Sob a Luz das Velas

171 11 0
                                    

Flávia e Júlia caminharam em silêncio até o restaurante que haviam combinado. As últimas semanas haviam sido uma montanha-russa de emoções, e ambas sabiam que esse encontro poderia trazer à tona todas as incertezas que estavam guardando.

O restaurante escolhido era aconchegante, iluminado por velas que proporcionavam uma atmosfera intimista. Era o lugar perfeito para uma conversa séria, onde poderiam falar sem medo de serem interrompidas. Quando entraram, o aroma suave de comida italiana e o som discreto de jazz ao fundo criaram um ambiente quase mágico. Flávia escolheu uma mesa em um canto mais reservado, longe do burburinho de outros clientes.

Sentaram-se frente a frente, e o silêncio que se seguiu foi quase palpável. Flávia mexia no cardápio, mas sua mente estava longe. Ela sabia que precisavam falar, que precisavam esclarecer tudo o que estava se passando entre elas, mas as palavras pareciam fugir.

— Eu estava pensando muito sobre nós — começou Júlia, quebrando o silêncio com uma voz baixa e suave. — Sobre como as coisas ficaram complicadas tão rápido.

Flávia ergueu o olhar, sentindo o peso das palavras de Júlia. Era um alívio que ela tivesse iniciado a conversa, mas também trazia consigo uma nova onda de incerteza.

— Eu também. Sinto que tudo ficou tão confuso, tão rápido. E… eu não sei como lidar com isso — Flávia admitiu, apoiando o cardápio sobre a mesa e finalmente encontrando os olhos de Júlia.

A garçonete se aproximou nesse momento, anotando seus pedidos de maneira quase mecânica, como se fosse um intruso em uma conversa que sabia ser importante. Quando ela se afastou, o silêncio voltou a envolver as duas, mas desta vez parecia menos desconfortável, como se ambas estivessem se preparando para enfrentar o que quer que viesse a seguir.

— A verdade é que… eu não sei o que quero, Flávia — continuou Júlia, sua voz um sussurro confessional. — Mas quando estou com você, sinto algo que não consigo explicar, e isso me assusta.

Flávia respirou fundo, sentindo o peso das próprias incertezas. A atração entre elas havia crescido de maneira inesperada, misturada com o carinho e a amizade que sempre compartilharam. Agora, tudo parecia estar se desenrolando de uma forma que nenhuma delas estava preparada para enfrentar.

— Eu também sinto isso, Júlia — respondeu Flávia, com honestidade. — Quando estou com você, tudo parece… certo, mas ao mesmo tempo, estou tão confusa. Entre você e Pedro, e tudo o que está acontecendo, eu não sei para onde ir.

Júlia assentiu, e por um momento, o silêncio voltou, mais pesado, mais cheio de significados. Flávia olhou para as velas na mesa, as chamas dançando suavemente, refletindo o turbilhão de sentimentos dentro dela.

Quando Júlia estendeu a mão e tocou a dela, Flávia sentiu um calor reconfortante. Seus olhos se encontraram novamente, e por um instante, o mundo pareceu parar. Havia uma conexão ali, algo tão profundo e inegável que as palavras eram desnecessárias.

Sem pensar, Flávia se inclinou um pouco para frente, o olhar fixo nos lábios de Júlia. Sentiu-se atraída, como se uma força invisível as estivesse unindo, encurtando a distância entre elas. Júlia não recuou. Pelo contrário, ela também se inclinou, os olhos de ambas revelando o mesmo desejo hesitante, a mesma mistura de medo e esperança.

Estavam tão próximas que Flávia podia sentir o calor do rosto de Júlia, podia ouvir sua respiração suave. Seus lábios estavam prestes a se tocar, e o coração de Flávia batia tão rápido que ela mal conseguia ouvir outra coisa. Era como se tudo ao redor tivesse desaparecido, deixando apenas as duas e aquele momento.

Mas antes que pudessem se beijar, foram interrompidas de repente.

— Júlia? Flávia? O que fazem aqui? — A voz de Pedro soou alta e inesperada, rompendo a bolha de intimidade que haviam criado.

Flávia se afastou rapidamente, a magia do momento quebrada. Júlia também se endireitou na cadeira, surpresa pela interrupção. Pedro se aproximou da mesa, sem perceber a intensidade do que havia acabado de acontecer.

— Pedro, o que você está fazendo aqui? — perguntou Júlia, tentando parecer despreocupada, mas Flávia pôde ver que ela ainda estava abalada.

— Eu estava passando por aqui e vi vocês. Decidi vir cumprimentar — respondeu ele, sorrindo de maneira despreocupada, mas Flávia notou um lampejo de curiosidade em seus olhos.

— Estamos só jantando e colocando o papo em dia — disse Flávia, esforçando-se para manter o tom casual, embora ainda sentisse o impacto do que quase aconteceu.

Pedro puxou uma cadeira e se sentou com elas, alheio ao clima estranho que havia se instalado. Ele começou a falar sobre os próximos treinos e sobre a pressão que todos estavam sentindo, mas Flávia e Júlia mal conseguiram acompanhar. Seus pensamentos estavam presos no que poderia ter sido, no quase beijo que agora pairava entre elas como uma sombra de algo que talvez precisassem enfrentar mais cedo ou mais tarde.

Enquanto Pedro continuava a conversar, Flávia lançou um olhar furtivo para Júlia, que pareceu devolver o olhar com a mesma intensidade de sentimentos não ditos. Sabiam que algo havia mudado entre elas, algo que precisaria ser enfrentado em outro momento, longe das interrupções e incertezas que marcavam aquela noite.

O jantar continuou, mas para Flávia e Júlia, o que havia acontecido — ou o que não havia acontecido — entre elas seria o que permaneceria em suas mentes muito tempo depois que as velas se apagassem.

Além da amizade Onde histórias criam vida. Descubra agora