Por mais que eu pensasse naquela cena repetidas vezes, eu ainda não conseguia acreditar. Primeiro eu vejo Kaizer caindo do penhasco e segundos depois Dante se joga também. Eu não fazia ideia do que fazer, e Getúlio parecia estar no mesmo barco. Eu olho para ele com os olhos arregalados e as mãos na cabeça, chocado, e ele me olha de uma forma bem semelhante.
— O que a gente faz?
— Eu não sei... — respondo enquanto tento racionalizar um pouco melhor a situação. Se Dante tinha se jogado atrás de Kaizer, então Noah e Kuta ainda estavam lutando. Se eu não estiver errado, então eu acho que o líder da minha equipe acabou de ir pra vala, então estávamos com um a menos. — Eu vou atrás deles e você fica aqui, pode ser?
— N-não, deixa que eu vou, você protege a bandeira.
Getúlio diz e eu relutantemente concordo, mas fico atento para o que está acontecendo, observando ele correr até o campo de batalha. Nesse momento a caneta no meu bolso se faz presente mais uma vez, sussurrando para que eu a pegue e use, e eu não consigo entender o porquê. Era muita coisa na minha cabeça ao mesmo tempo para eu sequer ter tempo para entender os "sussurros" de uma caneta. O meu amigo estava correndo na minha frente para tentar atacar um cara que carrega um machado gigante nas costas como se não fosse nada. Briar estava por aí e talvez estivesse no meio de uma luta também. Por fim, Alessandra sumiu no início disso e até onde eu saiba, pode ter dado de cara com alguém, e ela com certeza não é de lutar.
O peso de tudo que eu não conseguia fazer aterrissa de vez, me botando um fardo que eu não sei se sou forte o suficiente para aguentar. Eu tinha que proteger todos eles, mas como? Assim que me faço essa pergunta, vejo Getúlio na distância com um barril em mãos, e antes que eu possa me perguntar como e por que ele tinha um barril, ele o arremessa de vez, e tudo que eu vejo é uma das tábuas de madeira voando para longe. Mesmo daqui, consigo ver nos olhos dele o medo que estava sentindo, e isso foi o suficiente para me fazer desistir desse jogo.
Eu não iria priorizar proteger uma bandeira a ajudar o meu colega, com toda certeza. Sem minha mente precisar mandar, meu corpo já estava se movendo até Getúlio, e quando eu menos percebi já havia chegado ao seu lado. O garoto estava com as mãos trêmulas, invocando um barril e arremessando várias vezes na direção de Dante, que caminhava até nós enquanto suavemente usava os machados para destruir os projéteis. Em seu rosto estava um sorriso, mostrando o quão animado ele estava com esse jogo. Confesso que essa visão me deu um pouco de medo, porém creio que qualquer um se aproximando de mim com um machado e um sorriso no rosto me assustaria assim.
A cada passo que ele dava, a caneta parecia ferver mais e mais no meu bolso, e sem que eu percebesse eu já estava com ela em mãos. Meus instintos apitam diversas vezes que era agora ou nunca, e sem entender o motivo eu tiro a tampa da caneta, e o que acontece depois me faz questionar o porquê de eu nunca ter feito isso antes. O objeto em minhas mãos começa a brilhar em dourado e emitir um som como o de engenhocas se movendo, e magicamente — eu digo isso no sentido literal da palavra — toma a forma de uma espada curta de bronze.
Assim que eu faço isso, Getúlio arremessa outro barril e eu vejo aquilo como a oportunidade perfeita para atacar. Dante não iria desviar, e sim quebrar usando o machado, logo ele estaria momentaneamente com a visão bloqueada. Correndo o mais rápido que posso, vejo que acontece exatamente o que previ, e nesse instante eu curvo o meu corpo para o lado e uso a espada como um bastão, atacando no exato momento em que o barril se parte. Dante arregala os olhos naquela fração de segundo que tem visão de mim, e com uma reação absurdamente rápida, ele usa o machado para bloquear o meu golpe.
Felizmente, eu uso força o bastante para arremessá-lo para trás, e ele sai rolando ladeira abaixo até cair ao lado de Kaizer. Visivelmente desorientado, ele olha para os lados e pisca algumas vezes, fazendo força para levantar. Sem perder tempo, eu me preparo para correr e dar mais um ataque, porém ele cai novamente, fraco demais para continuar lutando.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os Heróis do Novo Olimpo: O Filho das Chamas
AdventureNum mundo onde semideuses assumiram o papel de deuses após uma batalha contra Urano, o Novo Olimpo é abalado por um ataque de antigos inimigos. Surgem os filhos da antiga linhagem de heróis para desvendar uma trama sombria, enfrentando desafios e di...