Os Heróis do Novo Olimpo: O Filho das Chamas

Capítulo XIV: O caminho guiado pelas cinzas.

Se eu tenho uma certeza nesse mundo, seria a de que todos invejam o sucesso do próximo. Você poderia até receber um "boa!" ou um "mandou muito!", mas no fim, a atenção vai sempre para o chorão ao seu lado. Acorda, Lucian, ninguém liga que você tomou um sarrafo do Dante, cara. Ninguém me viu reclamando depois que eu errei um golpe em um cego e logo depois fui empurrado de um penhasco, viu? Não, e olha que eu queria muito reclamar disso! Felizmente para eles, eu sou um cara do tipo "copo meio cheio", então eu prefiro focar nas coisas boas, como:

Eu venci uma batalha (foi contra o Getúlio, mas não importa, ele é um semideus como todos nós (haha)).

Eu impressionei o meu (futuro) sogro.

Eu impressionei a minha (futura) namorada (não tenho certeza sobre isso, ela não parecia estar prestando muita atenção, deve estar se fazendo de difícil).

Então, considerando tudo, eu diria que até agora esse vem sendo um dia bem lucrativo. É até estranho pensar que eu tenho comida boa garantida assim que sair, e uma cama — de verdade, não um monte de papelões — para dormir. Isso é vida de rei, mesmo que ainda tenha alguns problemas. Nem tudo é perfeito, e até onde eu sei, esse acampamento ainda era coisa de gente maluca. No meu caso, o plano era aproveitar as regalias até as coisas sujarem para o meu lado, o que não acho que aconteceria tão cedo.

— Aí, Luke, que tal apontar essa raiva para o lado certo? — Ouço Tristan novamente tentando reconfortar o sobrinho, porém alguma coisa no tom de voz dele faz um arrepio subir pela minha espinha. Péssimo presságio. — Deu a hora de vocês irem até a casa grande, carinha, tem uma missão esperando vocês.

Nota mental: nunca mais tomar nada como garantido, Kuta, nunca mais. Eu não sei do que se trata uma missão, muito menos o que nós faríamos em uma. Poderia ser algo tão simples quanto ir até a floresta e catar meia dúzia de morangos, não importa, é exploração, e eu conheço os meus direitos.

— Isso é trabalho infantil.

Eu reclamo, e Tristan olha para mim.

— Falando em trabalho infantil... — ele coça o queixo e olha para os lados. A sala estava uma bagunça, incluindo um monte de caco de vidros no chão. — Você podia varrer o chão aqui, não acha? A Alessa sempre disse que gostava muito de quem varre bem.

— Tô dentro!

A minha voz age mais rápido do que a minha mente. E mesmo se não agisse, eu concordaria. Comida grátis, uma cama confortável, nada mais justo do que eu ter que trabalhar para merecer isso, não acham? O que é uma varrida de chão ou uma missãozinha? Isso é besteira, eu fazia coisa bem pior nas ruas. Não vou elaborar.

— Pode deixar que de noite eu tô por aqui, senhor Tristan! — uma parte minha implora para que eu preste continência como um soldado. Eu me controlo. — Só pra saber, quem vai passar a missão?

— Ah... eu acho que o Dionísio e o Quíron.

— Sei não, esse senhor D... — reviro os olhos com a ideia de ter que lidar com aquele deus bêbado novamente, e logo depois me vem uma ideia. Não era o Tristan que estava quase entrando em uma briga séria com ele? Pelo menos foi o que me contaram. — Você não é muito fã dele, né?

— Esse-... — Tristan começa a falar assim que eu termino, e eu vejo a expressão dele saindo de calma para raiva para realização para calma novamente em menos de um segundo. O que quer que ele iria falar, parecia ser algo que até ele se arrependeria. — É, a gente não se dá muito bem.

— Perfeito! Então se por acaso eu fizesse uma... necessidade... na porta do escritório dele, o que você acharia disso?

Não sei de onde Tristan vem, muito menos quais são os valores dele. De onde eu venho? Bem, digamos que defecar na porta dos outros é o maior indicativo de "eu te odeio" que existe. Eu e Tristan, juntos pelo nosso ódio comum ao Dionísio? O Alemão já me disse algumas vezes que conquistar o sogro era meio caminho andado para um relacionamento tranquilo com uma mulher, e eu gosto muito de coisas tranquilas. Bem, eu achei que já estava tudo garantido, até que ele se aproxima de mim sério e põe as mãos em meus ombros.