Capítulo XIII: Eu tento lutar (e falho miseravelmente).

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Vai soar como uma surpresa, mas: está tudo horrível. Em um dia tão complicado, eu sinto que ter sido perseguido por um dragão foi o menor dos meus problemas. Na minha estreia nesse acampamento, eu apanhei muito. Por alguma razão, o anel da minha mãe invoca barris. Claro, barris não eram as armas mais perigosas do mundo, porém serviriam. Quão difícil é acertar um barril em uma pessoa? Pelo visto, muito, já que eu não acertei nenhum. Até agora me lembro do olhar de Dante enquanto ele se aproximava de mim, erguendo o machado e pronto para me cortar.

Logo depois o meu pai tentou matar uma menina. Mesmo eu entendendo o porquê, ainda era errado. Ela não tinha culpa pelo que houve comigo, a culpa disso era dos deuses. Todos eles. Enquanto eu tento distrair a minha mente desses pensamentos horríveis, aproveito a comida mágica do pavilhão para devorar dois cachorros-quentes, do jeito que vendiam na esquina ao lado do orfanato. Era bom, saboroso, e só isso. Não era nada do tipo "me traz boas memórias", já que eu não tenho boas memórias. Não tinha antes, não vou ter agora.

Enquanto mastigo lentamente, ouço passos se aproximando, e quando menos percebo, Kuta se senta ao meu lado. A expressão dele era complicada, no mínimo. Ele encara o horizonte em silêncio, parando apenas para comer um cachorro quente. Que coincidência.

— Ah, cachorro quente também?

— Hm? É, pedi. — ele demora um pouco para processar a minha pergunta. — É a minha comida favorita.

— Olha, eu acabei pegando dois, se você quiser...

Eu divido o segundo cachorro quente ao meio e entrego para ele. Kuta aceita, porém parece ficar desconcertado.

— Se você quiser um pedaço do meu também. Eu pedi do jeito que a minha vó fazia, é muito bom.

— Não, não! Eu te dou metade do meu e aí fica um e meio para cada um.

Mesmo que eu insista, ele ainda me entrega metade da comida dele.

— Você não vai se arrepender.

Ele diz enquanto põe o cachorro quente no meu prato e abre um sorriso confiante. Ele parecia certo de que aquela era a melhor comida do mundo, e eu admito que fico curioso para saber se ele estava certo ou não. Enquanto comemos juntos, acabo me lembrando de um detalhe importante que percebi enquanto caminhava pelo pavilhão.

— Ei, eu percebi que não vi uma mesa no refeitório com o símbolo que apareceu em cima da sua cabeça.

— É, ele não é bem visto por aqui, cheinho. — ele diz e logo depois percebe a expressão que eu faço. — Eu posso te chamar de cheinho, né?

— Ah... ok? Pode, se você preferir. — aceito, mesmo sabendo que não era o meu apelido favorito. — Onde que você esteve? Você sumiu depois do caça-bandeiras, achei que tinha fugido.

— Não, eu só... — Kuta mais uma vez encara o horizonte como se estivesse procurando alguma coisa, ou apenas pensando. — Só fui tirar uma água do joelho.

Eu decidi não insistir nisso, mesmo sabendo que ele não estava falando toda a verdade. É algo que consigo compreender. Também tenho a minha parcela de segredos, uns por vergonha, outros por preferir não comentar. É assustadoramente fácil fazer uma pessoa olhar para você com pena apenas por contar um detalhe de sua vida. Bem, pelo menos para mim era assim, não sei se com o resto do pessoal é a mesma coisa.

Voltamos para o pavilhão depois de um tempo. Todos — exceto os que jogaram o caça-bandeiras — estavam encarando Kuta assim que ele passava. Todas aquelas expressões eram familiares para mim, eu costumava ser o alvo delas. Agora eu parecia ser invisível, mas mesmo estando aliviado por isso não desejava aquilo para Kuta. Ele era bom, não merece isso. Nós continuamos enquanto ele finge não perceber os olhares.

Os Heróis do Novo Olimpo: O Filho das ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora