Silêncios que Falam

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A vitória no Mundial trouxe uma euforia difícil de descrever. Para Flávia, porém, a glória da conquista dividia espaço com a turbulência de seus sentimentos. A festa de comemoração, embora cheia de alegria, não havia apagado as incertezas que pairavam entre ela, Júlia e Pedro.

Nos dias que se seguiram, a rotina da equipe voltou ao normal, mas o ambiente estava diferente. Não havia mais a tensão da competição, mas algo havia mudado nas dinâmicas pessoais. As ginastas se sentiam mais próximas, mas ao mesmo tempo, os segredos não revelados pareciam pesar mais do que nunca.

Flávia se sentia como se estivesse andando em uma corda bamba. De um lado, a amizade profunda com Júlia, agora mais carregada de significado do que antes. Do outro, a atração inegável por Pedro, que parecia ganhar força a cada dia que passava.

Naquela manhã, o ginásio estava especialmente silencioso. As meninas tinham o dia livre após o treino matinal, e a maioria havia saído para aproveitar o tempo fora. Flávia decidiu ficar para praticar um pouco mais, tentando afastar os pensamentos que a atormentavam.

Enquanto ela se concentrava em uma sequência de movimentos, ouviu passos suaves se aproximando. Virando-se, viu Pedro parado na porta, observando-a com um olhar que misturava curiosidade e algo mais que Flávia não conseguiu decifrar.

— Posso entrar? — perguntou ele, com um sorriso tímido.

Flávia assentiu, sentindo um leve nervosismo ao vê-lo se aproximar. Ele parecia hesitante, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras antes de falar.

— Flávia, eu sei que muita coisa aconteceu recentemente. E acho que é hora de a gente conversar — disse Pedro, a voz baixa e carregada de seriedade.

Flávia parou de se mover e se sentou no chão, sinalizando para que Pedro fizesse o mesmo. A tensão no ar era palpável.

— Eu também acho — respondeu ela, finalmente. — Não podemos continuar fingindo que tudo está normal, porque não está.

Pedro olhou para Flávia, seus olhos refletindo a mesma confusão que ela sentia.

— Eu gosto muito de você, Flávia. Mas percebi que estou entrando em algo que pode complicar muitas coisas, principalmente para você e a Júlia. Eu não quero ser o motivo de problemas entre vocês.

Flávia suspirou, sentindo o peso das palavras de Pedro.

— Você não é o único responsável por isso, Pedro. Eu também estou confusa, tentando entender o que sinto. Mas sei que não posso continuar assim, dividida entre vocês dois.

O silêncio que se seguiu foi carregado de significado. Ambos sabiam que estavam à beira de uma decisão que mudaria a dinâmica entre eles.

— Eu não quero te pressionar a escolher, Flávia — disse Pedro, quebrando o silêncio. — Mas acho que é justo para todos nós que você seja honesta com seus sentimentos. Se for a Júlia quem você ama, eu aceito isso. Mas eu preciso saber, porque não quero ser apenas uma distração.

Flávia sentiu um nó se formar em sua garganta. Ela sabia que Pedro estava certo. Precisava ser honesta consigo mesma e com os outros. Mas como escolher entre duas pessoas que significavam tanto para ela?

— Eu preciso de tempo para pensar, Pedro — disse ela, finalmente. — Isso não é algo que eu possa decidir de uma hora para outra.

Pedro assentiu, compreensivo.

— Eu entendo. E eu estou disposto a esperar, Flávia. Mas, por favor, só me prometa que, quando você souber o que realmente quer, vai me dizer.

Flávia concordou, sentindo uma mistura de alívio e angústia.

Pedro se levantou e ofereceu a mão para ajudá-la a se levantar. Quando Flávia aceitou, sentiu a familiaridade do toque dele, algo que trazia conforto, mas também a lembrança de todas as complicações envolvidas.

— Vamos deixar o futuro decidir — disse Pedro com um sorriso leve, tentando aliviar a tensão.

Flávia sorriu de volta, grata pela compreensão dele, mas sabendo que a decisão que precisaria tomar em breve seria uma das mais difíceis de sua vida.

Depois que Pedro saiu, Flávia ficou sozinha no ginásio por mais um tempo, refletindo sobre a conversa. Ela sabia que teria que confrontar seus sentimentos por Júlia também, mas não sabia se estava pronta para isso.

Mais tarde, quando estava saindo do ginásio, Flávia encontrou Júlia no corredor. Júlia parecia mais leve, como se a vitória no Mundial tivesse tirado um peso de suas costas.

— Ei, estava te procurando — disse Júlia com um sorriso. — Pensei em sair para jantar fora. O que acha?

Flávia hesitou por um segundo, mas decidiu que não podia mais adiar o inevitável. Elas precisavam conversar, e quanto mais cedo fizessem isso, melhor.

— Acho que seria ótimo — respondeu Flávia, tentando manter o tom leve.

Enquanto as duas caminhavam juntas, Flávia sabia que a noite traria mais do que uma simples refeição. Traria também a verdade que ela estava tentando encontrar dentro de si.

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