O Peso das Decisões

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O sol ainda não havia nascido quando Flávia chegou ao ginásio na manhã seguinte. Ela estava determinada a começar o dia cedo, tanto para evitar os olhares questionadores de seus colegas quanto para colocar em prática algumas das correções que Chico havia sugerido no treino anterior. A solidão do ginásio vazio era um alívio bem-vindo, um momento raro de tranquilidade onde ela podia se concentrar inteiramente em si mesma.

Flávia começou seu aquecimento com movimentos lentos e deliberados, sentindo cada músculo alongar e contrair, como se estivesse se reconectando com seu corpo. O silêncio era quebrado apenas pelo som suave de sua respiração e o rangido ocasional do piso de madeira. Ela se permitiu esquecer, ainda que brevemente, as tensões que pairavam sobre a equipe, as confusões emocionais que a assombravam, e o peso das expectativas que ela sentia nas costas.

No entanto, a paz que ela encontrou naquele momento solitário foi curta. Enquanto Flávia estava concentrada em uma sequência de movimentos, a porta do ginásio se abriu silenciosamente, e Júlia entrou, claramente surpresa ao encontrar Flávia ali.

— Não sabia que você já estava aqui — disse Júlia, com um sorriso hesitante, enquanto se aproximava.

Flávia retribuiu o sorriso, tentando esconder o nervosismo que sentia ao estar sozinha com a amiga.

— Eu precisava de um tempo extra para praticar — respondeu Flávia. — Queria trabalhar nas correções que Chico mencionou ontem.

Júlia assentiu, mas havia algo no olhar dela que fez Flávia perceber que talvez essa não fosse a única razão para a presença dela ali tão cedo.

— E você? O que te trouxe aqui tão cedo? — perguntou Flávia, tentando parecer casual.

— A mesma coisa, eu acho — disse Júlia, dando de ombros. — Tenho pensado muito sobre o que o Chico falou, sobre trabalhar em equipe. Sinto que precisamos conversar.

Flávia parou seu aquecimento, sentindo um aperto no peito. Ela sabia que essa conversa era inevitável, mas ainda assim temia o que poderia acontecer a seguir.

— Eu também tenho pensado muito — começou Flávia, buscando as palavras certas. — Sobre nós, sobre a equipe, sobre tudo que está acontecendo…

Júlia se sentou no chão, e Flávia a seguiu, sentando-se ao lado dela. As duas ficaram em silêncio por alguns momentos, apenas absorvendo a presença uma da outra, antes de Júlia finalmente falar.

— Flávia, eu sinto muito por como as coisas ficaram entre nós. Não era minha intenção criar essa distância, mas eu… eu só precisava de tempo para entender o que estava acontecendo comigo.

Flávia olhou para Júlia, surpresa com a honestidade de suas palavras.

— Eu também sinto muito, Júlia. Acho que, em algum momento, deixamos de nos entender como antes, e isso me machuca mais do que qualquer coisa. Você é minha melhor amiga, e eu não quero perder isso.

Júlia respirou fundo, como se estivesse se preparando para dizer algo difícil.

— Eu também não quero perder nossa amizade, Flávia. Mas… eu acho que precisamos ser honestas uma com a outra. Tenho me sentido confusa, não só com tudo que está acontecendo no ginásio, mas também com meus próprios sentimentos. E acho que parte do motivo pelo qual me afastei foi porque eu não sabia como lidar com eles.

Flávia sentiu seu coração acelerar. Ela sabia que essa era a chance de finalmente esclarecer tudo, mas também estava aterrorizada com o que poderia ouvir.

— Júlia, você pode me dizer qualquer coisa — disse Flávia, tentando soar encorajadora, apesar da tensão evidente em sua voz.

— Eu acho… — começou Júlia, hesitando. — Acho que estou começando a me sentir de uma maneira que não consigo mais ignorar. Em relação a você.

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