Os Heróis do Novo Olimpo: O Filho das Chamas

Capítulo XVIII: Devia ter sido eu.

Ainda não parecia real.

Eu pisco meus olhos, tudo parece lento, meu corpo está frio, minhas mãos trêmulas demais para sequer me manter apoiado na parede, restando apenas a opção de me manter jogado nela. Eu finalmente me lembro de respirar, e só então percebi que não fazia isso faz mais de um minuto inteiro. A escuridão no canto de meus olhos se afasta, o mundo parece ser um pouco mais real. Ainda assim, não o suficiente. Minha cabeça se recusava a processar os últimos minutos. Minutos? Horas? Eu não fazia ideia, nem mesmo o tempo nesse lugar passava na mesma velocidade. Tudo está errado. Esse lugar maldito está errado. Eu estou errado.

E por causa dos meus erros, Lucian está morto.

Em minha frente, Alexandre e Noah se abraçam enquanto choram. Os dois estavam sangrando, cheios de hematomas e visivelmente cansados. Eles lutaram até o último segundo, e teriam lutado mais se Lucian não tivesse se sacrificado. Já eu? Intacto, sem nenhum arranhão, com energia para mais dez lutas parecidas com esta. Tudo que eu tentei fazer deu errado, e ainda assim eles dois estavam se cobrando.

— Que merda, Noah... — Alexandre grita, chorando descontroladamente. — É culpa nossa, cara, a gente não conseguiu ajudar ele.

Essa frase é minha, Alex. Eu penso, incrédulo que eles genuinamente acreditam ter uma parcela de culpa nessa situação. Alexandre quase morreu duas vezes, Noah nos deu várias brechas para atacar, e mesmo estando fraco, ainda assim estava na linha de frente. Nenhum deles sequer mencionou meu nome entre seus lamentos. Eles não me culpavam, como?

— Por que logo ele? — eu questiono, sussurrando mais do que falando, porém alto o suficiente para meus companheiros me escutarem, atraindo sua atenção até mim. As palavras não pareciam querer sair, eu estava sendo sufocado pela minha própria vergonha. — Se eu fosse mais forte... droga, eu não fiz nada! Eu não consegui ajudar vocês, eu devia ter ficado pra trás, que mer-

Antes que eu pudesse terminar a minha frase, ouço passos se aproximando de mim, seguido de um impacto na lateral do meu rosto. Um poderoso tapa me atinge, esquentando a minha bochecha e latejando ao ponto de ter parecido mais um soco. Com seus olhos fechados e chorosos, Noah estava com seu rosto virado para mim, suas mãos estavam tão trêmulas quanto as minhas, e sua expressão revelava sua dor.

— Não fala isso.

Ele diz, sério, embora traindo a tristeza que estava preenchendo seu coração. Eu conseguia entender. Depois de perder um amigo, a última coisa que se quer ouvir é outro amigo seu dizendo que ele deveria ter morrido. Não, ninguém deveria ter morrido. Nem eu, nem o Lucian. Mesmo que eu continuasse acreditando que meu sacrifício teria atrapalhado menos o grupo, eu não ousei abrir a minha boca. Nenhum de nós precisava escutar aquilo, não adiantaria de nada. Além de um fracasso, eu me senti um idiota egoista. Eu conheço esse grupo faz menos de uma semana, e já conhecia eles bem o suficiente para entender que eles eram bons de verdade.

Claro, todos eles faziam piadas comigo, porém eu não era especial por isso. A diferença entre eles e pessoas como o Jason — fora o fato de que este último era um monstro devorador de homens — é a pureza. Nenhuma de suas piadas continham maldade por trás, não eram contadas com o intuito de machucar alguém. Depois de tantas horas nesse labirinto, minha mente já havia divagado dezenas de vezes, ousando pensar no futuro. Todos os meus pensamentos envolviam eles ao meu lado, como meus amigos, meus companheiros de guerra. Eles eram semideuses assim como eu, me aceitavam, gostavam de mim — ou pelo menos eu acredito que sim.

E agora um deles havia morrido. A realidade me atingiu como um grande soco na cara: esse é o mundo de um semideus. Não importa que somos apenas crianças, assustadas e tentando provar nossa força para nossos pais, o mundo não é justo, não existe aviso ou escolha nessas situações. Um dia você luta, outro dia você morre, frequentemente um seguido do outro. As palavras recusaram se encaixar, era como se a frase não fizesse sentido.