Flávia acordou naquela manhã sentindo algo diferente no ar. Talvez fosse o fato de estar de folga, ou talvez fosse o silêncio da casa, quebrado apenas pelo som distante dos passarinhos. Ela se espreguiçou na cama, sentindo os músculos ainda tensos do treino exaustivo do dia anterior, mas a mente já estava a mil.
Os últimos meses tinham sido intensos, tanto física quanto emocionalmente. Entre treinos, competições e o envolvimento com Júlia, Flávia mal teve tempo para respirar, muito menos para parar e refletir sobre o que realmente estava acontecendo em sua vida. Mas naquele dia, sem a pressão do ginásio ou da equipe, ela decidiu que era hora de enfrentar seus sentimentos de frente.
Enquanto preparava uma xícara de café na cozinha, seus pensamentos vagaram para Pedro. Ele havia sido uma presença constante em sua vida por tanto tempo; um amigo que ela sempre pôde contar, um confidente. O tempo que passaram afastados desde a discussão parecia interminável, e embora ela sentisse falta da amizade que tinham, Flávia percebeu que algo havia mudado em como ela o via.
Ela se lembrava das palavras de Lorraine, da conversa franca que tiveram no ginásio. Lorraine havia perguntado sobre o que Flávia queria de verdade, e agora, sozinha em sua cozinha, Flávia sabia que precisava responder essa pergunta com honestidade.
Sentou-se à mesa, segurando a caneca quente entre as mãos, e deixou que as memórias dos últimos meses invadissem sua mente. Primeiro, pensou em Pedro. A amizade deles sempre foi fácil, confortável, mas nos últimos tempos, ela havia começado a confundir essa proximidade com algo mais. Será que era mesmo amor? Ou era apenas a ideia de que Pedro poderia ser um parceiro estável, alguém em quem ela poderia confiar em meio ao caos de sua vida?
Flávia bebeu um gole do café e, pela primeira vez, permitiu-se admitir o que já sabia há algum tempo, mas tinha medo de encarar: ela gostava de Pedro, sim, mas não do jeito que achava. Ele era um amigo, um bom amigo, mas nada além disso. Talvez a pressão, a confusão emocional, e até a expectativa dos outros a tenham levado a questionar seus sentimentos, mas agora, em paz consigo mesma, Flávia sabia que seu coração não pertencia a Pedro desse jeito.
Seu pensamento então vagou para Júlia. Ao contrário de Pedro, o relacionamento com Júlia sempre foi complexo, cheio de nuances. As provocações, os beijos roubados, o desejo crescente que estava cada vez mais difícil de esconder. Com Júlia, não era apenas amizade. Era algo mais profundo, mais intenso, algo que fazia seu coração bater mais forte e seu corpo vibrar de antecipação.
Flávia não podia mais negar o que estava sentindo. A verdade era que ela estava apaixonada por Júlia. Não era apenas uma atração passageira ou uma fase de confusão. Não, era real, e era forte. Júlia fazia seu mundo girar de um jeito que ninguém mais conseguia, e por mais assustador que fosse admitir isso, era algo que Flávia não podia mais ignorar.
Ela sabia que precisava conversar com Júlia, esclarecer o que estava sentindo e, principalmente, discutir como elas iriam lidar com isso daqui para frente. A equipe, os amigos, a carreira – tudo estava em jogo, mas Flávia estava decidida a enfrentar qualquer coisa para que pudessem viver essa paixão de maneira genuína e sem arrependimentos.
Pegou o celular e mandou uma mensagem para Júlia, pedindo para encontrá-la. Não demorou muito para que Júlia respondesse, sugerindo um encontro em um café próximo ao ginásio. Flávia aceitou, sentindo uma mistura de nervosismo e alívio. A conversa que viria a seguir seria crucial, mas também sabia que era necessária.
Pouco tempo depois, Flávia chegou ao café, seu coração acelerado, mas sua mente surpreendentemente calma. Júlia já estava lá, sentada em uma mesa no canto, sorrindo levemente ao vê-la entrar. Flávia se aproximou, e as duas se cumprimentaram com um abraço que carregava uma tensão subjacente, como se ambas soubessem que aquela conversa iria definir o rumo de tudo.
— Obrigada por vir, Júlia — disse Flávia, enquanto se sentava em frente à amiga.
— Claro, Flávia. Eu estava curiosa para saber sobre o que queria falar — respondeu Júlia, sua voz suave, mas com um toque de ansiedade.
Flávia respirou fundo, sentindo o peso das palavras que precisava dizer.
— Júlia, esses últimos meses têm sido uma montanha-russa para mim. Com tudo o que aconteceu entre nós, eu me peguei confusa, tentando entender o que eu realmente sinto. Mas agora, eu acho que finalmente consegui clarear minha mente.
Júlia olhou para ela com atenção, seu olhar intenso fixo no de Flávia.
— E o que você descobriu? — Júlia perguntou, sua voz baixa, quase um sussurro.
Flávia segurou as mãos de Júlia sobre a mesa, sentindo a familiaridade e a conexão entre elas.
— Descobri que o que sinto por Pedro é diferente do que eu pensava. Ele é meu amigo, e eu me importo muito com ele, mas percebi que meus sentimentos por ele são apenas de amizade. Não é amor romântico, não do jeito que achei que poderia ser.
Júlia pareceu aliviada ao ouvir aquelas palavras, mas ainda havia uma incerteza em seus olhos.
— E quanto a nós, Flávia? — perguntou Júlia, apertando levemente as mãos da amiga. — O que você sente por mim?
Flávia olhou profundamente nos olhos de Júlia, sentindo uma onda de emoção que quase a fez perder as palavras. Mas não podia voltar atrás agora.
— Júlia, o que sinto por você é... é real, é forte. É algo que eu nunca senti por ninguém antes. Não é apenas amizade, e acho que você sabe disso tanto quanto eu. Eu gosto de você, de verdade. E eu quero que a gente entenda o que isso significa para nós duas.
Júlia sorriu, seus olhos brilhando com uma mistura de felicidade e alívio.
— Eu também sinto o mesmo, Flávia. Já faz um tempo que sinto isso, mas eu estava com medo de estragar tudo, de que não fosse recíproco. Mas agora... agora, sabendo que você sente o mesmo, eu só quero que a gente descubra isso juntas.
Flávia assentiu, sentindo uma paz interna ao ouvir aquelas palavras.
— Então vamos fazer isso — disse Flávia, com determinação. — Vamos viver isso, mas de uma forma que não comprometa nossas carreiras, nosso time. Precisamos ser discretas, pelo menos por enquanto, até entendermos como isso vai funcionar para nós.
Júlia concordou, ainda sorrindo.
— Concordo. A última coisa que quero é causar problemas para nós duas, ou para a equipe. Mas não quero mais fingir que não sinto nada, ou que isso não é importante.
— Nem eu — respondeu Flávia, sorrindo. — Eu quero viver isso com você, Júlia, mas com cuidado. Vamos ser inteligentes, proteger o que temos, mas sem deixar de lado o que sentimos.
As duas ficaram em silêncio por um momento, aproveitando a intimidade daquele momento. Havia um entendimento mútuo, um acordo tácito de que estavam em sintonia, prontas para enfrentar qualquer desafio juntas.
Depois de um tempo, Flávia se inclinou um pouco para frente e, de forma quase brincalhona, sussurrou:
— Agora que acertamos as coisas, o que acha de aproveitarmos nossa folga juntas?
Júlia riu, balançando a cabeça.
— Eu adoraria. Acho que merecemos um tempo só para nós duas.
As duas se levantaram, deixando o café de mãos dadas, conscientes do futuro incerto, mas seguras de que, independentemente do que acontecesse, estariam juntas para enfrentar tudo.
A caminhada pela rua parecia mais leve, mais livre, como se uma carga tivesse sido tirada de suas costas. O dia de folga que havia começado com tantas incertezas agora se transformava em uma oportunidade para Flávia e Júlia começarem um novo capítulo, com sentimentos esclarecidos e intenções alinhadas.
Flávia sabia que a jornada seria longa e, em alguns momentos, difícil. Mas ao lado de Júlia, ela estava pronta para enfrentar qualquer coisa.
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Além da amizade
ФанфикFlávia Saraiva e Júlia Soares têm uma conexão única, construída ao longo de anos de amizade e dedicação à ginástica. Enquanto enfrentam uma temporada decisiva em suas carreiras, elas começam a perceber mudanças sutis na dinâmica entre elas. Pequenos...