Capítulo XII: Eu conheço o Romário dos cavalos.

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Urgh!

Um barril atrás de mim solta sons de vômito, e eu sinto que entendi para onde o filho de Zeus foi parar. Olha, eu não sou muito de julgar, sabe? Só que eu admito que esperava um pouco mais de um cara que é filho do rei dos deuses. A parada da pedra foi muito legal, eu curti, de verdade! Só que ficar preso em um barril duas vezes seguidas é sacanagem. E olha que ele aparentava ser um cara forte mesmo: altinho, cabelo branco (nevou?), olhos azuis e um jeitão de protagonista de desenho.

Só faltou não fazer palhaçada, tipo ficar preso em um furacão ou dois barris, mas quem não erra, né? Kaizer se aproxima do barril, arranca a tampa e o cheiro que vem logo depois é aterrorizante. Uva estragada, não, vinho estragado. Eu nem sabia que vinho estragava, mas agora que sei eu não quero ter que sentir esse cheiro nunca mais. É, Lucian, ainda bem que eu não sou você, amigão.

— Aí, pessoal, eu acho que eu tenho que ir tomar um banho.

Ele diz enquanto sai do barril e põe a mão na frente da boca, segurando o vômito diversas vezes. Saindo do pavilhão em passos rápidos, Lucian vai em direção ao lago enquanto se esforça para arrancar a sua camisa encharcada. Confesso que passou na minha mente a ideia de esconder as roupas dele, porém eu precisava evitar comprar briga tão cedo. Me dá um mês ou outro, e depois é disso pra pior. Enquanto isso, eu volto ao que estava fazendo, pegando um pedaço de picanha da minha bandeja de comida mágica e me direcionando a lareira.

Essa é a hora que eu me confesso para você, leitor, e para os deuses também. Eu não faço xixi faz muito, muito tempo, acho que a última vez foi ontem de noite antes de dormir (como todo homem deve fazer). Então assim que chegamos no acampamento, tivemos toda aquela explicação, uma luta e coisa e tal, eu admito que a minha bexiga estava no ponto de explodir, e eu não aguentei. Enquanto estávamos passando pelas cabanas depois de encontrar o Lucian, eu aproveitei que estavam distraídos com o tornado do Tristan e corri até uma das cabanas, e eu me aliviei lá mesmo.

Eu sei, eu sei, não é uma boa ideia mijar na cabana de um deus. Além desse peso na minha consciência, eu percebi tarde demais que aquela era a cabana de Ártemis: a mãe da Alessandra e a diretora do orfanato que fiquei por vários meses. Então esse pedaço suculento de picanha que eu ofereço a ela é em pedido de desculpas, seria maneiro da parte dela se eu não fosse perfurado por uma flecha prateada divina nos próximos dias. Desculpa, mãe da Alessandra, prometo que não faço mais isso.

Como se uma resposta — ambígua, já que eu não sei se é positiva ou negativa — consigo ouvir lobos uivando na floresta. Lembrete importante: não ir pra floresta. Depois de comer o mais rápido que posso, a decisão mais inteligente que consigo pensar é buscar refúgio na minha própria cabana, a de Poseidon. Corro até lá com a desculpa de que preciso descansar (o que não era mentira), e quando chego, percebo que era um lugar até que bonito. O teto era relativamente baixo, mas a estrutura era longa, e todas as janelas no final da cabana apontavam para o lago.

As paredes de fora eram feitas de uma pedra cinzenta e polida, adornadas de pedaços de corais e conchas, como se fosse um aquário. O interior também era bem decorado. Seis beliches, uma boa quantidade de pedras brilhantes que iluminam o local com uma luz suave e aconchegante, além de várias figuras de animais estranhos pendurados no teto. Parecia um cavalo, só que com cauda de peixe. Um cavaleixe. Tenho a impressão que esse não era o nome verdadeiro, mas vai dar pro gasto. As janelas estavam decoradas com plantas que eu só encontro no mar, e eu não faço ideia de como elas estão vivas ao ar livre.

Por fim, em uma das paredes tinha um chifre pendurado. Era parecido com o chifre de um touro, só que duas vezes maior e mais grosso. Talvez alguma lembrança de uma caça, se é que o que quer que tenha deixado esse chifre para trás serviria para caçar. Eu me aproximo das janelas com vista ao lago, e vejo Lucian lá embaixo, cantando enquanto toma banho. Isso me lembra que eu estava com uma catinga no mínimo infernal, e eu sou um cara bem cuidado. Gosto de estar cheiroso, então essa situação me incomoda muito. Lembrando que eu não tinha uma muda de roupas, percebi que minha única opção era lavar elas depois, então eu vou até o lago e começo meu banho também.

Os Heróis do Novo Olimpo: O Filho das ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora