Tensões no Ar

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As luzes fluorescentes da academia piscavam suavemente enquanto Flávia entrava para mais um dia de treino. O ar estava carregado de energia, um reflexo da tensão que parecia crescer entre os membros da equipe à medida que o Mundial se aproximava. Flávia sentiu um frio na barriga, não só pela expectativa das competições, mas também pela presença de novos sentimentos que a rondavam.

Os primeiros minutos do treino foram focados no aquecimento. Chico observava tudo com um olhar crítico, sempre em busca de formas de melhorar a performance de cada ginasta. Flávia tentava se concentrar, mas sua mente vagava. Ela não conseguia deixar de pensar em Júlia, que ultimamente estava mais distante. Além disso, Pedro estava cada vez mais presente em seus pensamentos.

Ela se aproximou de Júlia, que estava alongando no canto da academia. Havia uma distância sutil entre elas, algo que Flávia não estava acostumada a sentir. A amizade das duas sempre fora fácil, natural, mas agora havia uma barreira invisível que as separava.

— Ei, como você está? — perguntou Flávia, tentando quebrar o gelo.

Júlia deu um sorriso que não alcançou os olhos. — Estou bem. E você?

— Também… — Flávia hesitou. Ela queria perguntar diretamente o que estava acontecendo, mas tinha medo de piorar a situação. — Só estou um pouco nervosa com o Mundial, acho.

— É normal — respondeu Júlia, voltando sua atenção para o alongamento. — Mas estamos todas no mesmo barco.

A conversa murchou ali, sem que Flávia conseguisse descobrir o que estava realmente acontecendo. Algo tinha mudado, e ela sabia que parte disso estava relacionada à chegada de Pedro. Ele havia se aproximado delas de forma quase casual, mas sua presença parecia perturbar o equilíbrio que as meninas tinham.

Durante o treino, Flávia sentiu o olhar de Pedro sobre si várias vezes. Ele era carismático e estava se integrando bem ao grupo, mas havia algo na maneira como ele a olhava que a deixava inquieta. No entanto, ela não sabia ao certo se essa inquietação era boa ou ruim. Pedro se aproximava sempre com um sorriso fácil e uma palavra de encorajamento, o que a fazia se sentir bem-vinda, mas ao mesmo tempo, acentuava a distância entre ela e Júlia.

Naquela manhã, Chico decidiu focar em rotinas combinadas, forçando as ginastas a trabalharem em duplas para aperfeiçoar a sincronização. Flávia estava pronta para trabalhar com Júlia, como sempre faziam, mas Chico as dividiu, emparelhando Flávia com Rebeca e Júlia com Lorraine.

Enquanto treinava com Rebeca, Flávia percebeu que a parceira estava descontraída, concentrada em melhorar cada movimento. Rebeca tinha um espírito competitivo saudável, que Flávia admirava. As duas trabalharam bem juntas, mas a mente de Flávia não estava totalmente ali. Ela frequentemente olhava para Júlia, que treinava em silêncio com Lorraine. A mudança de parceiras parecia ter sido apenas uma decisão técnica, mas a percepção de Flávia era que aquilo contribuía para aumentar a distância entre elas.

Após o treino, Chico reuniu todos no centro da academia.

— Estamos a apenas algumas semanas do Mundial — disse ele, sua voz grave. — E todos vocês têm se esforçado, mas preciso de mais. Precisamos afinar a técnica, e, acima de tudo, precisamos trabalhar como uma equipe. Este não é o momento para individualismos ou distrações.

Flávia sentiu o peso das palavras de Chico. Ele sempre foi direto e exigente, mas também justo. Ela sabia que ele tinha razão. Para vencer, todos precisariam estar no mesmo ritmo, física e emocionalmente.

Quando o treino terminou, Flávia decidiu que não podia mais ignorar o que estava acontecendo entre ela e Júlia. A tarde estava quente, e o sol brilhava intensamente enquanto elas saíam da academia.

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