O Amor é Como a Maré

Capítulo 25: Bestialidade pt.2

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Yakecan Kagwahiva

Eu estava olhando aquela sacola em que o objeto amaldiçoado estava e sentia meu estômago embrulhar só de ver aquilo, eu sabia que era algo ruim e que havia sido feito na intenção de trazer o mal e amaldiçoar toda a família daquele rapaz chamado Sérgio. Eu sentia uma energia horrível emanada por aquele objeto e o Yahto olhava para aquilo com muito medo, David por outro lado não parecia ter medo e nem estar sendo afetado muito por aquela coisa.

-É maligno, David! - eu disse.

-Eu sei. - ele respondeu.

-Quem pode ter feito isso? - eu disse.

-Foi aquela vagabunda da Mariana! - Sérgio disse bufando.

Sérgio era um homem de pele morena clara, seus cabelos pretos estavam penteados de lado com um topete e ele estava com uma camisa ainda preta vinda do velório, os olhos dele eram claros, nos seus cabelos eram possível ver entradas de calvície e ele tinha os olhos amendoados lembrando muito feições indígenas, ele provavelmente deveria ter algum sangue indígena mesmo com o sobrenome italiano. Ele tinha uma barba de lixa que era mais proeminente em seu bigode e queixo, formando a sombra do que deveria ser um cavanhaque quando a barba estava cheia. O seu braço esquerdo era fechado de tatuagens com referências cristãs como cruzes e eu vi o que parecia um cavaleiro com uma espada e um escudo.

-Não é isso que eu quero dizer. - eu respondi.

Sérgio me olhou com uma expressão zangada e eu tentei me explicar.

-Eu quero dizer é quem poderia ter feito este trabalho. - eu disse apontando para o boneco. - Isto é trabalho refinado e deve ter sido feito por um feiticeiro muito experiente.

David ainda estava observando o boneco e o remexendo com sua faca, ele observava também o pedaço de osso dentro do saco e cerrava seus olhos.

-Esse osso não é humano...e isso aqui nessa terra é sangue mesmo. - David disse.

-Não é humano? - Sérgio disse.

-Deve ser animal....-David disse.

-David, isso é necromancia. Não tenho dúvidas disso. - eu disse.

Necromancia, um tipo de feitiçaria que é praticada por todas as culturas do mundo, alguns consideram inclusive os rituais antropofágicos dos antigos tupis como um tipo de necromancia. Os indígenas do vale do rio Xingu praticavam um tipo de necromancia em seus rituais Kuarup e os Kagwahiva praticavam um tipo de divinação pedindo orientação aos mortos, os gregos possuíam o "Necromanteion", o Oráculo dos Mortos e por aí vai...

Toda cultura existente no mundo tinha algo relacionado a necromancia, meu avô me ensinou umas poucas coisas sobre necromancia e feitiços relacionados aos mortos mas uma coisa que eu aprendi bem foi que feitiços que envolvem os mortos quase sempre tem desígnios malignos.

Yahto estava olhando para aquele boneco e ele entortou sua cabeça e bufou.

-"O que você está ouvindo?" - eu perguntei em Nheengatu.

-"Tambores" - Yahto respondeu.

Eu estava sentindo algo estranho e de repente eu senti minha cabeça girar e fechei meus olhos, eu tive uma visão de um morro alto e repleto de casas mas que não parecia o morro do Dendê e eu vi uma pessoa correndo como se fosse um animal, correndo com as mãos e os pés no chão e ele devorava uma coisa que parecia um pedaço de carne.