tu checou o email hoje? - ele perguntou.

-Ainda não, por que?

-A gente vai voltar pra Nhamundá essa semana. - João disse.

-Sério?

-Sim! Dessa vez vamos pra uma aldeia indígena de um distrito lá. É um local bem afastado então se prepara e leva repelente. - ele disse.

-Show! - eu disse.

Dessa vez nós fomos de avião até Parintins e de lá pegamos o navio e levamos 6 horas até a sede do município de Nhamundá e eu e o João aproveitamos o tempo livre para darmos uma volta na cidade, tinha muitas pessoas que ia a cidade de Faro, no lado paraense do rio, para fazer compras e comercializar mercadorias e eu aproveitei para comprar umas coisas e mantimentos. Eu estava olhando uma loja quando vi um velho senhor que parecia ter algo entre os seus 60 ou 70 anos comprando mantimentos e ao lado dele estava um jovem de cabelos pretos, eu passei e vi o rosto dele e o reconheci na hora.

"Yakecan!" eu pensei.

Ele e o senhor olhavam verduras e outras coisas para comprar e eles falavam entre si em uma língua que eu julguei ser o tal Nheengatu, a versão moderna do tupi guarani a qual o João tinha me ensinado algumas coisas e eu tinha aprendido algumas expressões e palavras com os descendentes dos indígenas nas nossas missões. Eu fiquei cercando eles e abaixei meu boné para que o rapaz não me reconhecesse de cara e observei de uma distância segura, eles pareciam pessoas comuns apenas fazendo compras, eu vi o Yakecan chamar aquele idoso de "Ramõi", que eu sabia que significava "Avô" em tupi e presumi que o velho era o seu avô.

Eu vi eles comprando coisas e quando o velho se afastou um pouco para olhar uma barraca o Yakecan olhou pra trás, ele olhou diretamente para onde eu estava e pareceu me reconhecer e piscou os olhos. Ele acenou para mim e deu um sorriso fraco, eu saí de lá o mais rápido possível e acendi um cigarro, quando cheguei perto do João ele estava tirando fotos em um monumento da cidade.

O Amor é Como a MaréOnde histórias criam vida. Descubra agora